quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

COLUNA DO ARTHUR NETO


MEU PAI


Lisboa – O artigo anterior foi sobre o ex-presidente João Goulart, de cujo governo meu pai foi líder, acumulando com a liderança do PTB, partido que fora de Getúlio Vargas e era de Leonel Brizola e do próprio Jango. As lembranças me levam a permanecer ao redor do tema, desta vez centrando no papel que o senador Arthur Virgílio Filho teve nos eventos que, do instável governo de Goulart, culminaram no regime autoritário de 1964.

O ar transmitia a ameaça de golpe desde a posse de Jango que, como vice-presidente, substituíra o renunciante Jânio Quadros. Era a continuação de um esforço que vinha desde o suicídio de Vargas e da eleição e posse de Juscelino Kubitschek.

Vargas seria deposto. Com o suicídio, porém, virou o jogo. Contra a posse de JK, os golpistas argumentaram, pela palavra brilhante de Carlos Lacerda, que o pleito teria de ser anulado, porque o eleito não havia obtido a maioria absoluta dos votos válidos. Ora, não havia segundo turno e as regras constitucionais eram claras: o mais votado deveria ser empossado. Sair disso era desrespeitar a Constituição e assumir o golpismo.

O que não conseguiram em l954 e em l961, lograram realizar em abril de l964. Derrubaram Jango e instalaram regime que, engolindo seus principais líderes civis, a começar por Lacerda, durou 21 longos anos.

Pois meu pai foi um dos principais articuladores da resistência congressual ao veto dos ministros militares à posse de Jango. E, em 1964, quando o poder saiu das mãos de quem fora votado para as mãos de quem detinha armas e força, deixou automaticamente de ser o líder do governo, para se tornar o primeiro líder da oposição ao arbítrio.

Dos 66 membros que compunham a Casa naqueles tempos, quando se deu a eleição indireta que fez de Castelo Branco o primeiro presidente do ciclo dos generais, apenas dois nele não votaram (a votação foi aberta e não secreta): o amazonense Arthur Virgílio Filho e o baiano Josaphat Marinho.

Quando o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, chamou Arthur para orientar sua bancada, ouviu como resposta: “Senhor Presidente, sou um líder sem liderados. Minha bancada aderiu ao regime nascente e eu me mantenho fiel ao presidente João Goulart”.

Tempos após, quando veio o Ato Institucional número II, Arthur resistiu, com os deputados, à invasão da Câmara pelas tropas do general Meira Matos. Esteve com eles, não saiu da tribuna, usando a voz poderosa para defender as prerrogativas de um Legislativo cada vez mais garroteado.

Em 1968, enfrentou da tribuna a ameaça do general-presidente Costa e Silva ao mandato do deputado Marcio Moreira Alves. Finalmente, em sete de fevereiro de 1969, junto com o conterrâneo Bernardo Cabral e o líder do MDB, Mario Covas, teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos.

Anistiado, nunca mais quis voltar à política, embora jamais tenha deixado, mesmo sem mandato, de militar pelas liberdades.

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