segunda-feira, 9 de abril de 2012

“Pressionado por lideranças nacionais do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que acha que seu nome tem apelo e unificaria as oposições, o tucano Arthur Virgílio balança entre a possibilidade de ser candidato a prefeito de Manaus e a esperança de reconquistar o mandato de senador na Justiça. Mas tem certeza de uma coisa, não vai disputar eleição para a Câmara Municipal de Manaus. “Não é uma coisa que o meu coração me indique pra ir. Nem meu cérebro”. Em visita ao Portal do Holanda, antes de viajar para Brasília, onde terá encontro com a cúpula do seu partido para acertar a estratégia definitiva para as eleições municipais deste ano, Arthur Virgílio disse que a candidatura a prefeito será avaliada “com sensatez, mas não descarto”. Deixou nas entrelinhas a indicação de que vai seguir a cartilha dos outros três líderes que influenciam na disputa: Omar Aziz, Eduardo Braga e Amazonino Mendes. "Considero cedo para tomar uma atitude”. Numa eventual disputa pela prefeitura, Arthur diz que não teria adversários pessoais, “eu teria uma infinidade de adversários”, afirma, citando a falta de saneamento básico, a desorganização do Centro Histórico de Manaus, os buracos das ruas, os serviços deficientes de transporte, de saúde e o sistema educacional. Contra o prefeito Amazonino Mendes afirma não ter nenhuma posição sectária e o elogia por ter criado a UEA. “Eu entendo, porém, que o prefeito Amazonino faz um governo comum. Um governo tradicional, aquela coisa de sempre”, diz, acrescentando em seguida: “um governo que parece um pouco a seleção brasileira, sem brilho, sem criatividade, repetindo fórmulas”. Sobre a política nacional, desejou sorte ao conterrâneo Eduardo Braga na tarefa espinhosa de liderar uma bancada que não está unida e um governo que ainda não conseguiu fazer acordo com o maior partido aliado, o PMDB de Braga. “Sua indicação parece ser assim contra certas lideranças do partido”, analisa e afirma: “Nessa fase em que ele está ali, se ambientando, ele toma algumas bolas nas costas que talvez o leigo não perceba mais que eu tenho obrigação de perceber”.

ENTREVISTA DO EX-SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NETO AO PORTAL DO HOLANDA, NO DIA 08.04.2012.

Do Portal do Holanda, 08.04.2012.



ARTHUR FALA DE CANDIDATURA, DIZ QUE TORCE PELO SUCESSO DE BRAGA COMO LÍDER DE DILMA E QUE AMAZONINO NÃO FAZ GOL.

Pressionado por lideranças nacionais do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que 

Portal do Holanda - Bom, vamos começar pelo mais recente. O PSDB está querendo que o sr. seja candidato a prefeito, pois pretende lançar candidato em todas as capitais. Esse é um fato novo ou o sr. já estava trabalhando com uma possibilidade de ser candidato? 

Arthur - Não, não estava pensando na candidatura por duas razões bem básicas. Eu tenho um processo correndo na Justiça, processos movidos pelo Ministério Público contra a fraude eleitoral de 2010, no Senado, que corre na justiça eleitoral do Amazonas, aqueles contra os mandatos eletivos, e são três, contra dois candidatos. Coisas individuais, acusações bem individuais, não há mistura de candidatos com processos, cada um tem o seu. E aqueles outros dois, também, contra os diplomas, começam já (a tramitar) no Tribunal Superior Eleitoral. Em ambas as situações nós estamos perto das alegações finais. E eu tenho consciência de que não perdi a eleição, não a perdi, o povo do Amazonas sabe disso, e como cidadão eu me acho no direito de ver a justiça sendo feita.

PH -  O sr. teme de algum modo um julgamento nos tribunais superiores, pelo fato de a maioria dos ministros atuais terem sido indicados pelo governo do PT, já que o ex-presidente Lula foi seu maior adversário político?

Arthur - Eu, nesse aspecto, quero até fazer justiça ao ex-presidente Lula. E até o momento, à própria presidente Dilma que indicou um ministro que está se saindo muito bem. Eu sempre achei que tanto o Lula, como a própria Dilma, tem sido mais criteriosos ao escolher ministros de cortes elevadas do que ministros de Estado. O ministério que está aí é um ministério debochado. É um ministério que abriga o ministro Fernando Pimentel que não tem mais a menor condição de permanecer à testa do ministério. Ela aceitou a demissão de sete ministros e resolveu que ele não sairia, apesar de todo o desgaste. Eu devo dizer que a esperança que eu tenho me indica que quando alguém chega ao Supremo Tribunal Federal ele se imbui do espírito da Corte. Ele se desliga dos apadrinhamentos. E a maior homenagem que um ministro pode fazer a quem o indicou é ser independente dele. E tem sido assim, de um modo geral. Eu vejo, por exemplo, esse episódio do Mensalão que tem que ser julgado este ano, não tem o que discutir. Vai haver uma pressão de opinião pública muito grande e vai ser uma coisa muito mais forte do eu aquela pelo Ficha Limpa. 

