sábado, 15 de outubro de 2011

COM PLANOS MENSAIS, FRANQUIA DE SALÃO FUNCIONA COMO CLUBE DE BELEZA.

Frequentador pode se tornar associado e fechar pacotes de serviços. Para abrir o negócio o investimento é de R$ 25 mil.
A rede da empresária Illana Ramuth aposta na beleza e estética, um dos setores que mais cresce no Brasil. A quia já tem unidades espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Ceará. E para abrir o negócio o investimento é de R$ 25 mil.

O salão de beleza tem uma decoração bem diferente. Os clientes mais parecem estrelas do cinema. O glamour está em toda parte. Nas paredes, na recepção e até no chão. Quem chega pode pisar na calçada da fama.

O salão faz parte de uma rede de franquias, aberta no ano passado pela empresária. “Hoje todo o negócio tem que ter um diferencial, senão ele não vai para frente. O nosso se diferencia não apenas no ambiente, que ele tem uma decoração temática, remete aquele glamour hollywoodiano como também do tipo de serviço que nós prestamos”, afirma a empresária.

O espaço funciona como um clube da beleza. Quem frequenta o salão pode se tornar um associado. Nesse caso, o pagamento avulso dos serviços é substituído por um plano mensal.

O cliente fecha um pacote que pode ser usado durante todo o mês. O mais barato custa R$ 60 e dá direito a dois tratamentos estéticos por semana. Um bom desconto para quem não vive sem um salão de beleza.

Além do plano básico, o cliente ainda tem outras quatro opções. O mais caro custa R$ 180 por mês. “Nós buscamos atingir as camadas B e C da população, não apenas por ser a grande maioria da população, como também porque, independente da classe social, hoje as mulheres e também os homens estão cada vez mais vaidosos”, explica.

Atualmente, a rede tem 16 franquias espalhadas pelo país. Para formatar o negócio, a empresária investiu R$ 100 mil. O dinheiro foi usado em pesquisas e no desenvolvimento do projeto.

“O investimento para a nossa franquia é cerca de R$ 25 mil. Dentro desse investimento, já estão inclusos a decoração, os adesivos de parede, os mobiliários. Tudo vai incluso dentro desses R$ 25 mil. O importante é que nós não cobramos taxa de franquia. Nós começamos a ganhar quando o nosso franqueado começa a ganhar, que é através do pagamento mensal de royalties”, afirma.

Uma das franquias funciona há seis meses na zona norte de São Paulo. Cátia Coutinho começou com três funcionários e, hoje, a equipe tem sete pessoas entre manicures, cabeleireiras e esteticistas. “Chama muita atenção de ser pacote semestral, ou seja, pagar em 6 parcelas e utilizar em 6 meses”, diz Cátia.

O salão tem 50 metros quadrados. Logo na entrada fica o espaço para os serviços de cabeleireiro e manicure. Nos fundos, duas salas são usadas para depilação e estética facial. Pelo local passam, em média, 120 clientes por mês. Mais de 70% são mulheres.

Por mês, a franqueada fecha, em média, 80 pacotes de serviços. O faturamento mensal gira em torno de R$ 25 mil. “Você deixa a semana inteira marcada, você vem no horário certo já, não precisa ficar se preocupando com o dinheiro à vista porque já está o mês inteiro pago”, diz Vera Lúcia da Silva.

A rede mantém uma unidade piloto para treinar os franqueados, na zona sul de São Paulo. Eles recebem orientação com aulas teóricas e práticas. “No treinamento, ele vai tirar todas as dúvidas em relação à parte comercial, não é, como lidar diretamente com o cliente, a parte de vendas, a parte operacional, como fazer o procedimento bem feito, com excelência.”

Jaqueline Cruz é uma das franqueadas. Ela participa do treinamento junto com a equipe de profissionais que contratou. “Eu me sinto muito mais segura pelo know how que o grupo tem, eu já estou há 20 dias em treinamento e eu sinto mais força, me sinto mais preparada para tocar o negócio para frente”, afirma.

O retorno do investimento depende da carteira de clientes de cada franquia. A franqueadora Illana Ramuth quer expandir a rede para outros estados e já projeta um bom crescimento para 2012. “Ainda estamos com números modestos, são 16 franquias e uma unidade própria. Mas temos cerca de 15 franquias pra inaugurar nesses próximos meses e até do final do ano que vem a gente quer atingir as 100 franquias”, diz.
G1/ECONOMIA/PME - 02/10/2011 07h46


PROJETO MODERNIZA FÁBRICAS DE FARINHA DE MANDIOCA NO RN



Faturamento de empresa aumentou 500% após mudanças. Sebrae usa empreendimento como exemplo para outras casas de farinha.

Um projeto está modernizando as fábricas de farinha de mandioca no Rio Grande do Norte, e criando um novo jeito de produzir e de vender o produto. As mudanças atraem uma nova clientela e aumentam o lucro. A estratégia mais rentável é desenvolver uma marca própria e eliminar os atravessadores.

Hoje, muitas empresas ainda negociam a farinha em sacos de 50 quilos. O carroceiro leva o produto para feirantes ou para indústrias maiores que fazem o fracionamento, dividem a farinha em embalagens menores que vão ser vendidas nos supermercados. É um modelo de negócio ultrapassado e pouco lucrativo. Para modernizar o setor, da produção até a venda, o Sebrae fez um desafio aos 60 fabricantes da região: criar um arranjo produtivo local da mandiocultura.

“O empresário, quando ele tem uma visão empreendedora, ele vai fortalecer a sua marca, vai criar mercado, vai abrir as portas para ele. Ele tendo essa visão de investir, de mudar, e sair daquela cultura tradicional, ele vem a fortalecer e ter mais lucros em cima da sua ousadia”, diz Fernando José Medeiros de Melo, do Sebrae de Natal (RN).

Ousadia foi o que não faltou ao empresário Jânio dos Anjos, que tem uma fábrica em Vera Cruz, a 40 quilômetros de Natal. Ele mudou uma tradição de 50 anos para se modernizar e passou a vender farinha em sacos de um quilo com a própria marca. Em vez de ganhar apenas R$ 1 do atravessador por unidade, agora vende o produto por R$ 1,80 diretamente para mais de 70 mercados. “Nesse sistema, a gente ganha muito mais dinheiro”, comemora Jânio.

