sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


HIPOCRISIA

Lisboa – O governo Lula privatizou estradas (sem obter resultados substantivos), bancos estaduais e, nem de leve, ameaçou desfazer qualquer das privatizações do período Fernando Henrique. Vale esclarecer, aliás, que Fernando Collor iniciou o processo, que Itamar Franco prosseguiu. Fernando Henrique modernizou a economia acabando com o mastodonte telefônico (para se conseguir uma linha era preciso ter amigo na política e telefone era tão caro que tinha de constar na declaração de Imposto de Renda dos “proprietários”) e permitindo que CSN, Vale, Embraer virassem gigantes exportadores.

São mais de 200 milhões de celulares movimentando a vida das pessoas. Foram bilhões e bilhões de dólares atraídos para uma economia antes fechada, pálida, incapaz de competir.

Mas Lula privatizou também. Não o critico por isso e sim, por exemplo, por ter sido incapaz de dar jeito nas estradas, mesmo transferindo muitas delas para mãos privadas. Critico-o por ter feito demagogia com pedágio, invalidando a necessária medida que se decidiu por tomar.

Agora, a Presidente Dilma Rousseff privatiza os aeroportos. Atitude correta. O estado brasileiro não tem como investir nesse setor na medida das necessidades que ele apresenta. Se as licitações forem corretas e competentes, poderão constituir-se em êxito econômico e administrativo.

Não a critico por estar privatizando aeroportos e sim pelo fato de haver hesitado demais em fazê-lo. A Copa do Mundo está às portas e as grandes unidades não ficariam prontas de não se tomasse a única atitude cabível e lógica.

Relembrando: Lula passou oito anos beneficiando-se da economia reformada que herdou de Fernando Henrique, ao mesmo tempo em que, para efeito de propaganda desonesta, demonizava as privatizações como se elas significassem crime de lesa-pátria. Não as desfez. Surfou a onda econômica para a qual elas em muito contribuíram. Não foi intelectualmente honesto para com os brasileiros.

Copiaram (ainda bem) a política econômica do adversário, embora a criticassem, deslavadamente, como se não a estivessem continuando. Denegriram as privatizações, enquanto eles próprios (felizmente) as mantinham e as ampliavam.

O nome disso é hipocrisia!

JOSÉ RÉGIO, PSEUDÔNIMO DE JOSÉ MARIA DOS REIS PEREIRA, NASCIDO EM VILA DO CONDE, PORTUGAL, NO DIA 17 DE SETEMBRO DE 1901 E FALECIDO EM 22 DE DEZEMBRO DE 1969. CASO FOSSE VIVO, ESTE ANO COMEMORARIA 111 ANOS. TALVEZ TENHA SIDO O ÚNICO ESCRITOR EM LÍNGUA PORTUGUESA QUE DOMINASSE COM MAESTRIA TODOS OS GÊNEROS LITERÁRIOS: POETA, DRAMATURGO, ROMANCISTA, NOVELISTA, CONTISTA, ENSAÍSTA, CRONISTA, JORNALISTA, CRÍTICO, MEMORIALISTA, EPISTOLÓGRAFO E HISTORIADOR DA LITERATURA, ALÉM DE EDITOR E DIRETOR, DESENHISTA, PINTOR E GRANDE COLECIONADOR DE ARTES SACRA E POPULAR. O POEMA DO SILÊNCIO É MAIS UMA DE SUAS BELAS E DRAMÁTICAS POESIAS QUE EMBELEZAM A LITERATURA UNIVERSAL.


POEMA DO SILÊNCIO

Sim, foi por mim que gritei. 
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

AINDA O CASO DOS HAITIANOS - MARCO BACURY COLOCA OS PINGOS NOS Is! REGISTRE-SE, QUE A COLUNISTA É CORAJOSA EM EXPOR O SEU PENSAMENTO, DOA A QUEM DOER... INFELIZMENTE. ESTAMOS EM UMA DEMOCRACIA, ONDE TODOS PODEM EXPRIMIR SUAS OPINIÕES, MESMO QUE DELAS SE DISCORDE. VALE AQUI COLOCAR O PENSAMENTO "VOLTAIREANO" SOBRE O PRECONCEITO: "LES PRÉJUGÉS, AMI, SONT LES ROIS DU VULGAIRE". TAMBÉM CABE O PENSAMENTO QUE NÃO É DE VOLTAIRE E SIM, DE EVELYN HALL: " EU DESAPROVO O QUE DIZES, MAS DEFENDEREI ATÉ A MORTE O SEU DIREITO DE DIZÊ-LO ".


Dona Mazé Mourão,

Sempre considerei muito importante a postulação do título de IMORTAL, principalmente aqui em nossa tribo BARÉ, onde pouco se faz notícia de uma ACADEMIA DE LETRAS tão honrada e bem representada. Agora, diante do borrado incidente jornalístico, tenho lá minhas dúvidas entre uns e outros da importância ou glória que isso encerra.

Seu comentário não foi maldoso - presumo -  porém com certeza foi muito infeliz, pobrezinho e  com um toque explícito de quem não se preocupa com o engrandecimento cultural das grandes massas.