O presidente Lula nomeou mais ministros que qualquer outro presidente da história republicana brasileira, mas eu sinceramente não temo o julgamento dos ministros do presidente Lula. Não temo. São pessoas extremamente preparadas, extremamente cultas. Ele foi criterioso na indicação dos ministros de um modo geral.

PH - No caso de uma decisão desfavorável o sr. não seria mesmo candidato nem a prefeito nem a vereador por Manaus?

Arthur - Andaram falando que eu seria candidato a vereador. Eu não vejo o menor sentido nisso, pelo menos no que eu tenho de raciocínio político atualmente não casa comigo. Não que eu menospreze a Câmara Municipal, nem que eu desconheça o fato de que eu poderia fazer uma bancada forte. Mas não é uma coisa que o meu coração me indique pra ir. Nem meu cérebro.


Mas a orientação nacional do seu partido é lançar candidatos fortes em todas as capitais.


Sobre essa questão da prefeitura tem uma estratégia nacional de lançar candidatos mais fortes que a gente possa, no máximo de capitais, de preferência em todas, e no máximo das 20 principais cidades do país. Eu tenho sentido essa pressão e tanto da direção nacional do partido quanto de companheiros daqui que entendem, primeiro, que o nome unificaria, e segundo, que teria um sentimento em torno dele.


Isso é algo que eu avaliarei com sensatez, e não descarto, na medida em que as pessoas que ponderam são pessoas da maior relevância da vida pública aqui no Estado e para o meu conceito de homem público no país, como é o caso do presidente FHC. Mas ainda considero temprano, considero cedo para tomar uma atitude e dizer. Não me sinto nem um pouco atrasado, nós do PSDB não nos sentimos atrasados em relação aos demais partidos.


São várias forças políticas que tem que se prenunciar. Não acredito que o PMDB do senador Eduardo Braga não vá se manifestar, que o PSD do governador Omar Aziz não vá se manifestar. Aí eu estou me referindo a duas lideranças bastante fortes do Estado, que também terão capacidade de influenciar numa eleição.


PH - Deixe eu lhe perguntar uma coisa...

Arthur - Só para concluir: nós estamos no mesmo pé. Não estamos atrasados, nós estamos conversando, nos definindo e na hora própria vamos dar o pronunciamento definitivo.

PH - O sr. já enfrentou aqui em Manaus as mesmas forças políticas que hoje estão no poder. Enfrentou sozinho e venceu. Numa eventual campanha a sua disposição hoje, e motivação, seriam as mesmas?


Arthur - Se eu fosse comparar, digamos assim, a minha força física de 1988 pra cá, eu diria que ela não deveria ser a mesma, mas talvez ela seja maior que a de muita gente mais moça do que eu. A última eleição para o Senado provou um pouco isso. Eu não dispunha de aviões e helicópteros em profusão como tinham tantos. Foi uma campanha modesta, sim.


Eu usei um tico-tico de helicóptero, usei um tico-tico de avião, mas era uma cosia que não dava pra fazer comitivas e levar 500 pessoas. Parecia um exército romano chegando numa cidade do interior. Foi assim que meus adversários se portaram. E eu sustentei no braço a eleição, pra perder por bem menos do que 1% dos votos, depois tudo aquilo que o MP constatou como sendo indícios muito fortes de fraude eleitoral, de desonra na eleição. Então, eu me sinto muito forte.

PH - Numa disputa hoje, quem seria o seu adversário?

Arthur - Seu eu tivesse que disputar uma eleição, eu teria uma infinidade de adversários. Eu teria a falta de saneamento básico, a desorganização do Centro Histórico de Manaus como adversário. A Copa está às vésperas e eu não estou vendo soluções convenientes para preparar o Centro Histórico para o turismo, teria que ser revitalizado. Os buracos das ruas, o transporte deficiente, o serviço deficiente de saúde, o sistema educacional convencional, muito de fazer escola e inaugurar, achando que é uma grande coisa colocar ar condicionado.


Eu estou me referindo agora a professor bem pago, professor reciclado para dar aula de alto nível para os alunos. Eu estou falando de outro assunto, não estou falando de prédio, porque o prédio com ar condicionado pode ser vir pra qualquer coisa, inclusive pra casa de bingo. Já que está na moda aí o tal Cachoeira. Uma escola que prepare os alunos para a competição na vida.