Para chegar a esse resultado, o empresário praticamente pôs abaixo a antiga fábrica herdada do avô. No prédio novo, o forro é de PVC, as paredes têm azulejos e o piso tem ondulações nos cantos para facilitar a limpeza.

“Esse trabalho está voltado todo para a produção segura, para que o cliente tenha um produto de qualidade, que passe dentro dos padrões de higiene e qualidade”, diz Melo, do Sebrae.

O passo seguinte da reformulação foi separar os setores de produção. Na área de raspagem, as mulheres ganham R$ 0,75 por caixa com 25 quilos de mandioca. Por dia, cada uma delas entrega até 40 caixas, o que garante uma remuneração mensal entre R$ 500 e R$ 600.

Em seguida, o lavador tira as impurezas da mandioca, depois a raiz é moída em trituradores elétricos. O material vai então para a máquina de prensagem, onde perde um líquido chamado manipueira, que depois é usado para adubar a própria plantação. Finalmente, a massa vai ao forno também movido a eletricidade. O sistema moderno garante uma produção bem maior.

“No tempo do meu avô, a gente trabalhava na média de três mil quilos. Hoje a gente chega na média de 100, passamos até de 100 mil quilos por mês”, diz o empresário.

A empresa fez outra grande mudança para aumentar o lucro: a farinha de mandioca é misturada com temperos para gerar novos produtos. Da fábrica saem farofas com sabor de alho e cebola, de bacon e também de calabresa. A margem de lucro da farofa é de 50%, enquanto a da farinha tradicional chega, no máximo, a 30%.

De olho no bom resultado que o produto diferenciado traz, o empresário já pensa em aumentar a produção de farofa: “eu espero que 50% da nossa produção seja de farinha temperada”, diz.

Com as ações do projeto, o faturamento da empresa aumentou 500%. Agora, o Sebrae usa a fábrica de Jânio dos Anjos como exemplo para outras casas de farinha.

“A meta é chegar em 2012 com 15 indústrias desse porte aqui no estado do Rio Grande do Norte”, diz Fernando.

G1/ECONOMIA/PME - 09/10/2011 07h43

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A PREVISÃO DE INFLAÇÃO DE 2011 TE ASSUSTA?

Em agosto eu dizia no meu microblog que Tombini era o mais fraco Presidente do BC dos últimos 17 anos. Ele previa que a inflação ia cair a partir de outubro.
Eu dizia que o IPCA cresceu jun/jul/ago/set em média 60% do mês anterior. E que uma possível tendência de redução no mês de dezembro ficava imprevisível pela conjuntura internacional.
Eu também dizia que existia a tendência anualizada de inflação bater em dezembro 9%. Porque? O IPCA mês a mês de 2011, foi superior em média 23% a 2010.
Em análise mais percuciente o IPCA de 2010 saiu em JUNHO de 0% p/0,01% em JULHO e 0,04% em AGOSTO. Deu salto em SETEMBRO para 0,45% e OUTUBRO para 0,75. Causou surpresas? Em 2011 no todo, não. O BC não soube controlar o mês de JUNHO, cujo IPCA foi de 0%. Foi mesmo 0%? Ou foi 0,01%? Ou 0,001%? Sabe-se que em JULHO o IPCA foi de 0,01%. Então qual foi a verdadeira potencialização da transição entre JUNHO e JULHO/2010? Ninguém sabe! O que se sabe é que o crescimento de JUNHO/2011 sobre JUNHO/2010 pode ter sido de 1,5%, 15%, 150%, 1500%, 15000%, até o infinito, dependendo de quantos ZEROS têm depois da vírgula nesse ZERO POR CENTO de IPCA no mês de JUNHO de 2010.
Na avaliação dos analistas, o IPCA deve encerrar 2011 em 11% ao ano. Para o fim de 2012, a expectativa para a Selic segue em 10,50% ao ano. Atualmente, a taxa básica está em 12% ao ano. A próxima reunião do COPOM do BC, que define a Selic, será nos dias 18 e 19 deste mês, quando os analistas esperam que a Selic seja reduzida para 11,5% ao ano.
A estimativa dos analistas para os preços administrados segue em 5,80%, em 2011, e passou de 4,57% para 4,55%, no próximo ano. Grosso modo, os preços administrados representam um pouco mais que 50% da inflação anual. Logo, poderemos ter uma inflação, algo em torno de 11% em 2011.
Os preços administrados são aqueles cobrados por serviços monitorados, como combustíveis, energia elétrica, telefonia, medicamentos, água, educação, saneamento, transporte urbano coletivo, entre outros.

LULA PENSA QUE AINDA É PRESIDENTE!! OU É MESMO?


LINHA CRUZADA – Em conversa recente com um Ministro, Marco Maia (PT-RS), reclamou: “Não aguento mais receber telefonemas do Lula. Ele liga toda semana como se ainda fosse presidente”. (Painel-Folha S. Paulo, 14.10.2011)

ALGO DE NOVO NO AR


BRASÍLIA - Quem conhece bem Brasília sabe o quanto é difícil colocar 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios em pleno feriado. Ainda mais se a grande maioria é de classe média e gosta de viajar.

Mas quem conhece bem Brasília também sabe que a capital não nega fogo nos grandes momentos e que deu apoio ou até mesmo deflagrou alguns dos principais movimentos políticos: o renascimento do movimento estudantil pós-1968, as Diretas-Já, de 1984, os caras-pintadas dos anos 1990.

E eis que 20 mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios e à praça dos Três Poderes no último 12 de outubro para protestar contra a corrupção e defender a constitucionalidade da Ficha Limpa, as prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e a instituição do voto aberto de deputados e senadores.

O movimento é quase espontâneo. Começou com anônimos indignados com a roubalheira de dinheiro público, foi alimentado pelas redes sociais e está virando o que está virando sem participação de partidos, de sindicatos e de entidades como, digamos, a nova UNE. As pessoas carregam vassouras, fantasiam-se de presidiários e usam batas pretas, máscaras e narizes de palhaços. O conteúdo é sério, a forma é alegre. Quase um Carnaval pela ética e contra os corruptos.

Isso muda alguma coisa? Muda. Tira os cidadãos do marasmo, dissemina a indignação, constrange políticos e agentes públicos, cobra as instituições responsáveis pela impunidade e, principalmente, demonstra um novo estágio da democracia brasileira.

