sábado, 3 de dezembro de 2011


EXEMPLO DE MILÃO


Lisboa – A revista METRO, que circula na grande Lisboa, no seu espaço intitulado "Metrogreen", apresenta matéria muito interessante sobre uma experiência que está sendo tentada em Milão e que, se der certo, poderá espraiar-se por todas as cidades de grande porte.

Trata-se da construção da primeira floresta tropical do mundo, um arranha-céu com árvores em cada andar. O projeto piloto é a nova "Bosco Verticale", com 27 andares, cada um rodeado por uma minifloresta, na verdade, uma grande variedade de árvores e arbustos.

Diz o Stephan Barthel, especialista em serviços de ecossistema urbano no Stockholm Resilience Center, que "paredes vivas e telhados verdes serão construídos por todo o mundo. Temos de levar natureza às cidades. As árvores melhoram a qualidade do ar através da absorção de gases e dióxido de carbono. Diminuirão doenças como a asma, bem como os ruídos e a temperatura. Ao dar frutas, nozes e bagas, ou até plantas medicinais, podem trazer maior segurança alimentar às cidades".

Fazendo o papel do advogado do diabo, Michel Pimbert, do Instituto para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, questiona que "nem todas as árvores e animais podem viver em arranha-céus". De todo modo, a atenção dos arquitetos urbanos se volta fortemente para o "case" milanês.

Muitos concluem que, num vigésimo sétimo andar, as árvores sofrem com o vento, mas que isso não se daria, por exemplo, num quarto andar.

É cada vez maior o número de técnicos que acreditam que as florestas verticais, os jardins e as hortas podem ser o futuro.

Regeneram ambientes que se tornaram vazios de vida e podem curar o abismo entre a cidade e o campo.

A verdade é que mais pessoas vivem nos centros urbanos. E a tentativa do projeto de Milão, que está sendo erigido na zona da Garibaldi Republica, é transformar as selvas de pedras em ambientes saudáveis e agradáveis de viver.

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LESTE EUROPEU

Lisboa – Em determinado momento de sua trajetória, a União Européia abriu suas portas para países do Leste Europeu, que saíam de dolorosas ditaduras ditas comunistas. Tecnologicamente atrasados, ambientalmente deteriorados, receberam fortes investimentos em infraestrutura, em educação, saúde, ciência, laboratórios. E, claro, tinham, na contrapartida, de seguir as linhas macroeconômicas da UE. A aventura comunista custou caro a todos, especialmente àqueles que, como a República Tcheca (antiga Tchecoslováquia), jamais foram "orientais". Sempre foram histórica e culturalmente ocidentais. Depois, na readaptação ao Ocidente, novos transtornos e dificuldades. Para a UE, o conjunto dessas adesões foi vantajoso? Sinceramente, penso que não! E só encontro uma explicação para o gesto: exigência dos Estados Unidos, temeroso talvez de ver esses países, se à deriva, orbitando em torno de quaisquer tendências político-militares que não fossem afins com sua política exterior. Dessa leva do Leste, há quem esteja enfrentando bem a atual e precária conjuntura: a Polônia, por exemplo, com inflação baixa, ao contrário da brasileira, que já beira os 7%, crescerá, neste ano, pouco acima de 4%, diferentemente do Brasil, que se dará por feliz se atingir 3%.



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


SINAL AMARELO


Lisboa – A economia brasileira apresenta dados positivos, como a taxa de desemprego ter caído de 6% em setembro para 5,8% em outubro. Em termos dessazonalizados, foi de 6,2% em setembro para 6,1% em outubro.

Desde meados de 2010, entretanto, o rendimento real vem sofrendo deterioração, registrando queda de 0,6% na média móvel trimestral do índice dessazonalizado. No cotejo com idêntico período do ano passado, a renda real apresentou queda de 0,3%: primeira variação negativa interanual desde janeiro de 2010 (-0,4%). Nessa base de comparação, aliás, praticamente todos os setores recuaram.

O PIB do terceiro semestre variou positivamente perto de zero e não deve ocorrer a aceleração esperada pelo ministro Mantega, porque a crise externa e a valorização do dólar frente ao real tendem a pressionar os preços internos e frear o consumo. Aguardo com preocupação o PIB do quarto trimestre. Infelizmente, o governo, que deveria dedicar atenção máxima a esses graves problemas gasta sua energia com escândalos. Recentemente tivemos mais três casos: compras superfaturadas no Ministério da Defesa, negociata no Ministério das Cidades e novas acusações contra Carlos Lupi.