PH - Como o sr. avalia a administração do prefeito Amazonino Mendes?

Arhur - Falando assim mais diretamente, me referindo no caso à administração do prefeito Amazonino Mendes, se eu dissesse que o prefeito Amazonino não está realizando nada seria injusto. Eu vejo obras significativas, gostei desse projeto inicial da Ponta Negra, ele tá bonito, eu vejo que deu um bom ataque de tapa buraco na cidade, estou aguardando a solução do BRT, que está sendo trabalhado e que é um dos projetos para termos êxito no Amazonas para a Copa de 2014.


Mas na minha opinião ele faz um governo comum, um governo que parece um pouco a seleção brasileira, sem brilho, sem criatividade, repetindo fórmulas, e Manaus precisa de muito mais do que isso, precisa de efetiva inovação, de efetiva prioridade aos problemas essenciais. Ele faz um governo tradicional, aquela coisa de sempre: aquela escola que põe um ar-condicionado, e você não percebe ganhos na qualidade do ensino. Abre um posto de saúde e você não percebe ganhos na qualidade da saúde distribuída para a população.

Pra deixar bem claro que não se trata de nenhuma situação sectária com relação ao prefeito, eu considero que ele tem na vida pública dele uma grande realização. E na época eu estava errado, porque eu estava contra a posição dele. Foi a criação da UEA quando ele era governador. É uma grande obra. Uma obra pra edificar.


Eu vejo Manaus com sua infraestrutura arrebentada. Isso aí seria um trabalho para um bom prefeito fazer com o governo do Estado e com o governo federal. Manaus tem que receber contribuição da prefeitura sim, na questão da segurança pública, embora a parte principal caiba ao governo do Estado. Não dá pra dizer “segurança pública não é comigo, é com o governo do Estado, é com o governo federal”, não dá pra dizer isso. Tem que dizer “é comigo também. É com o prefeito de Manaus, aquele que administra a cidade”.

PH - Hoje nós temos uma bancada federal governista. Temos o líder do governo no senado. Como o sr. avalia o desempenho da bancada diante de tantas mudanças que atingem a Zona Franca?

Arthur - Eu vejo um distanciamento brutal, e vejo também um certo alheamento político. As batalhas tem de ser travadas para que não prossiga o que está em marcha, que é o processo do esvaziamento do Polo Industrial de Manaus. Várias medidas têm sido tomadas, e eles (o governo Dilma) se escondem atrás desse fenômeno inevitável que é a convergência digital, para dizer que não podem proteger mais do que até então foi protegido o polo de Manaus.


Mas fato é que está havendo um claro esvaziamento, é como alguém que tá caindo do 20º andar e até o 12º ele acha que não aconteceu nada, mas daqui a pouco ele vai sentir o contato duro com o solo. Isso demora alguns anos, evidentemente. Eu tenho usado uma expressão que é o contraste entre o presente-passado, no qual se louvam alguns líderes que não estão enxergando com lucidez a questão da Zona Franca, e presente-futuro, que são as perdas que temos sofrido, qualitativas, que vão ser quantitativas, brevemente.


E que se resumem em tirar de nós os segmentos mais dinâmicos tecnologicamente, mais promissores economicamente, e nos deixaram relegados a produzir aquilo que mais hora menos hora também vai acabar fenecendo.

PH - E quanto à liderança do senador Eduardo Braga?

Arthur - Em relação ao senador Braga, que foi escolhido o líder do governo, eu confesso que não entendi bem o processo que levou a essa indicação. Não entendi bem até hoje. Vejo as falas dele, estou acompanhando. Mas custo a entender um pouco o processo que se armou, porque eu não consigo ver a presidente Dilma governando sem fazer um acordo que ainda está por vir, esse acordo não veio, com o PMDB, ao qual pertence o senador Braga.


E como sua indicação pareceu ser algo assim contra certas lideranças do partido, a gente percebe com clareza que nessa fase em que ele está ali, digamos assim, se ambientando, ele toma algumas “bolas nas costas” que talvez o leigo não perceba, mas que eu tenho obrigação de perceber.  O presidente Sarney diz “vamos fazer uma votação da reforma política amanhã” e todo mundo fica pensando: “nossa, como pode propor uma coisa dessa se não teve acerto com o colégio de líderes, sabe que não vai dar em nada, ano de eleição não é ano de votar reforma política?”.


