quinta-feira, 8 de março de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO

ARTHUR VIRGILIO FILHO

Lisboa – Dia 31 de março próximo, teremos 25 anos, um quarto de século, portanto, da morte de meu pai. A família mandará rezar missa na Matriz, registrando a data tão significativa para os filhos, netos, bisnetos, parentes e amigos do grande brasileiro e amazonense.
Arthur Filho foi Deputado Estadual por três intensas legislaturas, tendo sido líder de oposição e de governo, além de Presidente da Assembleia Legislativa, Secretário de Economia e Finanças e de Interior e Justiça. Foi Deputado Federal entre 1959/62, ocupando a primeira vice-liderança e a liderança do seu partido, o PTB de João Goulart e Leonel Brizola. Eleito Senador para a legislatura 1963/1971, acumulou a liderança trabalhista com a do governo do Presidente Goulart.
Com o golpe de Estado de março/abril de 1964, quando a maioria dos governistas de então, aderiu ao poder que emergia, Arthur virou automaticamente o primeiro líder, no Senado, da resistência à ditadura que se implantava. Dos 66 senadores da época, apenas dois não votaram no Marechal Castelo, na eleição indireta que lhe procurou legitimar o poder: o baiano Josafá Marinho, homem de honra inquestionável, e o amazonense Arthur Virgílio Filho, caboclo de fibra e coerência.
Quando o Presidente da Casa, o paulista Auro Soares de Moura Andrade, convocava os líderes a orientarem suas bancadas para a votação, chegou a vez de meu pai: "Como vota o PTB, ilustre líder Arthur Virgílio?". Ouviu como resposta: "Sou um líder sem liderados. O restante da bancada trabalhista, num "realismo" que não aceito, votará em Castelo. Eu prefiro ficar com minha consciência de democrata, fiel à Constituição Federal e ao Presidente constitucional João Belchior Marques Goulart". Ouvimos isso pelo rádio e sabíamos que tempos duros estavam começando, mas, minha mãe à frente, ficamos explodindo de orgulho da figuraça que sempre encontrava forças para enfrentar e vencer o medo.
Tempos depois, o líder do novo governo, Senador Daniel Krieger, homem de bem e grande amigo de Arthur, apresentou-lhe a seguinte proposta: "para de falar, mergulha por uns tempos, depois o Presidente Castelo te convida para estares ao seu lado e as possibilidades de ele te nomear Ministro da Justiça são grandes". Krieger ouviu um carinhoso e respeitoso não: "com que cara vou descer em Manaus? Com que cara vou encarar minha mulher e meus filhos?"
Continuou na sua tribuna, cada vez mais atrevido, até que o Ato Institucional número 5, o instrumento mais odioso de todos que a ditadura perpetrou, lhe cassou o mandato e suspendeu os direitos políticos por 10 anos. Arthur tinha apenas 48 anos de idade. Depois disso, mesmo após a anistia, não mais quis saber de disputar eleições, embora nunca tenha deixado de participar da vida pública.
Sou muito grato ao ex-Reitor Hindemberg Frota e à atual Reitora Marcia Perales, que propiciaram, junto com o Conselho Universitário, que o campus passasse a se chamar "Senador Arthur Virgílio Filho", por proposta do querido amigo de sempre Clynio de Araújo Brandão, acolhida unanimemente pelos seus pares. É que tentaram esconder por décadas que Arthur fora o criador da moderna UFAM que aí está, logrando habilmente aprovar seu meritório Projeto de Lei em menos de quatro anos. A professora e membro da Academia Amazonense de Letras, Rosa Brito, registra essa passagem em consistente livro que publicou.
Antes de Arthur, só se estudava Direito e Ciências Econômicas em Manaus. Por iniciativa dele, o cenário mudou e o Amazonas parou de "exportar" estudantes para outros estados, sob o risco de muitos nem retornarem à terra natal.
Um quarto de século. Para nós, filhos do pai amoroso que era também a encarnação de Ajuricaba, é como se fosse ontem. Afinal, gente como ele não morre. Sua obra atravessa os tempos. Sua lembrança é para sempre.

"Acredite se quiser: em 2010, formou 24 mil estudantes a menos do que em 2004, segundo estimativa de Carlos Brito, da FAPESP, destoando da fase de forte expansão no governo FHC e do ministro Paulo Renato."