No plano econômico, tem prevalecido a leviandade, brincadeira com fogo. No esforço para limitar a inflação de 2011 aos 6,5% correspondentes ao elevadíssimo teto da meta, o governo faz contorcionismos: corte na CIDE e postergação do imposto do cigarro. Mesmo assim, considero difícil a inflação não romper o teto. Esses paliativos empurram o problema para 2012.

A produção industrial experimentou forte queda em setembro, na comparação com agosto (-2%), decrescendo 1,6% na comparação de ano contra ano. Isso mostra que a economia brasileira segue sofrendo a concorrência dos produtos importados e desacelerando ao mesmo tempo.

A produção industrial, por sinal, sofreu queda significativa na crise de 2008 e, de lá para cá, não se recuperou. O patamar atual é o mesmo observado antes da crise. A produção industrial apenas recuperou o nível pré-crise.

A inflação, como esperado, recuou levemente. Menos, que o necessário. Na primeira semana de novembro, o IPC-Fipe estampou nova aceleração: alta de 0,53%, quando o mercado previa 0,43%. Seis dos sete grupos que compõem o índice aceleraram no cotejo mensal: alimentação (0,74%) e vestuário (0,56%).

Resultado da inflação elevada são greves pipocando. O poder de compra começa a ser afetado, as pessoas ficam insatisfeitas, os sindicatos buscam reposições mais altas, visando a se defender de uma inflação que acreditam que ainda vai piorar.

O Banco Central faz aposta arriscada, cortando juros sem se respaldar em efetivo ajuste fiscal. Sinaliza que tolerará inflação mais alta, em troca de crescimento um pouco maior. Com a credibilidade abalada pela visível perda de autonomia, a diretoria encabeçada por Tombini, que não é conhecido internacionalmente e nem é forte no PT, parece não perceber que a inflação acima dos 6,5% contrasta com o crescimento previsto pelo mercado para este ano: 3,1% e 3,5% para 2012. Já há bancos prevendo números mais apertados: 2,8% e 3%, respectivamente. Lembrem-se de que Mantega dizia que íamos crescer 5% no presente exercício.

A corrupção toma conta da cena. O mercado começa a temer o eventual envolvimento de algum membro proeminente da equipe econômica em escândalo. Seria abalo bem maior do que os muitos anotados até aqui.

O binômio corrupção-inflação suga a energia do governo e prejudica a sociedade. É de se ligar o sinal amarelo.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A DECADÊNCIA DO SERVIÇO PÚBLICO É PERCEPTÍVEL A OLHOS NUS. NÃO É SÓ A MORAL DO POLÍTICO QUE SE DETERIORA APÓS O AMORALISMO PRATICADO E EXEMPLADO POR LULA. O SEU EXEMPLO DE VULGARIDADE E DESRESPEITO A COISA PÚBLICA SE ESPRAIA E É SEGUIDO PELO SERVIDOR MAIS HUMILDE DE QUALQUER ESCALÃO DO SERVIÇO PÚBLICO. O SERVIDOR PÚBLICO QUE DEVERIA SER O PRINCIPAL GUARDIÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE GESTÃO E DENUNCIADOR DE ATITUDES E AÇÕES DE CORRUPÇÃO, DELETÉRIAS AO PATRIMÔNIO DO POVO, HOJE SE JULGAM COM O DIREITO DE PRATICÁ-LAS, PORQUE TAIS PRÁTICAS, NÃO CONDENADAS PELOS DIRIGENTES MAIORES DA REPÚBLICA, PASSARAM A SER MODELOS A SEREM SEGUIDOS!

O Arthur Neto disse na sua última coluna "De 2003 para cá, praticamente todas as instituições deste país caíram de nível. Lula desmoralizou o Executivo, pelo aparelhamento da máquina pública, pelo loteamento dos Ministérios e diretorias de estatais entre os partidos da base dita aliada. Trucidou o Legislativo, promovendo o escândalo do “mensalão”. Debochou do Judiciário ao longo do processo eleitoral recente, infringindo as leis e pagando multas, às gargalhadas."

Eu, pessoalmente, tenho tido necessidade de frequentar alguns órgãos públicos, Federais, Estaduais e Municipais, por necessidade de regularizar a vida e o pequeno patrimônio de brasileiro que chegou ao status de Terceira Idade.  

