terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"Como se fosse uma espécie de reencarnação de Karl Marx do século XXI, Lula nada mais fez do que pregar o internacionalismo proletário, fonte maior de inspiração para a Revolução Bolchevique, que derrubou o regime czarista na Rússia, sob o comando de Lênin e Trotsky, no início do século XX".


LULA E O INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO

Por José Fucs
Do Blog do Ricardo Noblat

Depois de a presidente Dilma querer dar lições de economia aos países desenvolvidos, agora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer dar seus pitacos sobre o movimento sindical europeu.

Ainda que a experiência de Lula como sindicalista no Brasil seja respeitável, não deixa de ser uma tremenda pretensão querer dizer aos “companheiros” do Velho Continente, o berço da Revolução Industrial e do sindicalismo, de que forma eles devem agir para melhor desempenhar seu papel na atual crise internacional. Mas foi exatamente isso o que Lula fez durante sua viagem à Europa, na semana passada.

Lula não hesitou em aproveitar um encontro com sindicalistas espanhóis para “botar pilha” no movimento de oposição à política de austeridade adotada pela União Europeia e patrocinada pela chanceler alemã, Angela Merkel.

Segundo José Maria Alvarez, da União Geral de Trabalhadores (UGT) da Espanha, “Lula sugeriu a formação de uma aliança entre sindicatos de toda a Europa, e mesmo uma aliança global, para pressionar os governos e o G-20” a mudar a estratégia de combate à crise. O objetivo seria privilegiar o crescimento econômico, o emprego e a preservação das conquistas sociais, como se a política de austeridade fosse incompatível com tudo isso.

Desde o seu surgimento como líder sindical no ABC paulista, no final dos anos 1970, Lula sempre procurou trilhar um caminho próprio, distante dos dogmas do Partido Comunista, que, na época, ainda atuava na clandestinidade e funcionava como uma célula do regime soviético no país. Porém, diante da recomendação feita por Lula aos sindicalistas europeus, é difícil não traçar um paralelo entre suas afirmações e as ideias e práticas que marcaram o comunismo desde os seus primórdios.

Como se fosse uma espécie de reencarnação de Karl Marx do século XXI, Lula nada mais fez do que pregar o internacionalismo proletário, fonte maior de inspiração para a Revolução Bolchevique, que derrubou o regime czarista na Rússia, sob o comando de Lênin e Trotsky, no início do século XX. Na verdade, a conclamação de Lula à união global dos operários faz lembrar a famosa frase cunhada por Marx, no Manifesto Comunista: “Trabalhadores do todo o mundo, uni-vos”.

O curioso é que Lula não teve qualquer constrangimento em se intrometer nos assuntos internos da Espanha, conclamando os trabalhadores do país a reforçar o movimento de oposição à política oficial. Embora ele evite fazer quaisquer críticas ao Irã, a Cuba e a tantos outros regimes autoritários espalhados pelo planeta, alegando o respeito à soberania de cada um, Lula deu seus palpites na atuação dos sindicatos na Europa, em especial na Espanha, durante sua visita à região.

Quando esteve em Cuba, Lula recusou-se mais de uma vez a receber dissidentes do país. Mas, na hora de pregar a “resistência democrática” à política de austeridade europeia, em franca oposição à política do governo espanhol, aí a soberania torna-se para Lula um conceito descartável.

Se algum líder – ou ex- líder – estrangeiro fizesse no Brasil o que Lula fez na Espanha, provavelmente receberia bordoadas do governo e seria alvo de manifestações xenófobas oficiais. Mas, para Lula, o que vale para os outros não parece valer para ele também.

BLOG DO RICARDO NOBLAT, 18.12.2012