MENOS MARKETING, MAIS QUALIDADE.

Ao fim de nove anos de governo do PT, a política educacional brasileira resultou numa verdadeira sopa de pedras. Não tem consistência, e as iniciativas desconexas vão se sucedendo — pedras jogadas na panela aquecida por vultosos recursos públicos, produzindo pouca substância. Os estados e os municípios cuidam da pré-escola, ensino fundamental e médio. Mas a esfera federal detém capacidade legislativa e normativa, além de recursos em grande escala, para atuar no setor. No ensino superior público, o grande agente é o ministério da Educação, com a exceção de uns poucos estados que têm grandes universidades.
O mais recente exemplo dessa inconsistência é o Plano Nacional de Educação 2011-2020, resumido pelo novo titular da Educação no Senado, Aloizio Mercadante. A superficialidade e a confusão das falas do ministro afligem aqueles que consideram a educação o principal desafio brasileiro neste século.
Nem no Plano nem nas falas há qualquer pista para enfrentar o fato de que o ensino superior público no Brasil, na era petista, foi além da estagnação. Acredite se quiser: em 2010, formou 24 mil estudantes a menos do que em 2004, segundo estimativa de Carlos Brito, da FAPESP, destoando da fase de forte expansão no governo FHC e do ministro Paulo Renato.
No momento, a pedra mais vistosa atirada na sopa são os tablets, a serem distribuídos de graça. Ninguém responsável pode rejeitar a chegada das modernas tecnologias às salas de aula. Mas não passa de mistificação barata — ou muito cara, a depender de como se faça — essa história de que a educação só melhora se cada aluno e cada professor tiverem nas mãos um iPad, como promete o ministro. Rejeitar a adoção de modernas tecnologias seria o mesmo que combater a luz elétrica e a água encanada. Mas um professor mal preparado o será em qualquer circunstância. Um aluno que mal sabe escrever e multiplicar não será redimido por um tablet. A distribuição de material eletrônico, sem bons guias curriculares e programas de formação e qualificação dos professores, é dessas firulas atrás de manchetes. O governo Lula fez isso em 2005, com laptops — “Um Computador por Aluno”, lembram? O fracasso foi retumbante.
Como noticiou este jornal, 3,8 milhões de crianças e jovens não estão na escola; na faixa dos 15 aos 17 anos, nos oito anos de FHC e P. Renato, o percentual fora da escola caiu de 33% para 18%. Depois disso, a inclusão se desacelerou e 14% ainda não frequentam nenhuma instituição de ensino. Acredite se quiser: em 2010 houve menos concluintes do ensino médio do que em 2003, com um decréscimo anual de 0,5% ao ano.
Com ou sem tablets – eles são uma ferramenta e não uma política pública em si – o Governo Federal deveria se empenhar em pôr na escola essa imensa fatia da juventude e elevar o padrão de ensino, em especial expandindo o ensino profissionalizante. Não é o que se vê. Tome-se o PRONATEC, programa copiado do PROTEC, proposta nossa durante a campanha de 2010, tão combatida pelos petistas. Além do atraso para dar início ao programa, foram excluídas as bolsas em escolas técnicas particulares, precisamente as que atendem a jovens mais pobres. Isso exclui cerca de 50% dos alunos de escolas técnicas.
Em São Paulo, em 11 anos, foram criadas 104 novas escolas técnicas de nível médio, abrindo 150 mil vagas adicionais. É preciso pensar mais no estudante e menos nas manchetes; mais em dar uma resposta aos problemas reais dos alunos e de suas famílias e menos em soluções marcadas pela publicidade e pelo açodamento. A improvisação é tanta que a capacitação técnica de professores e o método pedagógico que deveriam orientar a utilização dos milhões de tablets prometidos, só estão previstos para depois da chegada dos aparelhos!
Outra pedra atirada na sopa da educação petista foi a tentativa de transformar o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, numa prova de acesso à universidade. Sob o pretexto de pôr fim ao vestibular nas universidades federais, criou-se o maior vestibular do mundo ocidental. Assistiu-se a um festival de trapalhadas, injustiças, arbitrariedade, subjetivismo e falta de critério na correção das provas. No fim, o aluno nem sabe direito por que tirou essa ou aquela nota. Pior: as críticas corretas e sensatas foram consideradas tentativas de sabotagem. A incompetência flerta frequentemente com o autoritarismo.
Ao abordar as dificuldades do Enem como “vestibulão”, o novo ministro produziu mais uma pérola, dizendo que os problemas decorrem do fato de o Brasil ser muito grande e alegou que isso não é culpa do MEC. Será que o PT vai esperar que o país encolha para começar a governá-lo com competência? Ou quem sabe seus ministros possam se candidatar a cargo de gestores na Escandinávia, cujos países são bem menores do que o Brasil e que solicitam menos dos homens públicos, pois muitas das condições que ainda infelicitam o nosso povo já estão resolvidas por lá. É sempre bom lembrar que o Brasil, afinal de contas, já tinha esse tamanho antes de o PT chegar ao poder.
Em 2009, 65 nações participaram do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que verifica o conhecimento de estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências. O resultado é vexaminoso: o Brasil obteve o 54º lugar, junto ao Panamá e Azerbaijão, atrás de países como Bulgária, Romênia, México, Chile e Uruguai.
O que nos falta? Tablets? Sem uma política pública consequente de valorização e qualificação do professor, eles são inúteis. Servem à propaganda, não aos estudantes; servem à demagogia, não à elevação das sofríveis condições de ensino no Brasil. É possível, sim, mudar essa realidade desde que se façam as escolhas certas. As autoridades nacionais da área educacional precisam perseguir menos a publicidade e mais a qualidade. Se o fizerem, as notícias fatalmente os alcançarão.
O Estado de São Paulo / Opinião / José Serra / 08/03/2012.