O atendimentos da burocracia federal está lamentável. Nem a Receita Federal, que outrora foi exemplar, escapa. A CEF é de se lamentar a queda na qualidade do seu atendimento. O INSS, para conceder uma Certidão de Averbação de Tempo de Serviço, passou 90 dias para o Gerente da Carteira colocar sua ASSINATURA no documento.

No Estado, o Eron fica propagandeando o falso Bacalhau e a SEPROR não atende as mínimas demandas das Prefeituras Municipais. Gasta uma grana em Propaganda com mentiras, com o nosso Interior totalmente abandonado. O Governador Omar tem manifestado, "en petit-comité", insatisfação com o desempenho de alguns órgãos estaduais, e até mesmo de alguns Serviços Autônomos, que patinam, patinam e resultado que é bom para o povo, não aparecem.

Olha, na área Municipal eu não tenho críticas nem elogios falsos! O Manaus Fácil ainda é um bom exemplo de atendimento. A turma da SEMEF é dedicada e apresenta resultado, como são os crescentes aumentos de receitas. O corpo técnico da SEMEF está questionando a implantação do GIS-ONLINE, cujo servidor de guarda de dados e arquivos não está localizado em Manaus. A equipe da SEMEF ainda não domina os conhecimentos sobre os procedimentos utilizados no GIS-ONLINE, o que obriga o contribuinte a fazer consultas a pessoas de fora da SEMEF, a Empresas responsável pelo novo Sistema. 

Na minha Gestão, a Equipe da SEMEF não deixou que eu cometesse esse Equívoco de contratar o GIS-ONLINE, considerando que este Sisema ainda não tinha sido experimentado em nenhum Município de Porte Grande, como Manaus.

COLUNA DO ARTHUR NETO


MEU PAI


Lisboa – O artigo anterior foi sobre o ex-presidente João Goulart, de cujo governo meu pai foi líder, acumulando com a liderança do PTB, partido que fora de Getúlio Vargas e era de Leonel Brizola e do próprio Jango. As lembranças me levam a permanecer ao redor do tema, desta vez centrando no papel que o senador Arthur Virgílio Filho teve nos eventos que, do instável governo de Goulart, culminaram no regime autoritário de 1964.

O ar transmitia a ameaça de golpe desde a posse de Jango que, como vice-presidente, substituíra o renunciante Jânio Quadros. Era a continuação de um esforço que vinha desde o suicídio de Vargas e da eleição e posse de Juscelino Kubitschek.

Vargas seria deposto. Com o suicídio, porém, virou o jogo. Contra a posse de JK, os golpistas argumentaram, pela palavra brilhante de Carlos Lacerda, que o pleito teria de ser anulado, porque o eleito não havia obtido a maioria absoluta dos votos válidos. Ora, não havia segundo turno e as regras constitucionais eram claras: o mais votado deveria ser empossado. Sair disso era desrespeitar a Constituição e assumir o golpismo.

O que não conseguiram em l954 e em l961, lograram realizar em abril de l964. Derrubaram Jango e instalaram regime que, engolindo seus principais líderes civis, a começar por Lacerda, durou 21 longos anos.

Pois meu pai foi um dos principais articuladores da resistência congressual ao veto dos ministros militares à posse de Jango. E, em 1964, quando o poder saiu das mãos de quem fora votado para as mãos de quem detinha armas e força, deixou automaticamente de ser o líder do governo, para se tornar o primeiro líder da oposição ao arbítrio.

Dos 66 membros que compunham a Casa naqueles tempos, quando se deu a eleição indireta que fez de Castelo Branco o primeiro presidente do ciclo dos generais, apenas dois nele não votaram (a votação foi aberta e não secreta): o amazonense Arthur Virgílio Filho e o baiano Josaphat Marinho.

Quando o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, chamou Arthur para orientar sua bancada, ouviu como resposta: “Senhor Presidente, sou um líder sem liderados. Minha bancada aderiu ao regime nascente e eu me mantenho fiel ao presidente João Goulart”.

Tempos após, quando veio o Ato Institucional número II, Arthur resistiu, com os deputados, à invasão da Câmara pelas tropas do general Meira Matos. Esteve com eles, não saiu da tribuna, usando a voz poderosa para defender as prerrogativas de um Legislativo cada vez mais garroteado.