Mais recentemente, depois do rompimento do PR com o governo, que durou vinte e poucos dias, o senador Eduardo Braga teria dito: “Olha, o PR tem condições pra voltar à base”. Aí há uma articulação paralela a ele comandada pelo senador Gim Argello, líder do PTB/DF, habilidoso negociador,  que trouxe para o redil do governo de volta o PR, fazendo uma bancada ponderável de 12 senadores e muito ligada, pelo que eu entendo, aos senadores Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.


Então, eu torço para que o nosso conterrâneo Eduardo Braga se encontre, se firme e que faça isso em nome de também ele se mostrar capaz de montar uma couraça de proteção ao Polo Industrial de Manaus. Enfim é um conterrâneo, torço para que amealhe prestígio e que isso sirva pra proteger a Zona Franca também. Senão não tem nenhuma valia, não tem nenhuma validade.

PH - Voltando à eleição municipal. Na hipótese do sr. não ser candidato, o PSDB tem já definidos nomes para a disputa, tem nome totalmente qualificado para apresentar?

Arhur - Tem sim. Nós, inclusive devemos primeiro avaliar qual é o meu papel nisso. Segundo, avaliar os nossos nomes. Estamos longe de ter definição por um nome de fulano ou sicrano. Nós temos que analisar densidade eleitoral inicial, capacidade de fazer alianças. Às vezes é uma pessoa que tem densidade eleitoral boa, mas não é capaz de agregar.  É um fator limitador, não que dizer que vai inviabilizar o nome, mas é limitador.


Dá pra citar por exemplo o do ex-vereador Plínio Valério, que foi extremamente bem votado na última eleição para deputado federal, o ex-vereador Paulo De Carli que é um jovem muito disposto à luta e muito preparado. Nós temos o senador Jefferson Praia que é uma figura de honradez comprovada e que também saiu bastante bem na sua última eleição para o Senado, o vereador Mário Frota, que já foi vice-prefeito, deputado federal três vezes e deputado estadual. Ou seja, reúne experiência para disputar uma eleição.


E evidentemente que não podemos nos fechar a conversas com setores de fora do partido. E nas conversas com setores de fora do partido, eu não entendo que nós devemos chegar impondo. Sentar numa reunião dizendo que está tudo muito bem, desde que o candidato seja o meu, isso significa que não está tudo bem.

PH - Então há possibilidade de haver uma coligação em que o PSDB não seja a cabeça de chapa?

Arthur - Eu te digo assim: a intenção dos nossos candidatos pré-candidatos a vereador, dos nossos pré-candidatos a prefeito, a intenção da maioria do partido é no sentido de que nós tenhamos candidatura. Agora, o partido vai procurar negociar. Se o partido tiver de negociar com setores ele tem que provar para esses setores que ele tem nomes mais convenientes para esses setores do que os nomes desses setores, para disputar a cabeça da chapa.


Então eu entendo que nós não devemos ter preconceito contra ouvir forças afins. Eu incluo entre essas forças afins o PSB, o DEM, o PPS, o PV. Política se faz à base de muita saliva durante as tratativas e muita sola de sapato gasta durante as eleições. E o PSDB tem que estar apto a cumprir as duas etapas. Tanto para negociar de maneira aberta e se não chegar a bom termo sai com força própria, como qualquer um tem direito de fazer. Sai isolado, mas pode sair com força própria, apoiado. E procurar fazer o melhor papel.

PH - Com os três principais líderes da base governista, Omar, Amazonino e Eduardo Braga fora da disputa, o sr. acha que este é um momento em que a oposição pode retomar o governo municipal?

Arhur - Através de um dos seus candidatos, sim. Eu via um favoritismo muito nítido no senador Eduardo Braga, mas sinceramente eu fiquei espantado que eu vi 44%.  O Amazonino quando saiu para o governo contra mim (1986), saiu com sessenta e tantos, uma coisa de louco. O Gilberto depois (1988), também sessenta e tantos. E olhe que eu vinha de uma eleição de governador dura contra o Amazonino, vinha de um recall muito forte.  Mas naquela eleição com o Gilberto eu acabei ganhando. Mas eram eleições em que esses caciques, eles saiam com uma gordura pra queimar muito grande.


Mesmo com o senador Braga teria o segundo turno. Seria uma eleição que eu reconheço o favoritismo inicial dele, mas uma eleição que no segundo turno pode acontecer tudo. Inclusive a vitória do favorito. Porque se tem 43, passa para o segundo turno com 40%, 45, sei lá, fica mais perto de 50 do que aquele que passou pro segundo turno com 22%. Mas nada parecido com o passeio de ganhar no primeiro turno, enfim. Manaus tem uma tradição de eleição de dois turnos, entre quem entrar na eleição.