Em suma, as marchas contra a corrupção que ocorrem em Brasília e se reproduzem ainda incipientemente pelos Estados e suas capitais são, no mínimo, saudáveis.

Não são contra o governo, nem contra o Congresso, nem contra o Judiciário. Mas são um aviso. E, se bem não fizerem, mal não fazem.
ELIANE CANTANHÊDE - FOLHA DE SP - 14/10/11

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

POLÍTICA MONETÁRIA ENTRE A INFLAÇÃO FUTURA E A PASSADA.

SÃO PAULO - Alguns economistas, para justificar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa de juros básica, argumentam que as autoridades monetárias têm de levar em conta não a inflação passada, mas, sim, a inflação futura.
Têm toda razão quanto ao fato de que é a evolução dos preços nos próximos meses que se deve levar em conta nas decisões de política monetária, uma vez que essas decisões demoram cerca de seis meses para surtir efeitos. Porém, o que intriga é que a decisão de baixar o juro básico vem justamente numa fase em que a pressão inflacionária deve aumentar, sob influência de fatores já decididos e de outros que deverão sobrevir.
A inflação tem sua fonte principal no desequilíbrio entre a demanda e a oferta - lembrando que, desde que assumiu o poder com Lula, o PT dá prioridade à elevação do consumo, sem se preocupar com fato de que o "gap" de oferta seria preenchido por elevação das importações, que, mantida por muito tempo, tem como resultado um processo perigoso de desindustrialização. O volume crescente dos gastos do governo, mesmo coberto por um aumento das receitas, se traduz por uma elevação da liquidez do sistema monetário, que está contribuindo para elevar a oferta de crédito, o alvo do governo.
A inflação futura, que é o que leva a críticas da decisão do Copom, tem algo de preocupante. Se no início do ano os sindicatos não tinham como avaliar o que seria a inflação futura - e por isso conseguiram aumentos dos seus salários que, na melhor das hipóteses, foram muito ligeiramente superiores à inflação -, no segundo semestre, quando ocorrem os dissídios das maiores categorias sindicais, os reajustes salariais são pleiteados num ambiente que aposta em fortes pressões de alta de preços. Isso contribuirá para uma elevação da demanda. Não podemos menosprezar, ainda, o peso que tem nessas discussões o fato de que por lei o salário mínimo em janeiro será elevado em cerca de 14%, com efeito devastador sobre a Previdência Social.
Temos de levar em conta que nas últimas semanas se registrou uma reorganização de administrações que tem por base o aumento dos funcionários, isto é, dos gastos do governo. Considerando que nos oito primeiros meses os investimentos do governo federal ficaram aquém do Orçamento, é de prever que aumentem muito no terceiro trimestre. E ainda virão os efeitos de uma desvalorização do real. A inflação futura se mostra robusta.

O Estado de S. Paulo - 13 DE OUTUBRO DE 2011 - 8H 07

DEMOCRATIZAÇÃO, NÃO CONTROLE

Nota do Blog: BEM QUE O TÍTULO PODERIA SER: "DEMOCRATIZAÇÃO NÃO, CONTROLE!

O PT já percebeu que pega mal falar de "controle social da mídia". Agora, o que reivindicam os petistas é a "democratização dos meios de comunicação". Claro, o termo "controle" tem uma desagradável conotação autoritária. É melhor defender a mesma ideia usando uma expressão mais simpática, sedutora. Afinal, não se pode ser contra a "democratização", seja lá do que for. Portanto, sai "controle", entra "democratização". Por exemplo, o presidente nacional do PT, Ruy Falcão, em entrevista à imprensa dias atrás, anunciou a realização, no âmbito dos debates sobre o marco regulatório da comunicação eletrônica, um seminário que deverá reunir em São Paulo "todas as entidades, organismos e parlamentares interessados na democratização dos meios de comunicação". Da comunicação eletrônica? Não, dos meios de comunicação, tout court.
O esperto floreio de linguagem apenas camufla a irreprimível vocação autoritária do PT, que na verdade não admite uma imprensa livre criticando seus programas e seu governo e por isso quer "democratizar" os veículos de comunicação. Uma clara demonstração do uso que o partido faria da "democratização" dos meios de comunicação que preconiza são as recentes tentativas da ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, Iriny Lopes, de interferir numa peça publicitária protagonizada pela modelo Gisele Bündchen e no enredo da novela "Fina Estampa", da TV Globo, sob a alegação de que em ambos os casos a condição feminina estaria sendo colocada numa posição de "subalternidade". Seria o Estado decidindo o que constitui ou não a dignidade da condição feminina.
É notável também a insistência do PT em colocar num mesmo balaio duas questões absolutamente distintas, na tentativa de se valer da confusão para impor sua visão autoritária a respeito do controle da mídia. Uma coisa é o problema da atualização do marco regulatório da comunicação eletrônica, necessária em razão da enorme defasagem da legislação vigente em relação aos avanços tecnológicos na área. Outra coisa é a tentativa de regulação - censura, em português claro - dos conteúdos veiculados por todas as mídias, inclusive a impressa. E é isso que se tentará colocar em pauta no seminário anunciado pelo presidente petista.
Esse seminário, quem sabe, poderá lançar luzes sobre o verdadeiro significado de "democratizar" a mídia. Se a grande imprensa brasileira não é democrática, como acusa o PT, isso significa o quê? Que falsifica a realidade em benefício de interesses escusos, por exemplo, quando denuncia escândalos que obrigam a presidente a demitir ministros? Ou quando participa do debate político e das campanhas eleitorais, criticando os excessos do PT?
Se é isso que pensa o PT, está em clara divergência com a presidente Dilma Rousseff. Em primeiro lugar, pela razão óbvia de que ela foi eleita, apesar de não ter contado com o apoio da grande mídia. Mais do que isso, porém, porque Dilma, desde a campanha eleitoral do ano passado, jamais deixou de expressar, de maneira absolutamente cristalina, seu repúdio a qualquer tentativa de controle da mídia e a sua confiança na imprensa livre que existe hoje no País.
Quando era candidata à Presidência, em outubro do ano passado, Dilma Rousseff declarou: "A imprensa pode falar o que bem entender. Eu, o máximo que vou fazer, quando achar que devo, é protestar dizendo: está errado o que disseram por isso, por isso e por isso. Usando uma coisa fundamental que é o argumento". Em seu discurso de posse, proclamou: "Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As críticas do jornalismo livre ajudam ao País e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório". Em setembro, em visita aos Estados Unidos, ao assinar uma parceria com o governo norte-americano pela transparência e pela fiscalização das ações dos poderes públicos, garantiu: "Conta-se também com a positiva ação vigilante da imprensa brasileira, não submetida a qualquer constrangimento governamental".
Dilma e o PT que se entendam.