COLUNA DO ARTHUR NETO


MODUS IN REBUS

Lisboa – O Secretário-Geral da Fifa, Jerôme Valcke foi, de fato, grosseiro e desrespeitoso com o Brasil. Mereceu a reprimenda que levou do governo e, percebendo o quanto avançara o sinal, teve de escrever imediato pedido de desculpas. Agiu como se fôssemos colônia da França. Ou como se, por qualquer destinação divina, se sentisse superior a nós.
Foi inábil e pouco inteligente. Revelou-se abaixo do cargo que ocupa. Imagino como ele possa tratar as pessoas que lhe devem obediência hierárquica. Suponho que à base do grito e do assédio moral.
Ressalto, porém, que a estupidez de Valcke não diminui a verdade que temos à frente: o Brasil está absurdamente atrasado nas obras e providências necessárias a viabilizar o êxito do evento de 2014. Estamos praticamente às vésperas da Copa e não vejo os grandes planos saírem do papel.
Até agora fizemos pouco ou quase nada. Onde estão os transportes de massa modernos de que carece a maioria das cidades que sediarão jogos e hospedarão equipes? Estádios? Campos de treinos? Portos? Aeroportos? Hotéis? Milhares e milhares de pessoas que precisarão estar falando inglês fluentemente? Segurança pública efetiva, capaz de garantir a integridade de nacionais e estrangeiros? Esquema rigoroso antiterror? Afinal, soa ingênuo o governo supor que um acontecimento desse porte não seja chamariz para a ação de radicais como a base da Al Qaeda no vizinho Paraguai.
O pito oficial foi bem dado. É importante, porém, que não se fique nisso. Ou vira válvula de escape à moda de Galtieri e Cristina Kirchner, na cansativa e impossível “disputa” com a Inglaterra pelas Malvinas, sempre que precisam esconder alguma barbaridade interna. Ou vira arroubo de subdesenvolvido, estilo “mais uma vez a Europa se curva diante do Brasil”, reafirmando um provincianismo que não cabe mais num país relevante como o nosso.
E se Jerôme Valcke fosse um homem educado e tivesse apenas declarado: “os senhores estão, lamento haver constatado isso, perigosamente atrasados nos preparativos para a Copa do Mundo que se avizinha”? Como ficaria o governo brasileiro, que já teve de demitir um Ministro dos Esportes sob pesadas acusações de corrupção, sem um bode expiatório que lhe garantisse algum fôlego político?
Por algum tempo, a “honra” nacional foi salva e a ”Europa mais uma vez se curvou diante do Brasil”. Agora as obras e as providências precisam sair, virar realidade, sob pena de passarmos vexame internacional inenarrável.
Queríamos sediar a Copa por mil razões legítimas: aproveitar o ensejo para melhorar a frágil infraestrutura brasileira; divulgar nossas belezas e nosso potencial turístico para bilhões de telespectadores; ensinar uma segunda língua a centenas de milhares de trabalhadores, dos taxis aos bares, da hotelaria ao comercio.
Lutamos e conquistamos a oportunidade. Para quê? Para desperdiçá-la? Para exibirmos incompetência para o mundo? Para darmos razão ao grosseirão Jerôme Valcke? Ou para manchar o evento com fraudes em licitações, “justificadas” pela pressa em dar conta do recado?
Quase nada fizemos. Precisamos recuperar o tempo perdido, sem fazer concessões a superfaturamentos, a propinas, à corrupção.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O PMDB, DEPOIS DE VELHO, ESTÁ MALHANDO PESADO PARA GANHAR MÚSCULO PARA CONQUISTAR MAIS PODER. DEPOIS DE FICAR MUITO TEMPO COM A PERIFERIA E DESEMPENHANDO O PAPEL DE "SPARRING", O PARTIDO QUER AGORA SER O ATOR PRINCIPAL. A NOVA GERAÇÃO DO PMDB NÃO QUER FICAR MAIS À REBOQUE DO LULO-PETISMO, QUE SE DESGASTA A OLHOS VISTOS DESDE QUANDO CONQUISTOU A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA PELA PRIMEIRA VEZ EM 2002 E NÃO SE SUSTENTARÁ POR MAIS DOIS MANDATOS. ESTÁ CHEGANDO A HORA DE BRIGAR DE IGUAL PARA IGUAL COM O PSDB E O PT.


