quarta-feira, 23 de maio de 2012

"O estopim foi o depoimento do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, na CPI dos Correios, em agosto de 2005. Ele revelou ter recebido em conta que precisou abrir no paraíso fiscal das Bahamas, a conselho de Marcos Valério, o publicitário que viria a ser o pivô do mensalão, a soma de R$ 10 milhões pelos serviços prestados três anos antes à campanha presidencial do petista e ao partido."


PRISIONEIRO DO RESSENTIMENTO

Do Estado de S. Paulo, 23/05/2012

Mais velho, mais sofrido - e nem por isso mais sábio -, o ex-presidente Lula levou para a Câmara Municipal de São Paulo, onde receberia na segunda-feira o título de Cidadão Paulistano, as suas obsessões e os seus fantasmas: as elites e o mensalão. Ao elogiar no seu discurso a gestão da prefeita Marta Suplicy, ele se pôs a desancar a "parte da elite" de cujo preconceito ela teria sido vítima "porque ousou governar para os pobres". Marta fez os CEUs (centros educacionais unificados), exemplificou, para acolher crianças de favelas, algo inaceitável para aqueles que não querem que os outros sejam "pelo menos iguais" a eles.
O ressentimento de que Lula é prisioneiro o impede de aceitar que, numa megalópole como esta, há de tudo para todos os gostos e desgostos - e não apenas no topo da pirâmide social. Os que nele se situam, uma população que o tempo e as oportunidades de ascensão de há muito tornaram heterogênea, não detêm o monopólio do preconceito de classe. Durante anos, até eleitores mais pobres, portadores, quem sabe, do proverbial complexo de vira-lata, refugaram a ideia de votar em um candidato presidencial que, vindo de onde veio e com pouco estudo, teria as mesmas limitações que viam em si para governar o Brasil.
Lula tampouco admite, ao menos em público, que dificilmente teria chegado lá se o destino não o tivesse levado a viver na mais aberta sociedade do País - que também abriga, repita-se, cabeças egoístas e retrógradas, mas onde o talento, o trabalho e a perseverança são os mecanismos por excelência de equalização social. Em 1952, quando a sua mãe o trouxe com alguns de seus irmãos para cá, estava em pleno andamento, aliás, a substituição das tradicionais elites políticas paulistas por nomes que expressavam as mutações por que vinha passando desde a 2.ª Guerra Mundial o perfil demográfico da capital.
Pelo voto popular, chegaram ao poder descendentes de imigrantes e outros tantos cujas famílias, vindas de baixo, prosperaram com a industrialização, educaram os filhos e os integraram, à americana, na renovada estrutura política. O curso natural das coisas, pode-se dizer, consumou a metamorfose na pessoa do carismático torneiro mecânico pau de arara ungido presidente da República. No Planalto, é bom que não se esqueça, ele vergastava as elites nos palanques e se acertava na política com o que elas têm de pior. Lula se amancebou com expoentes do coronelato do atraso, do patrimonialismo e da iniquidade - o mesmo estamento oligárquico que contribuiu para confinar à miséria incontáveis milhões de nordestinos.
Elas não lhe faltaram no transe do mensalão - "um momento", repetiu pela enésima vez o mais novo cidadão paulistano, "em que tentaram dar um golpe neste país". Na sua versão da história, as elites, a oposição e a mídia só desistiram de destituí-lo de medo de "enfrentarem o povo nas ruas". Falso. Lula ainda não havia completado o trajeto da contrição - "eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas" - à ameaça de apelar ao povo, quando a oposição preferiu não pedir o seu impeachment para não traumatizar o País pela segunda vez em 13 anos. Pelo menos um dos homens do presidente, ministro de Estado, procurou os líderes oposicionistas para dissuadi-los da iniciativa.
O estopim foi o depoimento do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, na CPI dos Correios, em agosto de 2005. Ele revelou ter recebido em conta que precisou abrir no paraíso fiscal das Bahamas, a conselho de Marcos Valério, o publicitário que viria a ser o pivô do mensalão, a soma de R$ 10 milhões pelos serviços prestados três anos antes à campanha presidencial do petista e ao partido. Afinal, parcela da bolada já estava no exterior e outra sairia do caixa 2 da agremiação - os famosos "recursos não contabilizados" que Lula admitiria existir na reunião ministerial que convocou para o dia seguinte da oitiva de Duda. Tecnicamente, o PT poderia ter o seu registro cassado, e o presidente poderia ser afastado, se as elites quisessem levar a ferro e fogo o combate político. Se conspiração houve, em suma, foi para "deixar pra lá".