O Estado de S.Paulo - 131 de ouubro de 2011 - 3h 06

A COSTUMEIRA CHANTAGEM

Na ressaca da ditadura militar, a Constituição de 1988 foi escrita com a preocupação de aparar os amplos poderes que o Executivo tinha se concedido durante o regime, em especial mediante a Carta de 1967. Por um ato institucional, o general Castelo Branco, o primeiro chefe de governo da nova ordem, atribuiu a um expurgado e acoelhado Congresso a função de institucionalizar a chamada Revolução de 1964, conforme um projeto de Constituição saído pronto e acabado das entranhas do Planalto. O texto, aprovado praticamente como foi recebido, transformou o Executivo no "mais igual" dos Poderes do Estado. Exemplo dessa centralização hierárquica, o governo se outorgou o monopólio da edição de emendas constitucionais.
Não admira, portanto, que os constituintes livremente eleitos duas décadas depois se empenhassem em ir além da varrição do entulho autoritário, como se dizia à época. A ideia mestra da Constituinte era não apenas enquadrar o Executivo na moldura do Estado Democrático de Direito, reequilibrando a balança das instituições nacionais, mas também dar vida nova à Federação, delegando competências aos Estados e municípios. E tudo isso guiada pela premissa de que a democracia política e a descentralização administrativa deveriam abrir caminho à redução das iniquidades sociais. Acreditavam os constituintes que a Constituição poderia ser a carta de alforria da população pobre e o salvo-conduto para o seu acesso à saúde, educação, moradia e demais bens públicos dos quais vivia apartada.
Isso se traduziu diretamente na política orçamentária federal. Desde então, os governos de turno tiveram de conviver com um padrão de engessamento do destino a ser dado às receitas que lhes deixava pouca margem de manobra no uso dos recursos. Como que a afrouxar essa camisa de força, os desembolsos previstos na proposta orçamentária original ou a ela acrescidos pelas emendas parlamentares são meramente indicativos - salvo quando se tratar de vultosas rubricas pétreas, como a paga do funcionalismo e o financiamento da Previdência, os investimentos pré-fixados para a educação e a saúde e as transferências constitucionais aos entes federativos para esses mesmos fins.
O impulso modernizador do Estado, no bojo do Plano Real, levou o governo do presidente Itamar Franco a instituir, por iniciativa do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e com aprovação do Congresso, um mecanismo para tornar mais flexível a execução orçamentária. A Desvinculação das Receitas da União (DRU), como viria a ser designado, estipula que o Executivo federal pode gastar como queira 20% da arrecadação. Em 2012 isso dá R$ 62,4 bilhões. O instrumento deve ser renovado por emenda constitucional. A DRU vigente expira em dezembro. Eis uma preciosa oportunidade, a enésima e de forma alguma a derradeira, para os políticos exercitarem a sua propensão para a chantagem.
É a imprecisamente denominada base parlamentar governista que saca da faca para encostar no pescoço da presidente: ou ela acede em cacifar 61% do valor total das emendas individuais apresentadas pelos congressistas - o equivalente a R$ 4,7 bilhões - ou a DRU só será prorrogada por dois anos, no máximo, e não por quatro, como seria normal. Nessa hipótese, teria de ser renovada em plena campanha presidencial. Como de costume, dinheiro para obras não é tudo para os extorsionários. Demandam outros meios de engordar o seu patrimônio político: o preenchimento de cargos vagos em órgãos como a Sudene, Chesf, Codevasp e Dnocs, para citar apenas os do Nordeste. "A hora é esta, temos de estressar o governo até o limite", diz com cínica naturalidade um parlamentar que se diz "aliado do Planalto" e se esconde sob o anonimato.
A hora é esta e o sistema é este - o modelo de perversão política que confronta, caso a caso, o governante não com a oposição, mas com as bancadas dos partidos que se coligaram para elegê-lo. Aos seus oportunistas integrantes, ávidos pela barganha, pouco se dá que a presidente Dilma Rousseff - ou quem quer que estivesse hoje no seu lugar - precisa da DRU como uma ferramenta adicional para limitar os danos ao Brasil da crise econômica internacional que não cessa de se agravar.

