quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


INCOMPETÊNCIA E MÁ FÉ

Lisboa – O governo se revela fraco no combate à inflação. O Banco Central (o projeto que visa a lhe garantir a autonomia é de minha autoria) virou departamento do Ministério da Fazenda. Sua diretoria está partidarizada. Em suma: aparelharam o Banco Central também. Eis aí retrocesso e tanto, que ainda será cobrado ao bolso dos brasileiros.

O foco, para o bom senso, deve ser o controle da inflação, que o Boletim Focus estima em 5,31% (por causa da maquiagem), número que é muito elevado para uma economia que cresce pouco e que é muito elevado para qualquer economia civilizada. Menos para Argentina, que admite oficialmente 10% e todos sabem que a realidade já superou os 20%, e para a Venezuela de Chávez, exemplo acabado de como não se deve governar um país. Essas duas economias, aliás, não são civilizadas.

Entre 2008 e 2011 (quatro anos, portanto), a taxa inflacionária acumulada é de 22,6%. Repito: isso contrasta com uma economia que cresce pouco e que, pelo tempo que tem de estabilidade, não se justifica de jeito nenhum.

O governo tem obtido superávits primários pela via do aumento da carga tributária e até de artifícios contábeis, expurgando itens “incômodos”. A inflação do ano passado ficou exatamente no teto da meta (intoleráveis 6,5%), explicitamente porque o governo a maquiou: cortou a CIDE e adiou a entrada em vigor do imposto sobre o cigarro. Na verdade, pois, a inflação verdadeira superou o teto e ficou bem longe do centro (altíssimos 4,5%).

Neste 2012, a maquiagem já está programada e aprovada pelo governo: terão peso menor no cálculo da inflação os gastos com alimentação (absurdo), empregados domésticos (como, se o salário mínimo acabou de ser reajustado em 14%?), educação (é crível que as famílias estejam despendendo menos recursos com educação?) e cigarro. É por aí que o governo conta em apresentar à sociedade, no fim do ano, um índice inflacionário menos distante do centro da meta. Maquiagem, descrédito imposto ao IBGE, mistificação. Pura e simplesmente isso.

Vamos aos números. Se pegarmos os anos de 2008 a 2011, teremos inflação acumulada de 22,6%, que significa a média anual de 5,65%. Se acrescentarmos a esses quatro exercícios o 2011 da inflação maquiada (pelas expectativas do Boletim Focus, que poderão ser alteradas), teremos o acúmulo de 27,93% e a media anual de 5,58%. Ou seja, distância quilométrica, em ambas as situações, do centro da meta.

Quem sofre com isso é precisamente o segmento mais pobre da população. Os ricos têm direito à “bolsa-empresário” do BNDES, com direito a juros subsidiados pelos brasileiros que não têm acesso a esse privilégio.

Quando se mistura incompetência com má fé, o resultado é explosivo. É, por exemplo, ministro voando para todo lado.

OPINIÃO DA FOLHA DE SÃO OAULO - Quinta-feira, 19 de Janeiro de 2012.

DIVERGÊNCIA LIBERAL


Cláudia Antunes

RIO DE JANEIRO - O economista Persio Arida, um dos pais do Real, e o cientista político americano Francis Fukuyama defendem o liberalismo, que privilegia a liberdade à igualdade substantiva. Cabe ao Estado zelar pelos direitos individuais, com intervenção limitada no mercado. 

No entanto, em entrevistas à Folha nesta semana os dois divergiram no diagnóstico da crise provocada pelo estouro da bolha de crédito nos EUA. Com isso, prescreveram políticas diferentes. 

À Folha, e em artigo na revista "Foreign Affairs", Fukuyama disse que preceitos liberais viraram dogmas e devem ser matizados. Em vez de gerar maior eficácia na alocação de recursos, a desregulamentação financeira e a redução de impostos ajudaram a promover sua concentração. 

Para ele, a estagnação da renda média dos americanos e o aumento da desigualdade causaram a bolha. O subsídio às hipotecas para pobres "tornou-se uma forma perigosa de redistribuição" (nos EUA, o valor da casa, mesmo sem sua compra quitada, pode ser usado para obter crédito). 

Já Arida disse a Eleonora de Lucena que a causa da bolha foi a oferta de dinheiro: "As pessoas sempre têm limitação de renda. O sistema hipotecário americano as induz a se endividarem". Afirmou que não eram as leis bancárias dos EUA que estavam erradas. "Houve desregulamentação sem consentimento do regulador." 