O Estado de S.Paulo / Opinião / Prisioneiro do Ressentimento / 23/05/2012

"Nota de esclarecimento do Casseta & Planeta aos Deputados... " ENVIADA PELO MEU AMIGO GUGU.


Vejam a  noticia, depois a resposta do  Casseta e Planeta  aos Deputados... é digna dos  Cassetas. 

Jornal O GLOBO (BRASÍLIA- DF) 


Câmara  se queixa do "Casseta &  Planeta": 

Pressionada  por deputados, a Procuradoria da Câmara foi  reclamar junto à Rede Globo pelas alusões  feitas no programa "Casseta & Planeta"  exibido terça-feira passada.
Os parlamentares  reclamaram especialmente do quadro em que foram  chamados de "deputados de programa". Nele,  uma prostituta fica indignada quando lhe perguntam se ela é  deputada!
O quadro em que são vacinados contra a "febre afurtosa"  também provocou grande constrangimento.
Na noite de  quarta-feira, um grupo de deputados esteve na  Procuradoria da Câmara para assistir à fita  do programa. Segundo o procurador Ricardo Izar  (PMDB-SP), duas parlamentares choraram  (coitadinhas). Izar se encontrará segunda-feira  com representantes da emissora, para tentar um  acordo, antes de recorrer à Justiça.
O presidente da  Câmara também se disse indignado: 

- O programa  passou dos limites. Eles têm talento suficiente  para fazer graça sem desqualificar a instituição  (que instituição?), que garante a liberdade para  que façam  graça.
O diretor da  Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger,  disse que a rede só se pronuncia sobre  ações judiciais, depois de serem  efetivadas.
Os humoristas do  Casseta & Planeta não quiseram falar sobre o  assunto,  dizendo não querer  "dar importância à  concorrência".

Segue agora a Nota de Esclarecimento enviada pelos Cassetas:

NOTA  DE  ESCLARECIMENTO: 


"Foi  com surpresa que nós, integrantes do Grupo  CASSETA & PLANETA, tomamos conhecimento, através da imprensa, da intenção do presidente  da Câmara dos Deputados de nos processar por  causa de uma piada veiculada em nosso programa  de televisão. Em vista disso, gostaríamos de  esclarecer alguns pontos: 



1..  Em nenhum momento tivemos a intenção de  ofender  as  prostitutas . O  objetivo da piada era somente de comparar duas  categorias profissionais que aceitam dinheiro  para mudar de posição. 


2..  Não vemos nenhum problema em ceder um espaço  para o direito de Resposta dos deputados. Pelo  contrário, consideramos o quadro muito adequado  e condizente com a linha do programa. 

3..  Caso se decidam pelo direito de resposta,  informamos que nossas gravações ocorrem às  segundas-feiras,  o que obrigará os deputados a interromper seu  descanso  .." 

Equipe  do Casseta &  Planeta 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

" ... o terceiro elemento crítico do que se poderia chamar de "modelo político argentino" é a tentativa de controle da mídia. Da postura autoritária das autoridades que se recusam até mesmo a dialogar com alguns jornalistas com a frase de que "con vos yo no hablo" até a tentativa de esmagar certos jornais mediante o objetivo de vender a eles papel a preços proibitivos, passando pelas alusões ao "monopólio" doClarín - algo grotesco, em face da concorrência que existe entre diferentes jornais - e ao tom das acusações contra o Clarín e La Nación provinda de blogueiros oficiais crescentemente hostis, criou-se um clima de guerra que está tornando cada vez mais rarefeita a possibilidade de convivência. Nesse contexto, mais de um jornalista tem sido tratado por pessoas comuns com uma agressividade simplesmente desconhecida num país normal."