13 de outubro de 2011 | 3h 06 - O Estado de S. Paulo 

O SOFÁ E A SALA

Hoje em dia, quase ninguém contesta a importância da concessão de serviços públicos em áreas de infraestrutura e energia, como forma de aumentar os investimentos e melhorar a eficiência do setor. Nas campanhas eleitorais, as "privatizações" costumam ser demonizadas, especialmente contra os tucanos, mas, em seguida, os próprios autores e seus partidos, como o PT, passam a defendê-las e a procurar implantá-las onde vencem as eleições.
Isso aconteceu depois da campanha de 2002, quando o governo Lula impulsionou a lei que modelou as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e prestigiou o modelo de concessões na exploração de petróleo, implantado no governo FHC, que foi o responsável direto pelas descobertas do pré-sal. Ocorreu também depois da eleição de 2006, com as concessões nas estradas federais e na exploração da energia hidrelétrica. Agora, em 2011, o fenômeno se repete, com o anúncio das concessões em aeroportos, um dos belzebus da campanha do ano passado.
No que diz respeito aos interesses do País, o problema principal é a incapacidade do governo federal de fazer as coisas direito e com rapidez em qualquer modelo. Por exemplo, até agora não conseguiram implantar nenhuma PPP, sete anos depois de aprovada a lei, diferentemente de Estados como São Paulo ou Minas Gerais.
No seu quinto ano de existência, em 2007, o governo do PT revelou ao País ter colocado em pé o ovo de Colombo na concessão de estradas: conseguiria ótimas rodovias com pedágios baratíssimos e investidores estimulados a promover com rapidez avanços decisivos na infraestrutura. Tudo ao mesmo tempo!
Antes de algo acontecer na vida real, começou a operar uma impressionante louvação ao ineditismo. Diferentemente dos carros e caminhões, a mistificação não precisa de estradas para trafegar. Na época, o entusiasmo foi tamanho que certo detalhe paradoxal acabou minimizado: o petismo sempre criticou as privatizações alheias por supostamente venderem patrimônio público subavaliado. Celebrizou a expressão "preço de banana". Pois bem, as concessões rodoviárias do governo do PT não foram "a preço de banana"; foram de graça mesmo.
Com o pretexto de reduzir pedágios e estimular o concessionário a fazer rapidamente as obras, o governo entregou as rodovias à iniciativa privada sem ônus. Quem arrematou os lotes não precisou pagar nada, diferentemente de São Paulo, onde a concessão implica uma contrapartida inicial para que o Estado garanta algum retorno do capital que investiu e mantenha sua capacidade de intervenção econômica - no setor e fora dele.
Se o PT estivesse na oposição e o governo oferecesse de graça patrimônio público a agentes privados, denunciar-se-ia o "neoliberalismo selvagem". Como estava no governo, praticou-o. Se o modelo estivesse funcionando, isso poderia ficar na rubrica dos debates e disputas políticas. Mas não funciona.
Há três meses, reportagem do Estadão mostrou que as coisas não iam bem nas estradas federais privatizadas: falta de obras, acidentes batendo recordes e mau estado de conservação, o que turbina o custo do transporte. Pesquisa recente da Confederação Nacional dos Transportes mostrou que só um terço da malha federal pode ser considerado ótimo ou bom. Em São Paulo, 75% das estradas estão nessa categoria.
Mas o governo decidiu agir: tirou o sofá da sala e estendeu para a posteridade os deveres das concessionárias. Como os investimentos não acontecem, deixou de exigi-los. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a obrigação de a concessionária investir foi remetida às calendas. E as empresas que levaram os trechos de graça, mas não cumpriram os contratos? O governo faz questão de mostrar sua indignação: afrouxou os contratos!
No edital do trecho da BR-101 que corta o Espírito Santo, cuja concessão será licitada, a duplicação poderá ser concluída em 2035. Você não leu errado: 23 anos para o felizardo entregar a duplicação de 418 quilômetros de estrada! Um quilômetro e meio por mês. Não chega a ser estafante. Mesmo assim, a concessão apenas chega no sul da Bahia (20 km), Estado onde a BR-101 se estende por quase mil quilômetros, e é conhecida em vários lugares como a rodovia da morte. Enfim, estradas ruins e o governo fazendo o jogo de esconde-esconde com as concessionárias. É a típica situação em que o barato sai caro: em São Paulo, na Régis Bittencourt e na Fernão Dias, as obras não chegaram, mas os pedágios subiram bem acima da inflação.
O método de tirar o sofá da sala se repete em outras áreas. O que se passa com a apoteótica promessa do governo Lula-Dilma de aproveitar a Copa do Mundo para dar um salto de qualidade no transporte urbano nas metrópoles? Hoje se tornou mais modesta: decretar feriado em dia de jogo para diminuir o trânsito.
Os aeroportos? Aqui e ali, veem-se um ou outro puxadinho para desafogar a demanda. Planejamento? Mudança estrutural? Benefícios duradouros para as cidades e comunidades? Quase nada. Quanto tempo o governo brasileiro teve para se preparar decentemente para a Copa do Mundo e como o aproveitou?
É o caso de perguntar também: o que ele vai fazer de prático para que as estradas federais atinjam, em prazo razoável, uma condição mais próxima do desejável? Quando os brasileiros terão à disposição rodovias seguras, prontas a receber os motoristas e suas respectivas famílias e suas cargas? É algo que não se avista no horizonte.
Nisso tudo, a fraqueza de gestão, não tanto a ideologia, conta muito. O governo acaba funcionando como escola de administração, aonde as pessoas vão mais aprender do que fazer. E há, sobretudo, o estilo patrimonialista de governar, que compreende o uso do setor público como se fosse propriedade do partido, de seus aliados e de algumas corporações. É a privatização viciosa que atrapalha a virtuosa. Por último, a publicidade massiva e a espetacularização permanente - esta, sim, competente - das realizações não cumpridas fecham o círculo: ilude o próprio governo, amolece o trabalho e dificulta as soluções.
José Serra, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

POLÍTICAS E COSTUMES (1)

(1) O título, se o artigo original ainda não o tivesse, poderia ser: A CHEGADA DO INGSOC AO PODER - ou - MINISTRA DA VERDADE PUNE MAIS UMA CRIMIDÉIA, que é o CRIME no Romance de George Orwell, 1984, publicado em 1949.

O Romance versa sobre a transformação da realidade, disfarçada de democracia, num lugar chamdo de Oceania, onde se instalou um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do onipresente Grande Irmão (Big Brother). O livro é narrado em terceira pessoa e conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, que exerce suas funções no Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido, como se fosse um jornalista, um historiador, um dramaturgo, como sói ser agora a Sra Iriny Lopes. Caso alguém discordasse das ações do Ministério,  cometia CRIMIDÉIA - crime de idéia em novilíngua  - e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e era vaporizado. Desaparecia.
POLÍTICAS E COSTUMES, de  Denis Lerrer Rosenfield