Para Arida, o aumento do mínimo acima da inflação, como no Brasil, distorce o mercado e causa inflação. A melhor distribuição, disse, é pela ajuda direta aos mais pobres e a queda dos juros, só viável com redução dos gastos públicos. Ele sugeriu o desenvolvimento de um sistema de hipotecas aqui. 

É possível que as diferenças sejam questão de medida e contexto. Mas a crise embaralhou teorias e práticas e, independentemente do ideal de sociedade, invalidou as cartilhas para alcançá-lo.

Cláudia Antunes, jornalista carioca, formada em jornalismo pela UFRJ, está no jornal Folha de São Paulo desde 2000. Foi coordenadora de redação da Sucursal deo Rio de Janeiro (2000/2005), editora de “Mundo” (2006/2009) e atualmente é repórter especial do jornal. Antes trabalhou por 13 anos no “Jornal do Brasil”, onde foi editora de “Internacional”. Entre 2005 e 2006, foi bolsista da Fundação Nieman para o Jornalismo, na Universidade Harvard.

OPINIÃO DA FOLHA DE SÃO PAULO - 19.01.2012.

OBSESSÃO E REALIDADE
Rogério Gentile

SÃO PAULO - O PSDB vai usar o namoro entre Gilberto Kassab e o PT de Fernando Haddad para tentar empurrar José Serra de novo à disputa pela Prefeitura de São Paulo. Com o padrinho político na eleição, o atual prefeito não teria como se bandear para a campanha do ad versário. 

A exemplo do que ocorreu em 2004, porém, Serra diz não querer concorrer. Acha que participar da eleição em outubro significa desistir da sucessão presidencial de 2014, deixando o caminho livre para Aécio Neves ser o candidato do PSDB.

Em caso de vitória na eleição paulistana, ficaria atado ao cargo e dificilmente surgiriam condições políticas que o autorizariam a abandoná-lo novamente (em 2004, após muita hesitação, disputou e venceu a eleição; dois anos depois, largou a prefeitura para concorrer ao governo).

Uma derrota, então, destruiria completamente seu plano. E Serra é obcecado pela Presidência. Direcionou toda a sua vida para aquela cadeira e parece não conseguir raciocinar sem considerá-la como o topo natural de sua carreira.

Para agravar a situação do tucano, disputar a eleição municipal agora é uma aposta de risco muito maior do que foi em 2004. Serra tem uma enorme rejeição em São Paulo. Segundo o Datafolha, 35% dos paulistanos dizem não votar de jeito nenhum no tucano. Eram 11% oito anos atrás. 

E, desde a criação da eleição em dois turnos, somente em 1992 alguém ven­ceu na cidade (Maluf) des­pertando repulsa em tanta gente.

Se conseguir convencer Serra a enfrentar seus fantasmas e concorrer em outubro, o PSDB, além de amarrar Kassab, passará a ter um candidato capaz de, ao menos, alavancar a chapa de vereadores. 

Se não conseguir, correrá o risco de sofrer um vexame no seu principal reduto. E transferirá um problemão para 2014. Serra, que hoje compete com Aécio até para ver quem aparece mais nas publicações do próprio PSDB, continuará a ser um obstáculo pesado para o mineiro.

Rogério Gentile é Secretário de Redação do jornal Folha de São Paulo. Entre outras funções, foi editor da coluna Painel e do Caderno "Cotidiano". Escreve a coluna São Paulo, na página 2, às quintas-feiras.