Aliás, o fator mais infeliz continua sendo sua RENITÊNCIA, numa a postura arrogante de se mostrar indiferente às interpretações dadas ao seu breve artigo.

Como jornalista conceituada, com notoriedade indiscutível pela laureada ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS, talvez apenas tenha esquecido o que significam os verbetes REPUTAÇÃO e FAMA (Boa e má).

Diante de opiniões tão polêmicas, em paralelo, creio que a Senhora NÃO TEM O DIREITO de falar em nome do Sr.  GOVERNADOR OMAR AZIZ, nem mesmo de parafrasear suas opiniões, visto que os contextos e circunstâncias são diferentes.

Não sei de que lado a senhora se encontra, não somos amigos, nem sei quem apóia politicamente, porém é fato consumado que  seu comentário infeliz JOGOU LAMA no rosto  do Governador, ao mesmo tempo em que  deixou sua "imortalidade acadêmica" envolvida em um diagnóstico de PATOLOGIA CONTAGIOSA GRAVÍSSIMA, que antes de se querer ser "imortal", desejaríamos que fosse prontamente extinta, em morte súbita, para não contagiar ninguém com o vírus da arrogância racista.

Lembre-se aqui, respeitável senhora Mazé Mourão, que os corpos e mentes jazerão no túmulo com brevidade sorrateira, mas as LETRAS continuarão VIVAS, multiplicadas e continuadas pelos séculos, tal como afirmou um dia PÉRICLES DE MORAES (Acadêmico da AAL e também Cartorário, de quem tenho honra de ser colega de profissão).

Se existe mesmo tal imortalidade, desejo de coração que a senhora SEJA FELIZ aqui e um dia no além, após o seu pedido de desculpas.

Contudo, gostaria de lhe recordar mais uma vez  - presumindo que já tenha esquecido -  que  o nosso pai  veterano  MACHADO DE ASSIS também era um homem negro, pobre e suburbano,  descendente de escravos, que também “morcegava” os bondes no Rio de Janeiro de outrora, onde negros não tinham liberdade de tomar assento, mesmo sendo alforriado.

Naquele tempo, com o apoio de pessoas verdadeiramente iluminadas, ele (Machado de Assis) conseguiu TRANSCENDER e chegou até onde nós sabemos.

Diante de tal semelhança, permita-me interrogar curiosamente:
A Senhora não tem vergonha de manter NEFREDITE (sua fiel empregada que convive ao seu lado) em estado tão lastimável de poucas luzes? 

É lastimável perceber que a ESCRAVIDÃO do passado ainda se mantém pela ignorância dos que nos servem, independente de cor.

Se Nefredite existe ou não no mundo real, ou se faz pela sua imaginação - pouca importa - a vergonha nesse caso é somente sua...

Por tudo, acredito que a senhora comprometeu e ofuscou o brilho de nossa Academia, de toda nossa sociedade e comprometeu principalmente a imagem do nosso Governador no cenário nacional.

No entanto, entre tantos índios, negros, turcos e outras etnias aqui presentes na mesma taba, lhe desejo dias melhores (com LETRAS mais saudáveis e verdadeiramente  IMORTAIS).

Reflita com muita luz no coração e

Obrigado pela sua atenção.

Cordialmente.

Marco Aurélio Bacury

Publicado no  Blog MAZÉ MOURÃO em 30.01.2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


UM GIGANTE

Lisboa – Nosso conterrâneo, nascido no bairro do Alvorada, é hoje uma estrela de repercussão mundial. Dono do cinturão dos penas do UFC, depois de tê-lo sido antes no WEC, organização agora também pertencente aos irmãos Ferttita e a Dana White, José Aldo sobra em sua categoria. Dificilmente encontrará quem o surpreenda, nos próximos anos.

Sei que o destino haverá de empurrá-lo para jogar nos leves. Parece-me questão de tempo. Quanto mais sua superioridade ficar patente entre os penas, mais pressão sofrerá para subir de peso e de categoria.

Minha modesta opinião é que isso não deveria acontecer logo. Primeiro varrer o time dos penas. Depois, paralelamente a um trabalho físico que o adapte a enfrentar lutadores que, na atualidade, são mais fortes do que ele, cogitar a sério, quem sabe, de dar o pulo que, visivelmente, a direção do UFC deseja que ele dê.

Travar um combate aqui, outro ali, com bons lutadores peso leve, como fez, exitosamente, com Kenny Florian, pode até ser. De preferência não pondo seu cinturão em jogo, em disputa unificadora.

Mixed Martial Arts não são briga de rua, onde se tiram as diferenças irracional e espontaneamente. Ao contrário: é profissionalismo puro e Aldo haverá saber de cuidar esmeradamente de sua carreira. Tem atrás dele o correto e excelente Dedé Pederneiras, que cuida de seus interesses com eficácia. Nada, portanto, de aventuras e precipitações.

Lembro-me do que fizeram com Adilson Maguila, que estava bem ranqueado no Conselho Mundial de Boxe. A falta de caráter do promotor Don King o empurrou para uma luta contra o veterano George Foreman, que resultou em derrota do brasileiro no segundo round, por contundente KO. Nem lhe deram tempo de respirar: vencido o período de quarentena imposto a quem sofre um KO, fizeram-no lutar, logo de cara, com nada mais, nada menos, que Evander Holyfield. Resultado: terrível KO, também no segundo round e fim da iniciante carreira de Maguila nos EUA.