O grau de liberdade de um país se mede pela liberdade de seus costumes, pelas escolhas que cada cidadão faz do que estima ser melhor para si, sabendo reconhecer no outro um portador dos mesmos direitos. A sociedade brasileira tem tornado um valor seu a liberdade dos costumes, alterando velhos hábitos e mesmo legislações restritivas à liberdade de escolha. Recentemente, contudo, surge uma onda, patrocinada por agentes governamentais, do politicamente correto que procura reverter essa tendência, fazendo-o em nome de uma posição aparentemente "progressista". O retrocesso está mudando de nome.
Há setores do governo, que têm uma visão definitivamente autoritária das relações políticas, invadindo, sem nenhum pudor, a esfera do privado, daquilo que é próprio de cada um. O poder passa a ser exercido sob a forma de controle da vida individual, em que, por princípio, nada se coloca fora do seu alcance. A liberdade de escolha - e, por extensão, de iniciativa -, econômica, de imprensa, de publicidade, é fortemente atingida. Engana-se quem pensa que se trata de ações apenas pontuais. Em cada caso específico se revela toda uma concepção de mundo, das relações pessoais e, mais particularmente, dos costumes.
A última em série - mas, infelizmente, não a última de um processo que parece interminável - está na tentativa da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República de enquadrar a novela Fina Estampa, da Globo. O motivo, aparentemente anódino, diz respeito a um personagem que na trama humilha e bate na mulher. Segundo o enredo, a personagem agredida é aconselhada por amigas a prestar queixa do marido, porém não o faz porque diz amá-lo. Trata-se, na verdade, de um retrato do que ocorre com muitos casais pelo País afora, sem que intervenha aqui nenhum juízo de valor. Cabe, isso sim, ao telespectador elaborar o seu.
Mas a secretária sugere em ofício enviado à TV Globo que esta mude seu enredo. Segundo ela, a mulher agredida deveria procurar a Rede de Atendimento à Mulher, ligando para o telefone 180. Sugere ainda que o agressor seja não só punido, mas encaminhado aos centros de reabilitação da Lei Maria da Penha. Aqui, a secretária já está se tornando especialista em dramaturgia. A "lei" do politicamente correto deveria, então, passar a reger a elaboração das novelas e - por que não? - do cinema também.
O assunto é especialmente grave porque implica interferência governamental direta na liberdade de expressão, ainda que feita sob a forma de "sugestão". Sugestão de ministra não é conselho de uma cidadã qualquer, mas de uma agente estatal. Trata-se de uma recomendação oficial. Num primeiro momento, estamos diante de um fato menor, mas o problema é que a moda pode pegar. Logo, num segundo momento, qualquer agente público estaria no direito de se tornar um dramaturgo oficial.
Retomando o genial Stanislaw Ponte Preta, estamos diante de outro episódio do festival de besteiras que assola o país. O problema é que esse festival se apresenta como politicamente correto, estabelecendo normas de como deveriam ser os costumes e de como a liberdade de escolha deveria ser cerceada.
No festival em curso temos várias peças dignas de menção. Uma delas é sobre advertências, que deveriam estar inscritas em roupas íntimas de homens e mulheres, quanto aos perigos do câncer de próstata e de mama. Trata-se de uma invasão do domínio daquilo que é mais próprio de cada um, de sua vida íntima. Imaginem uma situação amorosa em que o homem olha o sutiã da companheira e lhe pergunta se tem feito mamografia. Ela, surpresa, olhando a cueca, retruca se ele fez exame de próstata. No auge da relação amorosa, o câncer, a morte, introduz-se numa relação de Eros, de vida. Não há clima que resista!
O clima, evidentemente, se esvai, dando lugar a uma conversa sobre os perigos de uma doença que pode ser mortal. Tânatos, a pulsão de morte, toma o lugar de Eros, pulsão de vida. E isso é feito pelo Estado, que diz proteger a vida contra a morte! A vida privada deveria, acima de tudo, ser preservada de intervenções estatais, por mais politicamente corretas que sejam. Eis o perigo maior. O Estado torna-se agente de Tânatos.
O festival não tem fim. A reincidente Secretaria de Políticas para Mulheres também vem tentando tirar do ar um comercial de lingerie com a modelo Gisele Bündchen por esta se insinuar, no uso de seus atributos femininos, num pedido ao marido. Nada de muito particular no fato, não fosse a "polícia" do politicamente correto procurando ditar o que deve ou não ser veiculado numa propaganda televisiva.
Seja dito de passagem que o anunciante da tal lingerie agradece, compadecido, a iniciativa governamental, pois a publicidade alcançada foi muito maior do que a prevista, seja ou não tirada a propaganda do ar. Jamais esse comercial teria atingido tal grau de publicização não fosse a interferência estatal.
O assunto encontra-se atualmente no Conar, órgão autônomo de regulação da publicidade, para análise de sua adequação ou não ao seu Código de Ética. Espera-se que essa entidade tenha o bom senso de rechaçar a interferência naquilo mesmo que é o fundamento da ética: a liberdade de escolha, livre das amarras governamentais.
O assunto é da maior gravidade, apesar de seu aspecto francamente cômico. Um agente estatal tem a pretensão de passar a decidir o que deve ou não ser veiculado na publicidade, interferindo em sua própria mensagem e criatividade. O mais preocupante, contudo, é que ele se crê imbuído da "crença correta" do que devem ser os costumes humanos. O governo arroga-se em instrumento de uma espécie de dever-ser moral que teria como função passar a ditar as normas dos comportamentos politicamente corretos.
Denis Lerrer Rosenfield, professor de Filosofia na UFRGS; e-mail: denisrosenfield@terra.com.br - O Estado de S.Paulo