CARTA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Prezados Ministros do STF,
Todos os brasileiros não comprometidos com a roubalheira petista esperam que cada um dos senhores ministros do Supremo cumpra com sua obrigação constitucional, no sentido de evitar que o dito processo do mensalão atrase de tal forma que os crimes dos malfeitores sejam prescritos.
A maioria dos senhores já decepcionou os brasileiros de bem, dos que realmente trabalham pela grandeza da Pátria, quando do nefasto desfecho sobre a TI Raposa Serra do Sol, um verdadeiro crime de lesa-pátria - para não dizer um crime racista, já que índios e não-índios não podem mais conviver no mesmo território onde há séculos havia uma miscigenação que só fazia engrandecer o Brasil, como modelo de convívio entre "raças" para o mundo.
Parabéns aos ministros César Peluso e Ayres Brito, por se posicionarem contra as artimanhas do ministro Lewandowsky, responsável pela revisão do processo, o qual deu a entender que deseja levar o mesmo em banho-maria até 2013 (disse que levaria todo o ano de 2012 para ler o extenso processo), de modo a beneficiar os réus, com os quais mantém ligações ideológicas (Lewandowsky foi o único ministro do STF a votar contra o recebimento da denúncia de formação de quadrilha contra José Dirceu).
Confiamos, todos nós brasileiros, que o STF conclua o mais rápido possível esse processo de rapinagem federal e coloque na cadeia todos os culpados por um longo período de tempo.
Infelizmente, o procurador-geral da República não encaminhou ao STF o nome do chefão da quadrilha dos "40 ladrões", que atende pela alcunha de "Lula", o verdadeiro responsável pela roubalheira, ainda que sempre tenha repetido - como o trio de macacos que tampam os olhos, os ouvidos e a boca -, dizendo que nada sabia, nada poderia dizer sobre o que nunca ouvira falar.
A imprensa, que não é golpista, mas adestrada, nada disse sobre o chefão do mensalão, quando este enviou mais de 12 milhões de cartas a aposentados e pensionistas de todo o Brasil, oferecendo, a juros baixos, empréstimos consignados via Banco BMG, o Banco Mensalão do Governo, origem de toda a maracutaia mensaleira. De banquinho de fundo de quintal, o BMG cresceu rapidamente e ostentou o distintivo petralha em 17 clubes de futebol em 2011. Quanto o PT arrecadou junto ao trio Marcos Valério-BMG-Banco Rural?


Enfim, está na hora de o STF colocar gente graúda na cadeia. A chance é essa. Não decepcionem, senhores ministros, a população brasileira ordeira, que espera que o Supremo Tribunal Federal se paute pela ética e pelos bons constumes, não pelo compadrismo ideológico que temos visto nos últimos anos, passando a mão na cabeça de malfeitores.
Atenciosamente,


Félix Maier
Brasília, DF, 17 de janeiro de 2012.

domingo, 15 de janeiro de 2012


AHMADINEJAD

Lisboa – Sua viagem à América Latina, na semana passada, supostamente para quebrar o isolamento internacional, que lhe tem sido justamente imposto, só serve mesmo para consolidar sua imagem de pária. Afinal, os países "escolhidos" foram a Venezuela do proto-ditador Hugo Chávez, o Equador do autoritário Rafael Correia, a Nicarágua do carcomido Daniel Ortega e a Cuba dos Castro, que simbolizam a ditadura mais longeva do mundo. Deveria ter ir à Coréia do Norte para completar a pantomima.

Celso Amorim, quando chanceler brasileiro pagou mais do que um "mico", ao insinuar Brasil e Turquia como fiadores do Irã e seu projeto nuclear, que só ele mesmo, Celso, poderia acreditar que se destinaria a fins pacíficos. O mundo morreu de rir da "proposta". Foi mais do que um "mico". Foi um verdadeiro "king kong".

Sabe-se agora que o Irã vai começar a enriquecer urânio num bunker estabelecido numa montanha de dificílimo acesso. Ou seja, a insanidade com que agem os aiatolás, liderados por Komenei, dos quais Ahmadinejad é mero títere, sugere que a tensão vai aumentar – e muito – no Oriente Médio.

Uma intervenção militar no Irã não é coisa simples. Trata-se de país de mais de 80 milhões de habitantes, protegido por montanhas densas.

Se estiver desenvolvendo mesmo artefatos nucleares, poderá ser atacado por Israel que, após a chamada Primavera árabe, experimenta situação de isolamento político na região. Se o conflito ganhar proporções, poucas dúvidas existem de que a OTAN entraria em cena ao lado dos israelenses. E aí o futuro do mundo ficaria tão incerto como em momentos angustiantes que a Humanidade já experimentou, em passado até recente.

Nessa hipótese indesejável, ninguém se iluda de que o Brasil terá de escolher um lado. E aí ficará ainda mais exposta a irresponsabilidade com que Amorim, executor da política externa do governo Lula, levou seu chefe a agir.

Política exterior não é para amadores nem para escravos de ideologias. Deve ser trabalhada com pragmatismo, levando em conta, friamente, os interesses do país que se representa.

O mais é infantilidade, compreensível, embora não justificável, nas atitudes de um Chávez, mas absolutamente incondizente com o razoável peso internacional que o Brasil já conquistou.