CONHEÇA AS 10 PRINCIPAIS RAZÕES QUE LEVARAM AO MANIFESTO QUE O PMDB DEVE DIVULGAR NESTA TERÇA.

Do Blog do Josias de Souza
Pelo Blog do Sarafa 

A banda sublevada do PMDB promete para esta terça-feira (6) a divulgação do seu “manifesto” inaugural. Informa-se que a peça carrega as assinaturas de 45 dos 76 deputados do partido. A intenção dos idealizadores é a de converter a revolta num movimento de autoafirmação.
O blog conversou com um dos políticos que ajudou a riscar o fósforo que acendeu o pavio da sublevação. Sob a condição de que seu nome fosse preservado, falou com franqueza sobre as razões do motim. Vão abaixo, entre aspas, as explicações:
1. A coalizão: “Percebemos que, no governo Dilma, o coalizão ficou vesga. Antigamente, o PMDB era chamado por vocês da imprensa de fisiológico. Mas tinha os cargos. Hoje, continuam chamando o partido de fisiológico e quem tem os cargos é o PT. Queremos inverter esse jogo. Vai ficar claro que nosso movimento não é por ministérios. Pedimos respeito, não cargos”.
2. A crise geracional: “Nosso manifesto é um primeiro grito de alerta. O PMDB perdeu, faz tempo, aquela aura de resistência contra a ditadura. A nova geração percebe que as lideranças que tinham prestígio para impulsionar as eleições em seus Estados envelheceram.”
“Vem agora a disputa pelas prefeituras. O PT construiu um projeto hegemônico. E fica o PMDB tendo de arranjar recursos para cooptar uns partidecos em troca de 30 ou 40 segundos de tevê. Nosso pessoal começa a perceber que o futuro se estreitou. E todo mundo fica angustiado.”
3. A ausência de projeto: “Essa nova geração do PMDB percebe que precisa de um projeto nacional para se viabilizar. Se, hoje, o PMDB tivesse um grande nome para encarar uma eleição presidencial essa merda explodiria. Todo mundo percebe o que está acontecendo. É tudo muito claro.”
“O PT, para o mal ou para o bem, tem na reeleição de Dilma o seu projeto. O PSDB, frágil ou não, tem em Aécio Neves sua alternativa. E ficam os demais partidos girando na órbita desses dois astros. Sobrarão para o PMDB, outrotra grande partido, as migalhas do processo. Com o tempo, vamos acabar virando o DEM do PT.”
4. O efeito São Paulo: “O Michel [Temer] lançou o [Gabriel] Chalita. A gente vê Lula sair da sua doença e vir ao Planalto exclusivamente para lançar o Fernando Haddad à prefeitura de Sao Paulo, com o Michel do lado dele. Vemos a Dilma dar o Ministério da Pesca para o partido do senhor [Marcelo] Crivella apenas para ajeitar as coisas para o Haddad.”
“De repente, o [José] Serra entra na briga. E fica o Lula a dizer que, se o PMDB não apoiar o Haddad, o Michel pode não ser o vice em 2014. Ora, por que o Lula tem o direito de inventar um cara com 3% e nós não podemos manter o nosso, que tem 7%?”
“Cito São Paulo porque é o caso mais emblemático. Isso se repete país afora. O PT não abre mão de nada. Onde eles podem, nas cidades maiores, passam o trator. O Michel soube da nomeação do Crivella pelo Google. Um assessor viu na internet e avisou. Por que deveríamos apoiar a nomeação de um ministro que não sabe o que é minhoca e anzol? Para enfiarem a minhoca na gente?. Isso já cansou.”
5. O meio e o fim: “Nosso manifesto não é voltado apenas para o governo. O objetivo central é sacudir a direção do PMDB. O governo faz o que acha que deve fazer. Nós precisamos dizer: não pensem que vamos levar essa situação, do jeito que está, até 2014”.