DOUTOR LULA

Lula, como Brizola, é um grande comunicador. Mas, como Brizola também, é um grande populista.
A característica fundamental desse tipo de líder é, como escreve o professor Pierre-André Taguieff (A Ilusão Populista - Ensaio sobre as Demagogias da era Democrática, Paris, Flammarion, 2002), que se trata de um demagogo cínico. Demagogo - no sentido aristotélico do termo - porque chefia uma versão de democracia deformada, aquela em que as massas seguem o líder em razão de seu carisma, em que pese o fato de essa liderança conduzir o povo à sua destruição. O cinismo do líder populista já fica por conta da duplicidade que ele vive, entre uma promessa de esperança (e como Lula sabe fazer isso: "Os jovens devem ter esperança porque são o futuro da Nação", "o pré-sal é a salvação do brasileiro", e por aí vai), de um lado, e, de outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor, a desconstruir, com a falência das instituições que garantiriam a esse povo chegar lá, à utopia prometida...
Lula acelerou o processo de desconstrução das instituições que balizam o Estado brasileiro. Desconstruiu acintosamente a representação, mediante a deslavada compra sistemática de votos, alegando ulteriormente que se tratava de mais uma prática de "caixa 2" exercida por todos os partidos (seguindo, nessa alegação, "parecer" do jurista Márcio Thomas Bastos) e proclamando, em alto e bom som, que o "mensalão nunca existiu". Sob a sua influência, acelerou-se o processo de subserviência do Judiciário aos ditames do Executivo (fator que nos ciclos autoritários da História republicana se acirrou, mas que sob o PT voltou a ter uma periclitante revivescência, haja vista a dificuldade que a Suprema Corte brasileira tem para julgar os responsáveis pelo mensalão ou a censura odiosa que pesa sobre importante jornal há mais de dois anos, para salvar um membro de conhecido clã favorável ao ex-mandatário petista).
Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradição de seriedade da diplomacia brasileira, aliando-se a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidades nessa empreitada, brandindo a consigna de um "Brasil grande" que é independente dos odiados norte-americanos, mas, certamente, está nos causando mais prejuízos do que benefícios no complicado xadrez global: o País não conseguiu emplacar, com essa maluca diplomacia de palanque, nem a direção da Unesco, nem a presidência da Organização Mundial do Comércio (OMC), nem a entrada permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Lula, com a desfaçatez em que é mestre, conseguiu derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal, abrindo as torneiras do Orçamento da União para municípios governados por aliados que não fizeram o dever de casa, fenômeno que se repete no governo Dilma. De outro lado, isentou da vigilância dos órgãos competentes (Tribunal de Contas da União, notadamente) as organizações sindicais, que passaram a chafurdar nas águas do Orçamento sem fiscalização de ninguém. Esse mesmo "liberou geral" valeu também para os ditos "movimentos sociais" (MST e quejandos), que receberam luz verde para continuar pleiteando de forma truculenta mais recursos da Nação para suas finalidades políticas de clã. Os desmandos do seu governo foram, para o ex-líder sindical, invenções da imprensa marrom a serviço dos poderosos.
A política social do programa Bolsa-Família converteu-se numa faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres, levou à dependência do favor estatal milhões de brasileiros, que largaram os seus empregos para ganhar os benefícios concedidos sem contrapartida nem fiscalização. Enquanto ocorria isso, o Fisco, sob o consulado lulista, tornou-se mais rigoroso com os produtores de riqueza, os empresários. "Nunca antes na História deste país" se tributou tanto como sob os mandatos petistas, impedindo, assim, que a livre-iniciativa fizesse crescer o mercado de trabalho em bases firmes, não inflacionárias.
Isso sem falar nas trapalhadas educacionais, com universidades abertas do norte ao sul do País, sem provisão de mestres e sem contar com os recursos suficientes para funcionarem. Nem lembrar as inépcias do Inep, que frustraram milhões de jovens em concursos vestibulares que não funcionaram a contento. Nem trazer à tona as desgraças da saúde, com uma administração estupidamente centralizada em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios onde os cidadãos morrem na fila do SUS.
Diante de tudo isso, e levando em consideração que o Brasil cresceu na última década menos que seus vizinhos latino-americanos, o título de doutor honoris causa concedido a Lula, recentemente, pela prestigiosa casa de estudos Sciences Po, em Paris, é ou uma boa piada ou fruto de tremenda ignorância do que se passa no nosso país. Os doutores franceses deveriam olhar para a nossa inflação crescente, para a corrupção desenfreada, fruto da era lulista, para o desmonte das instituições republicanas promovido pelo líder carismático e para as nuvens que, ameaçadoras, se desenham no horizonte de um agravamento da crise financeira mundial, que certamente nos encontrará com menos recursos do que outrora. Ao que tudo indica, os docentes da Sciences Po ficaram encantados com essa flor de "la pensée sauvage", o filho de dona Lindu que conseguiu fazer tamanho estrago sem perder a pose. Sempre o mito do "bon sauvage" a encantar os franceses!
O líder prestigiado pelo centro de estudos falou, no final do seu discurso, uma verdade: a homenagem ele entendia ter sido feita ao povo brasileiro - que paga agora, com acréscimos, a conta da festança demagógica de Lula e enfrenta com minguada esperança a luta de cada dia.

Ricardo Vélez Rodrígues, coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora; e-mail: rive2011@gmail.com - O Estado de S.Paulo


domingo, 9 de outubro de 2011

O DIREITO DE PUNIR

A resposta que o STF deve dar sem subterfúgios é: o Conselho Nacional de Justiça tem legitimidade?

Nenhuma das duas explicações disponíveis torna aceitável, eticamente, a decisão do Supremo Tribunal Federal de retirar de sua agenda a decisão sobre o atual poder do Conselho Nacional de Justiça de investigar e de punir juízes. E não só de revisar as investigações e conclusões das respectivas corregedorias locais, tidas por complacentes sob influência do companheirismo.
Conta uma das explicações que o engavetamento temporário motivou-se na divisão acirrada da magistratura em geral, o que fazia prever desdobramentos negativos no Judiciário, fosse a decisão em um ou outro sentido.
A Associação dos Magistrados Brasileiros, autora da ação contra os atuais poderes do conselho, tem a oposição dos Magistrados Pela Democracia, da OAB e de outros segmentos. E os próprios integrantes do Supremo aparentam divisão firme.
De fato, na sessão do STJ em que o julgamento figurou na pauta do dia, o ministro Marco Aurélio Mello opinou, com certa vaguidão e incertos sorrisos, que "o clima não era propício" a realizá-lo. Não precisaria ser explícito. Houve o adiamento. Mais tarde, confabulações internas transformaram adiamento em suspensão do caso na agenda de julgamentos. E, fora do Judiciário, ninguém mereceu ser honrado com esclarecimentos sobre a decisão e as perspectivas daí decorrentes.
A outra explicação, plausível, mas sem fatos comprobatórios, faz a concessão de reconhecer a opinião pública e, até além, de atribuir-lhe algum valor mesmo no Supremo.
Cientes da ampla opinião favorável, no país, aos atuais e até a maiores poderes do conselho, os ministros do Supremo quiseram evitar mais danos à imagem do próprio tribunal, no caso provável de decisão que retorne aos procedimentos anteriores à criação do conselho. O STF ainda nem se refez da sua depreciação por julgamentos recentes.
O que se tem é uma situação simples, guardada por silêncio tão injustificável quanto ela mesma. Faltam elementos objetivos, de ordem processual ou factuais, para o julgamento da causa? Não. Ou, pelo menos, nenhum dos ministros levantou tal carência.
Ainda que haja outras explicações, além das duas referidas, o adiamento impreciso da decisão é, portanto, apenas uma solução de conveniência. E conveniência interna. Não ditada por motivos de ordem pública ou ordem institucional.
Muito ao contrário, é de necessidade, para ambas, que os poderes de investigação e punição fiquem definidos com clareza. A opinião pública percebeu isso muito bem.
A resposta que interessa, e que o Supremo deve dar sem subterfúgios, é esta: o Conselho Nacional de Justiça, tal como está criado e age, tem legitimidade ou não? E pronto.
Em tempo: não é fácil admitir que ministros do Supremo Tribunal Federal tenham posto a causa em suspenso, como na esperta atitude de lavar as mãos, à espera de que o Congresso vote um dos projetos surgidos da divisão sobre o conselho e fique como responsável pela decisão.
(Nelson Jobim atribui artigos assim a inspirações fornecidas pelos juristas Fábio Konder Comparato e Celso Bandeira de Mello. Por dever de justiça para com ambos, devo dizer que a Fábio Comparato, com pesar, não vejo nem ao menos ouço há vários anos. A Bandeira de Mello, lamento a falta de oportunidade de tê-lo conhecido ou ao menos ouvido alguma vez).