O certo teria sido promover algumas lutas intermediárias, que lhe permitissem vencer o trauma da derrota acachapante diante de Foreman. Depois, então, que viesse Holyfield ou outro lutador de alto nível. Sei que Maguila, em condições normais de temperatura e pressão, jamais derrotaria Holyfield, mas poderia ter lutado mais tempo e em melhores condições físicas e psicológicas, se não tivesse sido usado por Don King como mera mercadoria descartável. E ainda teve a atitude suspeitíssima do técnico de Maguila, o legendário Angelo Dundee, que treinou, por muito tempo, o maior boxeador de todos os tempos, Muhammad Ali: após um primeiro round equilibrado e impecável, a prudência ordenaria a Maguila não ficar parado diante de Holyfield; jogaria circundando o oponente, buscando contra golpeá-lo. Estranhamente, Angelo orientou Maguila no sentido de partir com tudo para o ataque e deu no que deu. Detesto acusar sem provas, mas a falta de caráter de Don King é fato público e notório e a atitude de Angelo Dundee exibiu incompetência (não era esse o seu caso) ou má fé. Quem, por exemplo, apostou que Maguila cairia no segundo round deve ter ganho muito dinheiro!

Voltemos ao campeoníssimo José Aldo. Quanta eficiência demonstrou, diante do respeitável Chad Mendes. Que KO extraordinário. A torcida, no UFC Rio II foi à loucura e Aldo enlouqueceu junto com ela: abandonou o octógono e se misturou com o povo, que já o respeitava e admirava, e agora passou a amá-lo.

Os outros dois brasileiros também tiveram desempenhos excepcionais: Rousimar "Toquinho" mereceu o prêmio de melhor finalizador da noite. Está, no meu entender, entre os top five de sua categoria.

E Vitor Belfort, que enfrentou adversário vindo da categoria abaixo, o perigoso striker Anthony Johnson, controlou o ritmo da luta o tempo inteiro. Johnson lutava entre os meio-médios, categoria do fantástico George Saint Pierre. Presenciei algumas lutas dele e sei como bate forte e eficazmente. Lutando eternamente com a balança, resolver subir para os médios e, logo de início, pegou o experiente Vitor. O favoritismo era deste, mas em luta de pegadores sempre pode acontecer tudo. Espantoso é que, desde a luta contra o excelente Josh Koshek que, entre os meio médios, só fica atrás de GSP, Anthony Johnson em nada alterou seu infantil fogo de chão. Perdeu para Josh no jiu-jitsu, perdeu para Vitor no jiu-jitsu também. E ainda foi demitido do UFC ( pela segunda vez, a primeira foi por atitude anti-esportiva), porque na hora de bater o peso, estava acima dos 84 estabelecidos como o teto da categoria. Um lutador que se arrisca a entrar num ringue ou num octógono sem saber nada de chão, deve, no mínimo, ter um parafuso frouxo na cabeça. Parece o caso do recente adversário de Vitor Belfort, que lutou bem e mereceu a vitória.

O confronto entre Vitor e Wanderlei Silva vem atrasado. Na primeira vez em que se defrontaram, Wand foi surpreendido com a explosão que recebeu e ainda não era o homem de ferro do Pride japonês. Agora, nem ele e nem Vitor vivem o auge, mas este está em melhor forma e, teoricamente, é o favorito. Infelizmente, não veremos o melhor de Vitor contra o melhor de Wand. Este, porém, será sempre um lutador perigoso para qualquer um. Seu coração é de leão.

Luta boa seria Vitor com o cafajeste Chael Sonnen, excelente wrestler, lutador arisco, infelizmente desprovido da nobreza que marca os verdadeiros campeões. Acho que Vitor poderia derrotá-lo.

Tudo indica, porém, que Sonnen vencerá Michael Bisping e disputará, pela segunda vez, o cinturão de Anderson Silva. A primeira luta entre ambos ficou mal resolvida: Sonnen massacrou Anderson durante mais de 14 minutos e, cego pelo ódio e, talvez, pelo dopping, resolveu desmoralizar o campeão mundial, estapeando-o e, para fazer isso, esticando o braço demais. Moral da história: foi finalizado, suspenso do UFC, sem nunca deixar de se dizer o campeão moral da categoria.

Anderson, desta vez, precisará ser fulminante no ataque e atento na defesa contra as perigosas quedas que Sonnen aplica em todo mundo com quem luta. O maior perigo é, digamos, o jogo do Spider não casar bem com o do falastrão. Afora essa possibilidade, que inegavelmente existe, o favoritismo é do brilhante dono do cinturão dos médios.

Aguardemos e, por enquanto, louvemos a carreira fulminante do nosso irmão amazonense José Aldo, que só tem um defeito: é leve demais. Se fosse alto e pesasse 110 quilos, seria páreo para Junior Cigano e Cain Velásquez.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


DROGAS

Lisboa – O tráfico e o consumo de drogas, no Brasil, já revelam caráter epidêmico. O crack e o oxe, que viciam desde as primeiras experiências, grassam acintosamente, liquidando vidas, matando esperanças.