“Esse jogo é conhecido. Numa eleição meio, como a de 2012, o PT engole todo mundo e a Dilma diz que não vai aos palanques para evitar o confronto. Quando chegar 2014, a eleição fim, eles atropelam sem cerimônia. E o PMDB, saindo menor de 2012, chegará a 2014 de joelhos. É contra isso que nos debatemos.”
6. A perda de importância: “Um partido que tem como projeto de poder eleger o Henrique [Eduardo Alves] para a presidência da Câmara não pode ser chamado de partido. Fizemos o vice-presidente da República imaginando que o PMDB teria um upgrade. No fim das contas, perdemos importância.”
“A Dilma sonega ao Michel até a cortesia de um aviso sobre a nomeação de um ministro. O papel do nosso vice ficou reduzido a participar de eventos oficiais. Outro dia, foi segurar o caixão das vítimas do incêndio na Base da Antártida. É pra isso que servimos?”
7. O estilo Temer: “Para se fazer respeitar, o Michel teria de se afirmar. Do jeito que as coisas vão, é preciso mandar um recado: olha, Dona Dilma, ou a situação toma outro rumo ou a senhora não vai poder viajar nem pra Bolívia. Algo que o Michel, pelo estilo dele, jamais vai fazer.”
8. Cúpula por fora: “A gente lê nos jornais que o Henrique e o Michel, informados sobre a existência do manifesto, resolveram transformar o documento em iniciativa de toda a bancada da Câmara. Conversa fiada. Eles não sabiam do manifesto. Não receberam cópia. Essa conversa toda é como a história do malandro que sabe que vai cair e deita.”
“Não se trata de um movimento contra o Michel. Ao contrário. Ele é tratado no manifesto como nosso vice. Não informamos porque sabíamos que ele, com o jeitinho dele, queimaria o apreço que todos lhe devotam para tentar abortar a iniciativa. Se não attendêssemos aos apelos dele, pareceria um desafio à sua liderança. Até para preservá-lo, preferiu-se não informar.”
9. O sacolejo: “Num primeiro momento, o manifesto vai provocar uma discussão interna, vai sacolejar o partido. Serão fortalecidos os grupos que estavam descontentes e evitavam manifestar a insatisfação. Estamos pedindo um encontro partidário para abril. Até lá, surgirão muitos fatos. Senadores que participaram da discussão vão aderir.”
“Num segundo momento, o debate terá reflexos na disputa pela presidência do PMDB, que ocorrerá no início de 2013. Aquela propalada unidade que conduziu Michel Temer à vice-presidencia da República está deixando existir. Agora, fala mais alto a sobrevivência política de cada um.”
“Estamos informando ao governo e ao PT que não aceitaremos mais ser tratados como aliados de segunda classe. Não será em nome da candidatura do Henrique à presidência da Câmara que vamos nos lascar. Ah, o Michel é o vice! E daí? Por isso temos que engolir tudo calados? Não dá mais.”
“A rigor, o recado serve também para os nossos. Liderança de bancada é função de confiança. Os deputados estão dizendo ao líder que não aceitam ser tocados como gado. Um documento com 45 assinaturas é sinal de que, havendo interesse, o líder pode ser trocado a qualquer momento.”
10. Os reflexos no plenário: “Pode ser que ninguém explicite agora, mas esse movimento vai afetar, ali na frente, os interesses do governo no plenário da Câmara. Vem aí o Código Florestal, uma votação complicada. Virão outras. Todo movimento tem o seu timing.”
“Não adianta fazer agora um manifesto de rompimento com o governo. Muitos até desejariam. Mas, no momento, o importante é sinalizar a preocupação do partido com um projeto nacional. Se isso não der certo, cada um vai buscar o seu rumo quando os calos apertarem em 2014. Não dá para subir ao cadafalso entoando a Marselhesa.”