SEM "ARGENTINIZAÇÃO"

Há países que, comparativamente às nações desenvolvidas, se caracterizam por ter instituições frágeis. A vigência da "rule of Law" se manifesta no grau de maior ou menor discricionariedade em mãos das autoridades. Em países evoluídos, o cidadão e a empresa têm obrigações, mas têm direitos que são respeitados e, dadas regras do jogo claras, os indivíduos e as firmas têm condições de evoluir e progredir. Já nos países menos desenvolvidos, é o poder do príncipe (ou da princesa) que dá as cartas. No limite, vale a velha regra: L'État c'est moi (o Estado sou eu).
A Argentina virou um "case" de esgarçamento dos princípios que devem reger o funcionamento de uma República. O país se transformou num verdadeiro unicato, onde cada vez mais tudo depende dos desígnios de uma soberana.
A democracia corre perigo nessas circunstâncias, não porque as decisões não espelhem a vontade da maioria - não há a menor dúvida de que Cristina Kirchner conta com apoio majoritário da população -, mas porque há princípios de convivência entre forças diferentes que foram sendo sucessivamente deixados de lado.
Três pontos chamam a atenção na realidade política do país vizinho. Primeiro, o fato de a inflação oficial ter virado uma ficção, que vem sendo passivamente aceita como parte do funcionamento normal de um país. Trata-se de uma aberração. Embora sejam questões de graus de gravidade obviamente diferentes, a mesma sociedade que no tempo dos militares passava pela Escuela de Mecánica de la Armada - a terrível e temida Esma, de triste memória, convertida em centro de desaparecimento de pessoas - hoje convive, como se fosse natural, com uma inflação oficial que há vários anos subestima flagrantemente a realidade. É uma espécie de "realidade paralela" na qual se finge acreditar - mesmo que todos saibam que é falsa, numa espécie de loucura coletiva que demonstraria a vigência da velha piada de que "donde acaba la razón, empieza la Argentina".
O segundo ponto-chave da situação Argentina é a demonização da crítica. Ao longo dos anos e do governo dos dois membros do casal reinante - Nestor e Cristina -, o "demônio" assumiu diversas caras, não necessariamente partidárias. Ora foi a Igreja; ora o campo; algumas vezes, uma figura específica; em épocas eleitorais, os partidos adversários do governo; e, mais recentemente, a Espanha. O fato é que no país se vive permanentemente um clima de rivalidade e tensão que cria o ambiente no qual germina todo tipo de tentação autoritária.
Nesse contexto, um grupo de "piqueteros" um dia queima um posto de gasolina que desrespeitara o congelamento de preços na época imposto pelo governo; um secretário com "status" político de ministro é visto na rua batendo fisicamente em manifestantes de um partido de oposição; ou o ministro de Economia se sente à vontade para comparar personagens críticos das ações governamentais aos nazistas, como forma de embasar atitudes que visam simplesmente à proscrição de quem diverge do pensamento oficial.
Finalmente, o terceiro elemento crítico do que se poderia chamar de "modelo político argentino" é a tentativa de controle da mídia. Da postura autoritária das autoridades que se recusam até mesmo a dialogar com alguns jornalistas com a frase de que "con vos yo no hablo" até a tentativa de esmagar certos jornais mediante o objetivo de vender a eles papel a preços proibitivos, passando pelas alusões ao "monopólio" doClarín - algo grotesco, em face da concorrência que existe entre diferentes jornais - e ao tom das acusações contra o Clarín e La Nación provinda de blogueiros oficiais crescentemente hostis, criou-se um clima de guerra que está tornando cada vez mais rarefeita a possibilidade de convivência. Nesse contexto, mais de um jornalista tem sido tratado por pessoas comuns com uma agressividade simplesmente desconhecida num país normal.
O Brasil precisa estar atento ao que ocorre na Argentina, porque aqui há grupos "heavy metal" no País que gostariam de poder implantar aqui as mesmas práticas.
A presidente Dilma Rousseff, em atitude que honra o seu governo, tem repelido qualquer tentativa de avançar por caminhos similares aos dos vizinhos e tornou-se fiadora das boas regras de convivência. Entretanto, a combinação de simpatia notória de alguns grupos pelo modelo argentino; dificuldades de aceitação da crítica por parte desses grupos; e tentativas explícitas de controle da mídia que recorrentemente aparecem no noticiário indicam que o risco de "argentinização" do processo político brasileiro não é nulo.
Daí por que é necessário manter a vigilância para evitar que certas regras sejam quebradas. A postura republicana da presidente Dilma na sua relação com a oposição e a bela faxina que o sempre correto ministro Paulo Bernardo fez ao deixar de lado ideias autoritárias emanadas de setores anteriormente próximos à sua pasta merecem elogios.
É necessário que tal atitude seja preservada, para que o Brasil continue a se diferenciar de alguns dos seus vizinhos barulhentos.

ESTADO DE SÃO PAULO / OPINIÃO / FÁBIO GIAMBIAGI / "SEM ARGENTINIZAÇÃO".