Entendo necessário um grande esforço nacional, comandado pelo governo central, envolvendo os executivos estaduais, as prefeituras, os parlamentares, todo o aparato judiciário, as organizações do terceiro setor. Se não surgir algo definitivo, fulminante, como reação ao avanço da tragédia, ela vencerá a batalha e nós perderemos muitos dos nossos jovens, muito do nosso futuro.

Não dá para se fingir que não se está vendo a tempestade já formada. O Brasil ainda tem tempo de evitar sua mexicanização que, no grande país latino da América do Norte se retrata pela clara derrota do Estado para o crime organizado, para as máfias das drogas.

Há milhões de brasileiros que não conseguem trabalhar, conviver com não-viciados, estudar, amar, projetar um mínimo de futuro. São pessoas que praticam o sexo inseguro e promíscuo, que deixam de comer e se prostituem em troca de algumas pedras e de momentos fugazes de fuga de uma realidade que lhes nega a condição humana. São pessoas que gastam o salário de um mês, em poucas horas, antes de perderem mais um emprego e se enfiarem mais fundo ainda no pesadelo interminável.

Não podemos permanecer alienados diante de questão tão grave, tão dramática.

Podemos agir. Devemos agir. Temos de agir.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

LEMBREI DE PAULO GRACINDO E CLARA NUNES, NA PEÇA BRASILEIRO, PROFISSÃO, ESPERANÇA, SOB A DIREÇÃO DE BIBI FERREIRA. PAULO DECLAMA "CÂNTICO NEGRO", EU NÃO SABIA QUEM ERA O AUTOR. SEMPRE PENSEI QUE FOSSE ANTÔNIO MARIA.


Cântico Negro
José Régio

Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

DILMA, PT E LULA SE OMITEM NA TAREFA DE AJUDAR A DEMOCRATIZAR O MUNDO!


PARA QUEM QUER SER OUVIDO NAS DECISÕES ESTRATÉGICAS DO MUNDO, DILMA ESTÁ DEIXANDO A DESEJAR!

Desculpe-me a Dilma, só ela, o Lula e o PT não enxergam a excrecência social e econômica que é o regime dos Castros, uma das últimas, duradouras e mais vergonhosas ditaduras do mundo. 

É falta de compromisso com a humanidade o Brasil não se posicionar para a eliminação desse erro, que até se justificou e teve seu glamour nos anos 50. 

Mas, depois de 52 anos, quando os líderes mundiais dos regimes comunistas mais duros e fechados, como o Soviético e o Chinês, se abrem para o mercado, abraçando o capitalismo, mesmo com o Estado liderando, é falta de visão de mundo e de realidade e de insensibilidade para com o povo cubano, que se vê excluído dos avanços sociais, econômicos e tecnológico ofertados pelos últimos 40 anos e que se potencializam no século XXI. 

O Brasil faz bem em dar as mãos ao povo cubano e ajudá-los no seu processo de desenvolvimento. 

Porém, uma grande nação como o Brasil não pode deixar de dar sua contribuição para o processo de redemocratização de Cuba e de inclusão do seu povo nas conquistas e no processo de geração desse desenvolvimento, cuja enorme contribuição, com certeza, a cultura e inteligência cubanas, dariam à humanidade. 

Acorda Dilma! Acorda Brasil!

CARTA DA DEPUTADA DA OPOSIÇÃO VENEZUELANA, MARÍA CORINA MACHADO À FIDEL CASTRO.

Comandante Fidel Castro
La Habana, Cuba

Sr. Castro,

Me dirijo a usted en la oportunidad de responder a las alusiones que hizo de mí en sus Reflexiones sobre "La Genialidad de Chávez" del 26 de enero pasado. Me referiré a dos aspectos de su escrito: el que se refiere a mi intervención en la Asamblea Nacional y el relativo a sus opiniones sobre la política venezolana.

El presidente Chávez intentó usar su presentación en la Asamblea para dos propósitos muy evidentes. Em primer lugar, para mostrar un país de paz y prosperidad que no existe. Venezuela, con todos sus recursos humanos y naturales, vive los embates de la pobreza, el crimen y la humillación; en segundo lugar, quiso utilizar a los diputados de la oposición para mostrar al mundo un juego democrático que ha sido vulnerado por su gobierno, mediante el control abusivo de todas las instituciones del Estado y la represión hacia la disidencia.

Frente a esta manipulación y la indignación que me produjo, tomé la palabra para denunciar que no existe ese país que describió Chávez y que, por el contrario, está signado por la escasez y el racionamiento, el crimen desatado y la acción vil e impune del Estado, que roba la propiedad privada mediante la figura de las expropiaciones.

Por eso, cuando pronuncié la frase "expropiar es robar", los venezolanos en su mayoría, sobre todo los más humildes, se sintieron expresados. No fueron frases que pusieron a prueba, como usted dice de Chávez, "su caballerosidad y sangre fría", sino su engaño y el teatro que escenificaba hasta el momento de mi exposición.