terça-feira, 6 de março de 2012

Amélia é uma injustiçada; há algo mais 'feminista' e poético do que uma mulher preferir fazer amor com o seu marido do que gastar o dinheiro dele? Na história das sociedades, sempre existiram personagens injustiçados. A injustiça é uma coisa às vezes misteriosa de produzir e nem sempre fácil de explicar.


EM NOME DE AMÉLIA

A pior das injustiças é a que petrifica uma personagem em um bloco de gelo histórico que nunca derrete. Isso acontece quando um equívoco é tão fortemente construído que não só congela a vítima como qualquer voz que se levante em sua defesa.
Nessa moldura, a mulher mais injustiçada da nossa história é, sem dúvida, Amélia. Sim, ela mesmo, a mulher de verdade.
Essa genial criação de Mario Lago, maquiada com maestria por Ataulfo Alves, transformou-se, por força de uma leitura equivocada, no símbolo mais popular da mulher burra e submissa.
Difícil saber quem produziu esse monstruoso equívoco. Impossível continuar repetindo este absurdo. 
Basta ouvir a canção, sem preconceito, para ver que Amélia é exatamente o contrário do que falam. Ela é vítima de uma campanha negativa que precisa ser destruída. Trata-se de um bom tema para ser discutido na semana do Dia Internacional da Mulher.
Quem, em sã consciência, pode encontrar na letra de "Ai, que saudades da Amélia" a descrição de uma deusa estúpida e cativa?
A canção começa com o amado ressentido, dizendo, em tom quase pungente : "Nunca vi fazer tanta exigência/ nem fazer o que você me faz/ você não sabe o que é consciência/ nem vê que eu sou um pobre rapaz".
As duas palavras-chaves (exigência e consciência) e a expressão humilde e igualitária (pobre rapaz) já insinuam o sentido verdadeiro da queixa-revelação.
Segue adiante: "Você só pensa em luxo e riqueza/ tudo que você vê você quer/ ai, meus Deus, que saudades da Amélia/ aquilo sim é que era mulher".
Peraí. Não estaria o amado a criticar, com toda a razão, a sua mulher atual, que é frívola, dependente e consumista?
Não estaria criticando, sem nenhum sotaque machista, uma mulher que poderia, hoje, "brilhar" no reality show "Mulheres Ricas"?
Como essa mulher frívola e bizarra venceu, no imaginário brasileiro, a figura solidária, carinhosa e sensual de Amélia?
Amélia "às vezes passava fome ao meu lado/ e achava bonito não ter o que comer" e "quando me via contrariado, dizia 'meu filho, o que se há de fazer?'". 
O que é mais "feminista" e maravilhosamente poético? Passar fome, lutando de forma solidária e independente ao lado do amado, sendo seduzida e sedutora, sempre capaz de convidá-lo, sutilmente, para saciar no sexo a fome do estômago (é isso que está embutido no verso "o que se há de fazer?") ou, ao contrário, fazer compras com o dinheiro do marido, em vez de fazer amor, com muito gosto e prazer, com ele?
O que é mais "moderno" e mais pop? Ser naturalmente bela, sem a "menor vaidade", ou ser uma megera neurótica, opressora, perdulária e exigente?
Já está na hora de as mulheres e de os homens brasileiros recolocarem a maravilhosa Amélia no seu devido lugar: o nosso panteão de musas. Vamos erguer, hoje, um brinde a esta mulher de verdade e pedir perdão pelo que fizeram, injustamente, com sua memória. 