Em 1968, enfrentou da tribuna a ameaça do general-presidente Costa e Silva ao mandato do deputado Marcio Moreira Alves. Finalmente, em sete de fevereiro de 1969, junto com o conterrâneo Bernardo Cabral e o líder do MDB, Mario Covas, teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos.

Anistiado, nunca mais quis voltar à política, embora jamais tenha deixado, mesmo sem mandato, de militar pelas liberdades.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

COLUNA DO ARTHUR NETO


ATÉ O IBGE?


Lisboa – O governo luta, sem muito êxito, para domar uma inflação renitente que ele mesmo despertou, sobretudo com a gastança desenfreada de 2010. Vem agora o IBGE em seu “socorro”, propondo alterações, que valerão já para 2012, nos pesos de itens usados para cálculo do aumento de preços.

Diminui o peso de cigarros, educação e empregados domésticos. Com isso, a inflação “recuará” 0,4%.

Sequer discuto os cigarros. O IBGE afirma que, cada vez mais, menos pessoas estão fumando hoje em dia. Mas não me entra na cabeça que alguém, em sã consciência, me diga que os gastos com educação e assalariados domésticos passaram a pesar menos nos orçamentos das famílias. O cheiro é de manipulação pura e simples.

O governo argumentará que de cinco em cinco anos o IBGE faz uma revisão de métodos, porém essa me parece equivocada (se existe boa fé) ou tendenciosa, se há o ânimo de chegar a números irreais e desonestos. E replicarei que, tendo sempre respeitado essa relevante instituição que é o IBGE, tenho o direito de ficar com a pulga atrás da orelha, sim.

A vizinha Argentina, sob o ponto de vista econômico, em tudo e por tudo mais atrasada que o Brasil, visivelmente adultera os dados de sua inflação. O casal presidencial cometeu a “proeza” de desmoralizar o Instituto de Estatística de lá.

A Venezuela do tiranete Hugo Chávez, faz a mesma coisa, de modo ainda mais ostensivo. E todos sabemos que a inflação galopa em seu sofrido país. Gostaria de poder continuar confiando no IBGE. Seria lastimável se o “argentinizassem”, no intuito de obter vantagens políticas de curto prazo.

De 2003 para cá, praticamente todas as instituições deste país caíram de nível. Lula desmoralizou o Executivo, pelo aparelhamento da máquina pública, pelo loteamento dos Ministérios e diretorias de estatais entre os partidos da base dita aliada. Trucidou o Legislativo, promovendo o escândalo do “mensalão”. Debochou do Judiciário ao longo do processo eleitoral recente, infringindo as leis e pagando multas, às gargalhadas.

No governo Dilma Rousseff, cinco ministros foram demitidos pelo vigor da imprensa, acusados de graves irregularidades. Dois outros balançaram e sobreviveram; refiro-me ao episódio dos “aloprados”. Um, Nelson Jobim, provocou a própria demissão, meio que não agüentando mais fazer parte do gabinete. Finalmente, Carlos Lupi e Mario Negromonte ficarão sangrando até janeiro e sairão na propalada reforma ministerial. Uma verdadeira mazorca.

Será que agora partem para cima até do IBGE, sempre tão respeitável, sempre tão cheio de credibilidade? Porque não enfrentar a inflação ajustando fiscalmente – a sério e não à base da cosmetologia – a economia? Porque a necessidade de mistificar, atitude que é própria de regimes e mentes autoritários e que, portanto, não se coaduna com o Brasil que desejamos cada vez mais democrático e transparente?
Esse episódio precisa ser esclarecido em minúcias, o quanto antes. Se se tratar de manobra desonesta, que os governantes recuem dela. Seria maldade jogar na lama sobre o acúmulo técnico e de respeitabilidade do IBGE.

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FRANÇA

Lisboa – A França é a segunda potência econômica da zona do euro. E, evidentemente, seu prestígio político só fica atrás da Alemanha de Angela Merkell. Fala-se muito por aqui num duunvirato, encabeçado por Merkell e sequenciado por Nicolas Sarkozy. Na verdade, são eles a palavra decisiva em relação aos rumos da crise europeia. Mais ela do que ele, é verdade. Será deles o bônus de levar a empreitada a porto seguro. Será deles a responsabilidade maior por eventual fracasso. Diferentemente da Alemanha, que conta com economia bem redonda e certinha, embora crescendo menos que o desejável, a França possui certas fragilidades fiscais. Ciente disso, seu governo anunciou plano de ajuste preventivo, medida, a meu ver, bastante correta. Em poucas palavras, até a França, que possui situação privilegiada no concerto europeu, precisa adaptar-se a tempos de vacas magras. É questão de bom senso. O mundo, infelizmente, deverá crescer pouco por um bom tempo e isso repercutirá sobre todos os países, a começar pelo Brasil que, em 2012, crescerá menos que a média dos emergentes e menos até que a média mundial.