Usted asegura que "solo él fue capaz de responder con serenidad al insultante calificativo de 'ladrón' que ella utilizó para juzgar la conducta del Presidente por las leyes y medidas adoptadas". Yo dije que expropiar es robar y lo sostengo. Fue el propio presidente Chávez quien se autocalificó de "ladrón" al asumir personalmente la responsabilidad de las expropiaciones, que son robôs apenas revestidos de un barniz jurídico en el régimen actual.

Tan importante es la propiedad que después de medio siglo, Cuba, de la mano de su hermano y Presidente, la ha redescubierto en su programa de reformas.  Tampoco es verdad que, como usted asegura, Chávez "respondió a la solicitude individual de un debate con una frase elegante y sosegada "Águila no caza moscas", y sin añadir una palabra, prosiguió serenamente su exposición."

En ese momento el presidente Chávez perdió la compostura, su manoseada frase sobre águilas y moscas es una grosera manifestación de desprecio hacia sus interlocutores, que fue aderezada con una expresión según la cual yo no tengo "ranking" para debatir con él.

Sólo un déspota considera que un parlamentario elegido por el pueblo no tiene credenciales para discutir con el presidente de su país. Pero en el fondo tiene razón el Presidente Chávez: él y yo estamos en niveles muy distantes en cuanto a la moral y los principios. 

Lo que usted, señor Castro, elude, es que mi interpelación al presidente Chávez expresó lo que un país hastiado de un régimen autocrático quiere decirle. Estas opiniones suyas no pasarían de ser la consabida lisonja que usted suele prodigar de tiempo em tiempo a Chávez si no fuera porque se atreve a incursionar en el debate político venezolano, como muestra del intervencionismo sistemático de su gobierno en los asuntos internos de mi país.

Señor Castro, usted intervino en Venezuela en la década de los 60, cuando personal militar a su servicio pretendió imponer um régimen en Venezuela como el que usted impuso en su país. Las autoridades civiles y las Fuerzas Armadas de entonces lo derrotaron a usted, del mismo modo que las democracias latinoamericanas lo hicieron en toda la región.

Su agresión causó muertes, incluyendo la de tantos jóvenes venezolanos que se hicieron ilusiones con su revolución. Más adelante, una vez derrotado y abandonado por la Unión Soviética, los demócratas latinoamericanos le abrieron a su régimen las puertas a la comunidad regional a condición de que iniciara un proceso de democratización.

Uno de los que le facilitó ese reingreso fue el presidente Carlos Andrés Pérez, con quien usted se solidarizó cuando ocurrió el golpe de Estado del teniente coronel Hugo Chávez. Los venezolanos recordamos la carta suya al presidente Pérez en la que le decía:

"En este momento amargo y crítico, recordamos con gratitud todo lo que has contribuido al desarrollo de las relaciones bilaterales entre nuestros países y tu sostenida posición de comprensión y respeto hacia Cuba. Confío en que la dificultades serán superadas totalmente y se preserve el orden constitucional, así como tu liderazgo al frente de los destinos de la hermana República de Venezuela".

Así se desmarcaba usted del golpe de estado de Chávez y expresaba su solidaridad al entonces Presidente, cuando su interés era retornar de algún modo a la comunidad latinoamericana debido a que los soviéticos habían dejado a su país sin oxígeno.

Sin embargo, más adelante encontraría un nuevo auxilio. Usted se prestó a darle una credencial revolucionaria a quien no habría pasado de ser uno más de los militares golpistas de América Latina a cambio de recibir colosales recursos de nuestro país que le son negados a los ciudadanos venezolanos.

Si en los 60 usted invadió a nuestro país en contra de la voluntad de su liderazgo civil y de las FAN (Fuerzas Armadas Nacionales), ahora lo hace porque el gobierno del presidente Chávez le ha entregado nuestra soberanía.

Su ataque a Rómulo Betancourt no puede ocultar un hecho que está inscrito en la historia: Betancourt lo derrotó a usted política y militarmente, su reconcomio por esta fatalidad es evidente.

No podía esperarse en sus consideraciones nada distinto al reconocimiento al general Henry Rangel Silva, recientemente promovido al cargo de ministro de Defensa de Venezuela. Es un militar cuestionado nacional e internacionalmente; en el exterior por supuestos vínculos con la guerrilla y el narcotráfico; dentro de Venezuela por haber amenazado en no reconocer el triunfo de las fuerzas democráticas en las próximas elecciones. Este oficial no representa a los militares institucionales de Venezuela, ni la protesta mayoritaria de éstos en contra de la invasión cubana a nuestra FAN.

Usted ha invocado muchas veces como razón de su rebelión en la década de los 50 la intervención de los EEUU en su país durante más de la mitad del siglo XX.

Usted há sido crítico de la forma en la que los soviéticos, a sus espaldas, negociaron a Cuba en el marco de la Guerra Fría. Muchos cubanos todavía resienten la grosera participación de los soviéticos en la dirección del Estado cubano durante tres décadas.

Usted, que sabe eso, podría imaginarse la indignación que produce a los venezolanos ver a cubanos enviados por su gobierno en las más altas esferas del Estado, en las instalaciones militares, en el Palacio presidencial, en los cuerpos de seguridad, en registros y notarías.