segunda-feira, 5 de março de 2012

"Ao bater em 30% das intenções de voto no Datafolha, ele tornou-se líder e - mais relevante - passou a ser percebido como o favorito. Nada mais atraente para os políticos do que a perspectiva de poder. Não importa que Serra cresceu por um evento efêmero - o tumulto causado pela sua entrada tardia na disputa e a grande exposição na mídia que se seguiu - , nem que parte de sua intenção de voto seja, de fato, efeito memória. A pesquisa criou um fato político e deu impulso a Serra."


NO EMBALO DA PESQUISA

O termômetro esquenta ou esfria o objeto cuja temperatura ele pretende medir. Assim também, a pesquisa eleitoral influi na disputa que ela acompanha. A sondagem do Datafolha sobre a eleição paulistana criou um fato positivo para José Serra e praticamente liquidou as já remotas chances dos outros pré-candidatos do PSDB a prefeito de São Paulo. Mais do que isso, aumentou o magnetismo do tucano no jogo das alianças partidárias.

Na atual fase da corrida eleitoral, o mais importante para cada um dos principais candidatos é unir seus partidos em torno de seu nome e conseguir o máximo de coligações com outras siglas, de preferência com aquelas que têm direito a pelo menos uma inserção diária durante o horário eleitoral obrigatório. Serra largou na frente.

Ao bater em 30% das intenções de voto no Datafolha, ele tornou-se líder e - mais relevante - passou a ser percebido como o favorito. Nada mais atraente para os políticos do que a perspectiva de poder. Não importa que Serra cresceu por um evento efêmero - o tumulto causado pela sua entrada tardia na disputa e a grande exposição na mídia que se seguiu - , nem que parte de sua intenção de voto seja, de fato, efeito memória. A pesquisa criou um fato político e deu impulso a Serra.

Antes que obscurantistas venham clamar contra a liberdade de informação, é bom lembrar que isso é do jogo. Assim como ajudou, a pesquisa poderia ter atrapalhado se o resultado fosse diferente. Em 2010, quando Dilma Rousseff, em ascensão, começou a encostar no tucano, em queda, cada pesquisa era uma dose de vitamina para a campanha da petista e um tormento para Serra. Neste momento, os papéis se inverteram.

Para o PT e para Fernando Haddad, a pesquisa Datafolha foi uma notícia duplamente ruim. A estagnação do petista em 3% mostrou que a estratégia de Lula não deu certo. Ao atropelar as prévias do partido e impor um nome que ele escolheu sozinho, o ex-presidente pretendia ganhar tempo para tornar seu candidato conhecido e evitar rachas internos. Aconteceu o oposto.

O ressentimento de petistas alijados da disputa, como Marta Suplicy, é cada vez mais notório, e Haddad continua patinando no desconhecimento, apesar de estar em campanha há meses. Sem adversário interno, o pré-candidato petista mal aparece no noticiário. Ao mesmo tempo, a doença de Lula não permitiu que ele propagandeasse o nome de seu pupilo à exaustão, como fez com Dilma em 2009 e 2010.

Desconhecimento e inexperiência são defeitos que não pioram com o tempo. Ainda há muito chão pela frente e o PT tem um eleitorado cativo que levou seu candidato ao segundo turno nas últimas cinco eleições de prefeito em São Paulo. O problema petista imediato são as coligações perdidas.

É muito mais difícil - e caro - convencer um partido a apoiar o 7.º colocado do que o líder da pesquisa. Especialmente quando Dilma enfrenta uma rebelião na base de apoio ao seu governo. O PTB só é aliado do PT em Brasília. O PDT, cada vez menos. O PP malufista tucanou. O PSD kassabista também. PRB, PC do B e PMDB têm candidatos próprios mais bem colocados que o petista. O PR ameaça com Tiririca. Sobra o PSB, talvez.