ALEMANHA

Lisboa – A Alemanha é a principal economia da zona do euro e, igualmente, a que melhor perfil apresenta aos analistas internacionais de Economia. No plano político, a sombra que projeta é de largo alcance. Dela, mais do que da França, dependerá o futuro da União Européia. Há resistências internas a que a chanceler Angela Dorothea Merkell abra os cofres para auxiliar os parceiros encalacrados. Isso poderá, inclusive, custar o futuro político dessa líder. É lance de risco que, a meu ver, deve ser tentado. Se a crise do euro se resolve satisfatoriamente, com marcante presença alemã, Angela Merkell terá conseguido para seu país a prevalência econômica e o comando político sobre esse aglomerado formidável que é a União Européia. Isso, até bem pouco, parecia impensável de ser atingido por uma nação que saiu derrotada da I Grande Guerra (1914/1918) e literalmente arrasada da II Grande Guerra (1939/1945). Hoje, não há decisão mundial em que sua palavra não pese. Mesmo fora da Europa. Essa Alemanha recomposta e renascida precisa agora ser sábia e generosa. Sábia, investindo na unidade da zona do euro. Generosa, porque as verdadeiras lideranças sabem sê-lo no momento certo.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Se a renda per capita brasileira crescer 3% a cada 12 meses, vai levar 35 anos para atingir o ganho de hoje dos italianos. Que tal mirar a renda dos franceses em crise? Com 3% de alta no PIB per capita, o Brasil empata o jogo perto de 2055, com meio século de atraso.

O DRAMA DE CADA UM
Vinícius Mota

SÃO PAULO - A Itália está em crise. O Brasil não. A renda média de um italiano, de US$ 37 mil por ano, é quase três vezes a nossa.

Se a renda per capita brasileira crescer 3% a cada 12 meses, vai levar 35 anos para atingir o ganho de hoje dos italianos. Que tal mirar a renda dos franceses em crise? Com 3% de alta no PIB per capita, o Brasil empata o jogo perto de 2055, com meio século de atraso.

Tais dados relativizam, de um lado, o choro dos europeus por conta da crise e, de outro, os exageros sobre a ascensão do Brasil.

O mundo rico vive uma crise da maturidade. Além das travas conjunturais, como a dívida elevada, a escala a que chegou a economia e a acomodação diante dos benefícios conquistados dificultam a continuidade da evolução.

Quando o PIB da Itália aumenta 1%, coloca em média US$ 370 para cada cidadão na economia. Quando o Brasil cresce 1%, sobram US$ 130 para cada brasileiro.

A cada um o seu drama. Os europeus se digladiam porque lhes restou a opção de diminuir seus benefícios sociais invejáveis, a fim de tornarem-se mais produtivos e competitivos. Os brasileiros deveríamos estar preocupados com o fracasso do país em sustentar taxas de crescimento acima de 5%. 


Rumamos para a armadilha da renda média - o risco de experimentar sintomas e limitações das economias maduras muito antes de ter chegado ao nível de renda e sofisticação industrial das nações desenvolvidas.


Para escapar da maldição, o Brasil precisa, desesperadamente, dar saltos de produtividade, eficiência, inovação e competitividade. A sociedade e, sobretudo, o governo consomem demais.

Expõem-se ao endividamento inconsequente e perigoso, enquanto o triunfo solo das atividades agrárias e extrativistas, incapazes de sustentar sozinhas um país de 190 milhões de habitantes, dá o tom do futuro.

Folha de São Paulo/2811/2011/Editoriais

Falta, portanto, muita coisa para o Brasil ser toda essa cocada preta: educação, saúde, produtividade, inovação, combate à corrupção, distribuição de renda. E, enquanto os brasileiros não pararem de se matar à toa, é melhor deixar o oba-oba para a mídia estrangeira e pensar o estágio e as fraquezas do país com um mínimo de racionalidade.