Imagine la humillación que sienten los oficiales de la Fuerza Armada Nacional Bolivariana al recibir órdenes de extranjeros como los oficiales cubanos, quienes invaden nuestras instalaciones militares. 

Venezuela ha sustituido a la Unión Soviética como sostén de Cuba, mientras aquí hay miles de refugiados que vieron sus viviendas destruirse y el gobierno no ha hecho nada para remediarles su situación.

Su gobierno recibe - que se sepa - más de 110 mil barriles diarios de nuestro petróleo en forma de regalo, supuestamente compensado con servicios que no valen lo que cuesta producir el petróleo.

Su régimen hace triangulaciones de negocios que encarecen lo que Venezuela importa y les permiten a ustedes una grosera e innecesaria tajada de comisiones.  Chávez y ustedes han logrado que lo que ha sido la tradicional amistad entre cubanos y venezolanos, hoy esté atravesada por el resentimiento y la sospecha.  Esa amistad volverá pero una vez que cese la invasión de funcionarios de su país al nuestro.

Usted invocó en su revolución la necesidad de luchar contra los cipayos que en su país propiciaron la intervención foránea durante décadas. Nosotros hoy luchamos contra los cipayos que en Venezuela han propiciado la intervención del gobierno cubano en la dirección de nuestro Estado y nuestra sociedad.

En el futuro seremos países amigos pero jamás aceptaremos la permanencia del status-quo que les ha permitido la anexión institucional de nuestro país al suyo. Tenga la seguridad de que mi gobierno estará comprometido con el pleno retorno de la democracia a Cuba. 

Comandante Castro, deje de intervenir en los asuntos internos de Venezuela. Hágalo de buen grado o las fuerzas democráticas de Venezuela se lo volverán hacer entender como hace 50 años.

Maria Corina Machado

Do Blog do Ex-Presiente da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


O GIGANTE JOSÉ ALDO

Lisboa – Nosso conterrâneo, nascido no bairro do Alvorada, é hoje uma estrela de repercussão mundial. Dono do cinturão dos penas do UFC, depois de tê-lo sido antes no WEC, organização agora também pertencente aos irmãos Ferttita e a Dana White, José Aldo sobra em sua categoria. Dificilmente encontrará quem o surpreenda, nos próximos anos.

Sei que o destino haverá de empurrá-lo para jogar nos leves. Parece-me questão de tempo. Quanto mais sua superioridade ficar patente entre os penas, mais pressão sofrerá para subir de peso e de categoria.

Minha modesta opinião é que isso não deveria acontecer logo. Primeiro varrer o time dos penas. Depois, paralelamente a um trabalho físico que o adapte a enfrentar lutadores que, na atualidade, são mais fortes do que ele, cogitar a sério, quem sabe, de dar o pulo que, visivelmente, a direção do UFC deseja que ele dê.

Travar um combate aqui, outro ali, com bons lutadores peso leve, como fez, exitosamente, com Kenny Florian, pode até ser. De preferência não pondo seu cinturão em jogo, em disputa unificadora.

Mixed Martial Arts não são briga de rua, onde se tiram as diferenças irracional e espontaneamente. Ao contrário: é profissionalismo puro e Aldo haverá saber de cuidar esmeradamente de sua carreira. Tem atrás dele o correto e excelente Dedé Pederneiras, que cuida de seus interesses com eficácia. Nada, portanto, de aventuras e precipitações.

Lembro-me do que fizeram com Adilson Maguila, que estava bem ranqueado no Conselho Mundial de Boxe. A falta de caráter do promotor Don King o empurrou para uma luta contra o veterano George Foreman, que resultou em derrota do brasileiro no segundo round, por contundente KO. Nem lhe deram tempo de respirar: vencido o período de quarentena imposto a quem sofre um KO, fizeram-no lutar, logo de cara, com nada mais, nada menos, que Evander Holyfield. Resultado: terrível KO, também no segundo round e fim da iniciante carreira de Maguila nos EUA.

O certo teria sido promover algumas lutas intermediárias, que lhe permitissem vencer o trauma da derrota acachapante diante de Foreman. Depois, então, que viesse Holyfield ou outro lutador de alto nível. Sei que Maguila, em condições normais de temperatura e pressão, jamais derrotaria Holyfield, mas poderia ter lutado mais tempo e em melhores condições físicas e psicológicas, se não tivesse sido usado por Don King como mera mercadoria descartável. E ainda teve a atitude suspeitíssima do técnico de Maguila, o legendário Angelo Dundee, que treinou, por muito tempo, o maior boxeador de todos os tempos, Muhammad Ali: após um primeiro round equilibrado e impecável, a prudência ordenaria a Maguila não ficar parado diante de Holyfield; jogaria circundando o oponente, buscando contragolpeá-lo. Estranhamente, Angelo orientou Maguila no sentido de partir com tudo para o ataque e deu no que deu. Detesto acusar sem provas, mas a falta de caráter de Don King é fato público e notório e a atitude de Angelo Dundee exibiu incompetência (não era esse o seu caso) ou má fé. Quem, por exemplo, apostou que Maguila cairia no segundo round deve ter ganho muito dinheiro!