JANIO DE FREITAS/FOLHA DE SP - 09/10/11

O ESPÍRITO DO NOSSO TEMPO

Que significado se pode extrair da constatação de que a família e os partidos políticos habitam as duas extremidades do território da confiança social? A resposta é exatamente o que a pergunta denota: o núcleo familiar (com 90 pontos) é a instituição que mais merece respeito da sociedade, enquanto os atores políticos (com apenas 28) são os mais desacreditados, conclusão que ganha peso com o apêndice de que o Congresso Nacional está em penúltimo lugar (um pouco acima dos partidos) no ranking da confiança nacional.

Essa radiografia, tirada pelo Ibope Inteligência de um conjunto de 18 organizações e 4 grupos sociais, deixa o universo político-partidário no fundo do buraco. Para piorar, anote-se o detalhe: o índice de confiança apurado na pesquisa refere-se às pessoas jurídicas, e não à pessoa física dos representantes. Ou seja, uma crise de confiança corrói a imagem das instituições brasileiras. O retrato fica mais borrado ao se verificar que, além de partidos e Congresso, outras esferas, como os governos federal e municipais, e até o Poder Judiciário, vêm registrando acentuada queda em sua pontuação. É inescapável a conclusão de que a comunidade nacional atinge, na atual quadra, a maior distância que já manteve da esfera política. Pior é saber que essa mancha não entra na lupa dos membros das instituições avaliadas.

O que aciona o sistema cognitivo das pessoas para aumentar ou diminuir sua confiança nas instituições? Simples: o que elas veem, ouvem e sentem. Donde se deduz que sua percepção sobre a classe política e os abrigos que a envolvem é a pior possível. Vale lembrar que os níveis de compreensão obedecem a um continuum na escala social, abrigando desde a exacerbação de conjuntos médios e superiores da pirâmide ao estado impermeável da base, mais propensa a reclamar de serviços públicos fundamentais. Exemplo é o sistema público de saúde, que teve a maior queda no ranking da confiança. Inegável, porém, é que as instâncias políticas - em todos os níveis e territórios - pouco têm contribuído para motivar a sociedade. Eleições, de dois em dois anos, são fenômenos previsíveis e com perda gradativa de impacto. Os índices de renovação no Congresso até são expressivos (cerca de 50%), o que não redunda em mudança nos padrões políticos, eis que a radiografia continua a acusar as velhas mazelas: cooptação eleitoral nos moldes antigos, partidos pasteurizados, remota chance de o representante ter projetos aprovados nas Casas congressuais, presidencialismo imperial levando de reboque o Legislativo, trocas no balcão de interesses, manutenção do status quo no plano da reforma política.

O pano de fundo é tétrico. A via política tem sido pavimentada por baterias de escândalos, alguns de alto teor explosivo - mensalão, flagrantes de pacotes de dinheiro entregues a políticos e, ultimamente (caso que agita a Assembleia de São Paulo), denúncias de "venda de emendas parlamentares" -, tudo isso sob os holofotes da mídia e com repiques que acabam se infiltrando nos espaços do centro e das margens sociais. Ao fim dos bombardeios, nuvens cinzentas baixam sobre o edifício da política, sujando a imagem de seus habitantes. O efeito se faz sentir na desafeição pela política tradicional. E na substituição por outra modelagem que contempla novos circuitos de representação (associações, movimentos) e fontes diferentes de mobilização (categorias profissionais nas ruas, caravanas nos corredores congressuais), na esteira do que se chama democracia supletiva. Questões abrangentes dão vez a ações pontuais em defesa de algumas comunidades.

A micropolítica, da ação localizada e imediata, passa a ser a munição dos grupos de pressão. E assim a instituição política vai descendo degraus na escada da confiança social, enquanto outras entidades ascendem a posições mais elevadas. Não por acaso, os bombeiros, as igrejas e as Forças Armadas lideram o ranking da confiança social. A primeira constrói uma imagem de instituição atrelada ao dever de proteger a sociedade e debelar tragédias cotidianas; por falta de perfis admiráveis, os bombeiros entram na escala heroica. As Forças Armadas, em tempos de harmonia social, exprimem o ideário da autoridade e da hierarquia, valores que ganham proeminência no meio dos sinais de desordem e improvisação que permeiam a vida social e política. Já as igrejas encarnam a fé, arregimentando em seus templos multidões que descreem dos poderes terrenos e das vãs promessas da política. Desse novo diagrama institucional emerge uma nova arquitetura, com destaque para a multiplicação de novos polos de poder e força.

A leitura final mostra que a confiança é um produto em queda no balcão dos valores nacionais. Ao lado do painel construído pelo Ibope, há outro, desenhado pela Fundação Getúlio Vargas, que também aponta para queda na confiança de empresários e consumidores, afetados pela deterioração do cenário internacional e seus reflexos na economia. O refluxo se dá ultimamente nos Índices de Confiança do Consumidor (o menor índice desde março do ano passado), da Indústria (o menor desde agosto de 2009) e de Serviços (o menor desde janeiro). Apesar de tratarem de objetos diferentes, pois a cena institucional incorpora elementos diferentes dos fatores que influem nos mercados de produção e consumo, os índices de confiança em queda apontam para um ambiente circundado por devastação, desolação e medo. A falta de oxigênio nos pulmões políticos reduz as chances de aparecerem perfis capazes de reanimar as veias sociais. A política é uma seara seca. A precariedade de serviços públicos essenciais, por sua vez, multiplica feridas, abrindo fossos nas margens. E quando poderosas nações do planeta não conseguem apagar as fogueiras que devastam suas economias, o sopro do pânico adentra todos os espaços.

É o espírito do nosso tempo.


Gaudêncio Torquato é jornalista, professor itular da USP, consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato - O Estado de S.Paulo