DEVAGAR COM O ANDOR
Eliane Catanhêde

BRASÍLIA - Pegando carona no texto de Vinicius Mota, ontem, no quadrado aí de cima, vejamos como o pessoal de embaixadas vê os "exageros sobre a ascensão do Brasil". 

Quando viajam aos seus países -europeus, principalmente, mas não só eles-, embaixadores e seus funcionários ficam impressionados com o oba-oba sobre o Brasil de Lula, que, na versão da mídia de lá, acabou com a pobreza, passa ao largo da crise e está se tornando um líder na região, quiçá uma potência no mundo. 

Quando voltam, caem na real. E no real. Nos rapapés de embaixadas e no clube de golfe, os estrangeiros trocam impressões. Acham tudo caríssimo, criticam a infraestrutura, reclamam da burocracia, contam da surpresa dos empresários com a falta de planejamento, comentam o manancial de escândalos. Lá, na Europa, e lá, na Ásia, o Brasil parece uma maravilha. Visto de perto, nem tanto. 

Meu colega Vinicius já comparou bem a situação econômica do Brasil com a da Itália e a da França, países que, com toda a crise europeia, convivem com rendas médias que os brasileiros só terão em décadas - e se tudo der certo. 

Então, vamos buscar um outro indicador de que o Brasil vai bem, sim, obrigada, mas ainda falta muito para ser esse gigante emergente que o mito Lula e a propaganda oficial criaram: a violência. 

Segundo a Secretaria de Violência Armada e Desenvolvimento, de Genebra, um quarto das mortes violentas no mundo é em apenas 14 países, seis deles na América Latina. O Brasil escapa, ufa!, mas é o 18º país mais violento. O México, o 51º.

Falta, portanto, muita coisa para o Brasil ser toda essa cocada preta: educação, saúde, produtividade, inovação, combate à corrupção, distribuição de renda. E, enquanto os brasileiros não pararem de se matar à toa, é melhor deixar o oba-oba para a mídia estrangeira e pensar o estágio e as fraquezas do país com um mínimo de racionalidade.

Folha de São Paulo/29/11/2011/Editoriais

COLUNA DO ARTHUR NETO - ITÁLIA


ITÁLIA


Lisboa – A Itália é a terceira potência econômica da zona do euro e, portanto, sua crise, do ponto de vista da estabilidade regional, é muito mais grave que a da Grécia, por exemplo. Se ela não for resgatada, a União Europeia estará praticamente desfeita, levando de roldão toda a arquitetura político-econômica penosa e pacientemente montada por Helmut Kholl e pelos demais estadistas do seu tempo.

Nesse país, os títulos de 10 anos já correspondem a pesados juros de 7%. O desajuste fiscal é gritante. O baixo crescimento ameaça as soluções visualizadas. O desemprego é elevado. A crise política que culminou com a renúncia de Sílvio Berlusconi da chefia do governo foi fator desestabilizador o tempo todo.

Berlusconi protagonizou uma das páginas mais vergonhosas da política de seu país. Seu comportamento cafajeste tirou-o das páginas sóbrias para os espaços policiais e de intrigas da imprensa mundial.

Figura felliniana, promovia bacanais até com jovens menores de idade, dando, ele próprio, o nome de "bunga-bunga" a tais eventos. Sem compostura, referiu-se grosseiramente à chanceler alemã Ângela Merkell como "aquela gorda incomível", apesar de, dias depois, ter de passar pelo constrangimento de se reunir com ela e demais chefes de governo da zona do, euro, ouvindo mais do que falando e tendo sobretudo de ver e ouvir a incontestável liderança europeia de Merkell.

A solução até poderia sair jogando-se na água Grécia e Portugal, que, juntos, somam menos que 6% do PIB da zona do euro. Mas não pode sair sem o resgate de Itália e Espanha que, no conjunto, atingem quase 30% desse mesmo PIB. Logo, como do ponto de vista político, qualquer país que abandone o euro poderá representar o símbolo da quebra de unidade. O bom senso manda que Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia, a chamada troica, raciocinem economicamente, salvando Itália e Espanha, também politicamente, fazendo o mesmo com a Grécia e com Portugal.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

COLUNA DO ARTUR NETO - TRISTE HERANÇA


TRISTE HERANÇA


Lisboa – Também sob o ponto de vista ambiental as experiências comunistas (ou socialismo real) foram funestas na Rússia, na Europa do Leste e por onde mais tenham passado ditaduras comandadas por burocratas da máquina partidária, impiedosos com as populações transformadas em súditos e incompetentes para obterem equilibrado avanço socioeconômico e tecnológico.