Voltemos ao campeoníssimo José Aldo. Quanta eficiência demonstrou, diante do respeitável Chad Mendes. Que KO extraordinário. A torcida, no UFC Rio II foi à loucura e Aldo enlouqueceu junto com ela: abandonou o octógono e se misturou com o povo, que já o respeitava e admirava, e agora passou a amá-lo.

Os outros dois brasileiros também tiveram desempenhos excepcionais: Rousimar "Toquinho" mereceu o prêmio de melhor finalizador da noite. Está, no meu entender, entre os top five de sua categoria.

E Vitor Belfort, que enfrentou adversário vindo da categoria abaixo, o perigoso striker Anthony Johnson, controlou o ritmo da luta o tempo inteiro. Johnson lutava entre os meio-médios, categoria do fantástico George Saint Pierre. Presenciei algumas lutas dele e sei como bate forte e eficazmente. Lutando eternamente com a balança, resolver subir para os médios e, logo de início, pegou o experiente Vitor. O favoritismo era deste, mas em luta de pegadores sempre pode acontecer tudo. Espantoso é que, desde a luta contra o excelente Josh Koshek que, entre os meio médios, só fica atrás de GSP, Anthony Johnson em nada alterou seu infantil fogo de chão. Perdeu para Josh no jiu-jitsu, perdeu para Vitor no jiu-jitsu também. E ainda foi demitido do UFC ( pela segunda vez, a primeira foi por atitude anti-esportiva), porque na hora de bater o peso, estava acima dos 84 estabelecidos como o teto da categoria. Um lutador que se arrisca a entrar num ringue ou num octógono sem saber nada de chão, deve, no mínimo, ter um parafuso frouxo na cabeça. Parece o caso do recente adversário de Vitor Belfort, que lutou bem e mereceu a vitória.

O confronto entre Vitor e Wanderlei Silva vem atrasado. Na primeira vez em que se defrontaram, Wand foi surpreendido com a explosão que recebeu e ainda não era o homem de ferro do Pride japonês. Agora, nem ele e nem Vitor vivem o auge, mas este está em melhor forma e, teoricamente, é o favorito. Infelizmente, não veremos o melhor de Vitor contra o melhor de Wand. Este, porém, será sempre um lutador perigoso para qualquer um. Seu coração é de leão.

Luta boa seria Vitor com o cafajeste Chael Sonnen, excelente wrestler, lutador arisco, infelizmente desprovido da nobreza que marca os verdadeiros campeões. Acho que Vitor poderia derrotá-lo.

Tudo indica, porém, que Sonnen vencerá Michael Bisping e disputará, pela segunda vez, o cinturão de Anderson Silva. A primeira luta entre ambos ficou mal resolvida: Sonnen massacrou Anderson durante mais de 14 minutos e, cego pelo ódio e, talvez, pelo dopping, resolveu desmoralizar o campeão mundial, estapeando-o e, para fazer isso, esticando o braço demais. Moral da história: foi finalizado, suspenso do UFC, sem nunca deixar de se dizer o campeão moral da categoria.

Anderson, desta vez, precisará ser fulminante no ataque e atento na defesa contra as perigosas quedas que Sonnen aplica em todo mundo com quem luta. O maior perigo é, digamos, o jogo do Spider não casar bem com o do falastrão. Afora essa possibilidade, que inegavelmente existe, o favoritismo é do brilhante dono do cinturão dos médios.

Aguardemos e, por enquanto, louvemos a carreira fulminante do nosso irmão amazonense José Aldo, que só tem um defeito: é leve demais. Se fosse alto e pesasse 110 quilos, seria páreo para Junior Cigano e Cain Velásquez.

domingo, 29 de janeiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO

ATENÇÃO

Lisboa – O Banco Central, na gestão Tombini, virou mero apêndice do Ministério da Fazenda, abrindo mão da autonomia – não me referi a independência – conquistada em 16 anos de Fernando Henrique e Lula. Foi aparelhado. Dois dos seus diretores já foram filiados ao PT. Esse retrocesso será cobrado aos brasileiros mais hora menos hora.

O mercado, faz algum tempo, dá como certo que o ministro Guido Mantega deixará o governo. Abre-se a interrogação: os rumos mudarão? Ou persistirá a interferência da Fazenda sobre um órgão que deve ser posto acima de injunções políticas?

O crescimento econômico de 2011 foi pífio, estimado em 2,87%, contra inflação que, só porque foi maquiada, ficou no teto da meta (6,5%). Para 2012, deveremos crescer, se a Europa não aprofundar sua crise e se o caso iraniano não adquirir contornos mais graves, algo em torno de 3%, contra inflação à volta de 5,5%.

Neste mesmo 2012, a média do mundo e dos países em desenvolvimento será, respectivamente, de 3,3% e 5,4%. Ou seja, cresceremos menos que nossos vizinhos e nossos concorrentes, com a agravante de mantermos a inflação pressionada e estarmos vendo a farsa do crédito artificial endividando as famílias e se exaurindo enquanto “modelo”.

Nosso déficit em transações correntes foi o maior de todos os tempos: US$52.612 bilhões, coberto pelo ingresso de capital estrangeiro, que vem atrás dos juros elevados e que causaria uma tragédia, se do Brasil se afastasse repentinamente, por razões de ordem econômica internacional. Para o corrente exercício, o déficit está estimado em algo próximo de US$66 bilhões.