Com a queda do Muro de Berlim, por exemplo, a unificação das duas Alemanhas numa só, a longo prazo, se revelou acertada e a prova disso está na pujante economia dirigida pela Primeira Ministra Ângela Dorothea Merkell. Mas quando o comunismo ruiu e a banda Ocidental assumiu a responsabilidade de praticamente reconstruir o lado Oriental, o inventário só apontava pessoas traumatizadas pela crueldade do velho regime, muito atraso tecnológico, muita pobreza e terrível herança de destruição ambiental.

Foi assim nos países que a Rússia transformou em satélites, reunindo a si mesma e a eles na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Certamente que não haverá de ser bom o quadro na Coréia do Norte e em Cuba.

A formidável China, que de comunista não tem mais nada, também tem sustentado seu forte crescimento a partir de ângulos positivos e negativos. Positivos: investe para valer em Educação, em inovação, em tecnologia; ao contrário do Brasil, monta sua pauta de exportações, cada vez mais, em cima de produtos de expressiva agregação de valor industrial e tecnológico; é pragmática em matéria de política externa e deixa os ideologismos de lado em função de sua própria saúde econômica. Negativos: trata-se de uma ditadura; a maior parte da população ainda está excluída dos progressos obtidos; pratica, nos seus territórios que geram produtos de baixo valor tecnológico, duro dumping social (pagam salário miserável aos trabalhadores para oferecer artigos a baixo preço no mercado internacional) e nunca se preocuparam com não poluir a atmosfera. A China emite mais CO² que todos os países do mundo. Quando se fala em emissão per capita, Os EUA a superam largamente.

Moral da História: o único desenvolvimento econômico que realmente interessa aos seres humanos e ao futuro é o que se preocupa com a sustentabilidade, com o meio ambiente, com um planeta saudável a ser transmitido aos nossos filhos e netos.

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FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL

Lisboa – Fiquei muito feliz com a notícia de que a Fundação Bill Gates colaborará com um milhão de dólares para a Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas intensificar pesquisas sobre o DNA do parasita causador da malária Vivax. Isso se deve à ação competente da presidente Graça Alecrim que, junto com o diretor de Pesquisa da FMT, Marcos Lacerda e toda a equipe do órgão, tem muito que comemorar. Afinal, pode ter sido a abertura para mais contatos internacionais de enorme significação. Sou admirador do trabalho da FMT-AM. Por mil razões. Uma delas me é muito cara. Minha neta Julinha, filha do deputado Arthur Bisneto, foi recentemente atendida lá. Tratamento correto, que a preparou para a fase subsequente e, portanto, para a vitória final. Quanto mais apoio para essa instituição de excelência, melhor! O retorno para o povo amazonense será sempre o melhor possível.

CIGARRAS X FORMIGAS

Lisboa – Tal como em Portugal, onde o Partido Socialista, em oito anos de consulado, agravou brutalmente as dificuldades da economia, também na Espanha a constatação é que a centro-esquerda do Partido Socialista e Operário Espanhol (PSOE) também fez papel de cigarra nos recentes tempos das vacas gordas. E, assim como em Portugal cabe à centro-direita de Pedro Passos Coelho enfrentar uma crise cheia de incertezas, igualmente na Espanha será dessa mesma tendência política, sob a liderança de Mariano Rajoy, buscar, em condições adversas, reparar o estrago que encontrou. Na Espanha, um terço da população está no desemprego. A economia está desajustada fiscalmente. A gestão pública do PSOE foi desastrosa. A dívida está quase inadministrável. Vejo um quadro cinzento. A zona do euro está em meio a dilemas atrozes. O radicalismo republicano nos Estados Unidos tem impedido que o presidente Barack Obama leve a cabo propostas de efetiva austeridade. O Brasil já começa a sentir os efeitos da crise. E depende de que a China não dê um espirro econômico, que poderia virar pneumonia entre nós. A dívida das famílias cresce, a inadimplência também. O investimento é perigosamente baixo. Nunca soube de país que tivesse sustentado o crescimento econômico à base de crédito. O investimento sim é que puxa o carro. Não é hora de triunfalismo, mas de muita atenção à cena internacional.