O real já se valorizou 6,7% ao ano, neste início de governo Dilma Rousseff, cotado em torno de R$1,75. Entre as 18 principais moedas do mundo, é a que mais se valorizou.

Em miúdos: o governo deixa o real se valorizar para conter a inflação que a gastança eleitoreira despertou. Com isso, prejudica empresas nacionais que concorrem com produtos importados. Isso é péssimo, por exemplo, para o Polo Industrial da Zona Franca de Manaus, que importa insumos, partes e peças do estrangeiro.

Atenção à crise do euro, que, na verdade, abrange toda a Europa e se reflete no mundo. O governo não deve valer-se dos mesmos remédios que usou em 2008. São situações diferentes.

Atenção à crise provocada pelo Irã, com seu programa nuclear visivelmente belicista, destinado a construir artefatos nucleares. Eventual agravamento do conflito levaria a uma explosão dos preços do petróleo, a mais inflação (no mundo e no Brasil) e a crescimento menor, no mundo e no Brasil igualmente.

Não é hora de o governo dormitar em berço esplêndido.


GRAMSCI, A CRISE E O BRASIL.



Marco Aurélio Nogueira

Dadas as características da conjuntura atual, em que o espectro da «crise» agita-se sem cessar, creio ser útil recordar algumas observações que o filósofo e político italiano Antonio Gramsci fez há 70 anos em sua reflexões sobre Maquiavel. 

Analisando as situações nas quais a classe dirigente fracassa em um determinado empreendimento político, «em nome do qual pediu ou impôs pela força o consenso das grandes massas», Gramsci comentou: nesses casos, fala-se em «crise de autoridade», mas o que se verifica é uma «crise de hegemonia, ou crise do Estado no seu conjunto». 

Valeria isso para o Brasil? Seria possível dizer que a nossa crise deriva do fato de que a classe dirigente fracassou em seu principal empreendimento político e por isso perdeu o consenso e o consentimento das massas? 

Com o devido cuidado e sem querer forçar o raciocínio, acho que sim. Talvez se possa mesmo afirmar que, a rigor, no plano histórico mais geral, nenhuma classe dirigente conseguiu exercer uma efetiva hegemonia entre nós, desde que entendamos por hegemonia a capacidade de obter apoio ativo e imprimir uma direção moral e intelectual à sociedade. Isso, porém, nos levaria longe demais.

Mas há algo que não precisa ser muito investigado: é que a nossa atual classe dirigente -- que congrega em sua base uma diversidade de grupos e interesses - nunca chegou a apresentar, aos brasileiros, um desenho de país e uma moral que a credenciassem à hegemonia. Seu projeto sempre foi o da estabilização da moeda, secundado por uma vaga ideia de modernização entendida como «abertura para o mundo» e por uma categórica opção pelo «mercado».

Nunca contou ao povo que País estava disposta a construir, nunca o conclamou a aderir a algo mais substantivo. Pois agora, quando a moeda fraqueja, o mercado aposta contra o governo e esse se entrega a uma mera radicalização de sua idéia matriz, como dizer que temos apenas uma «crise de autoridade» ou de governabilidade? Estamos diante de uma profunda ausência de hegemonia. 

Isso, porém, não quer dizer que o fracasso do governo seja absoluto ou que já amadureceu uma nova capacidade hegemônica, quer dizer, uma nova disposição de forças que traga consigo um outro empreendimento político -- um outro projeto -- e possa em nome dele postular a condução das massas.

Se a crise é de hegemonia, diria Gramsci, podemos esperar que dela resultem muitas «situações delicadas e perigosas», pois os diversos grupos da população não têm «a mesma capacidade de se orientar e se reorganizar rapidamente».

Nem sempre se produzem autênticas soluções orgânicas, impostas pela fusão dos oposicionistas e dos que estão fora do poder. Podem surgir, por exemplo, soluções de outro tipo, fundadas na força ou na atividade de homens providenciais ou carismáticos.

Donde ser possível prever que a crise dos nossos dias não está necessariamente fadada a convergir para desfechos que beneficiem os grupos sociais desfavorecidos e os setores de oposição. Não que estejamos sendo impelidos para retrocessos autoritários ou para a revivescência de taras personalistas.

Mas, como em toda crise orgânica em países extensos, de população numerosa e diferenciada, com um sistema político fragilizado e atolado em vastos problemas, o fato é que a oposição nem sempre se mexe com rapidez e o governo ainda tem boas chances de se recompor, fazer alguns «sacrifícios» e retomar o controle da situação.

Tanto mais se conseguir contar com conjunturas internacionais favoráveis. 

O que não parece destinado a desaparecer é o nervo do problema: justamente a crise de hegemonia, crise do Estado em seu conjunto. E contra essa de pouco adiantam as soluções cosméticas que têm sido tentadas nos últimos tempos. Para dar um eixo ao País (e não a esse ou aquele governo em particular), carecemos mesmo é de uma efetiva reinvenção da política, com a qual seja possível reformar democraticamente o Estado.

Marco Aurélio Nogueira, Jornal da Tarde, São Paulo, fev. 1999.