Serão necessários muitos ministérios e muita verba federal para o PT seduzir outras siglas e levá-las para sua coligação. Sem isso, Haddad, que precisa de tempo na TV para o eleitor descobrir que ele existe, corre alto risco de ficar com menos tempo de propaganda do que o principal rival, o universalmente conhecido Serra.

Se não fizer amigos e influenciar outros partidos, Haddad pode ficar empatado em inserções publicitárias com Gabriel Chalita (PMDB), que corre por fora e não perdeu pontos com a entrada de Serra: tem 7% das intenções de voto (tinha 6%).
A dificuldade petista de arrumar coligações para seu candidato em São Paulo se deve aos aliados de Dilma terem caído na real. Perceberam que jogam, em 2012, a sua sobrevivência daqui a dois anos, quando serão renovadas as bancadas na Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Os principais cabos eleitorais em 2014 serão - como sempre foram - os prefeitos que ganharem a eleição no próximo mês de outubro. E está difícil elegê-los.

Os aliados acham que o PT é o bicho-papão. Mas foi o recém-criado PSD que bagunçou a base aliada de Dilma. Das suas 272 prefeituras, o partido de Gilberto Kassab "roubou" a maioria (153) de partidos que apoiam a presidente no Congresso: 31 do PMDB, 30 do PP, 23 do PR, 15 do PTB e 10 do PSB, por exemplo.

Como resultado, PMDB, PP, PDT, PR e PTB têm menos prefeitos hoje do que elegeram em 2008.

Ao mesmo tempo, PT e PSB conseguiram cooptar novas prefeituras e estão jogando pesado para engordar ainda mais esse número nesta eleição.

São Paulo é apenas o caso mais visível de um problema nacional: a disputa pelo poder municipal entre partidos que só são aliados no plano federal por força do presidencialismo de coalizão brasileiro.

O mau desempenho no Datafolha e a busca pelas coligações perdidas mostram que não será apenas na base da ligação direta com o eleitor e seu bolso que Lula vai conseguir eleger Haddad, nem que Dilma vai conseguir governar. A política é necessária, como sempre foi.
O ESTADO DE SÃO PAULO / Política / No Embalo da Pesquisa / 
José Roberto de Toledo / 05.03.2012.

"É dever ético da imprensa promover uma ampla conscientização popular da relevância que os cargos públicos têm e da importância de que pessoas absolutamente idôneas os ocupem. O eleitor tem o direito de conhecer os antecedentes dos candidatos, sua evolução patrimonial, seu desempenho em cargos anteriores, etc. Impõe-se, também, um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar eventuais descompassos entre o discurso e a realidade. Trata-se, no fundo, de levar adiante um bom jornalismo de serviço."


STF - DECISÕES HISTÓRICAS

Duas decisões históricas do Supremo Tribunal Federal (STF) devolveram esperança à cidadania e mostraram que a Corte Suprema não é insensível ao justo clamor da opinião pública. Não foi necessário esperar a Quarta-feira de Cinzas para a sociedade cair na realidade. Em pleno mês do samba e da folia, marca registrada da terra do carnaval, os ministros do STF cravaram duas magníficas estacas do Estado de Direito: reconheceram os poderes de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e decidiram que a Lei da Ficha Limpa vale para as eleições deste ano.
A maioria dos ministros do STF decidiu na tarde de quinta-feira 2 de fevereiro, por 6 votos a 5, manter os poderes de investigação do CNJ, reconhecendo sua autonomia para abrir investigações contra magistrados sem depender de corregedorias locais. A decisão contraria liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello no fim do ano passado, atendendo a pedido feito pela Associação dos Magistrados do Brasil, que tentava fazer valer a tese de que o CNJ só poderia investigar magistrados após processo nas corregedorias estaduais.
Nada contra as corregedorias locais, muitas lideradas por magistrados íntegros e competentes. A experiência do corporativismo e do seu filhote, a impunidade, sugere que o Brasil não deve ver reduzidas ou limitadas as instâncias investigatórias, mas ampliadas.
Em louvável e transparente entrevista à revista Veja, o novo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori, reconheceu que o viés corporativista do Judiciário não é uma invenção da imprensa. O magistrado afirmou que alguns colegas de toga envolvidos em supostos desvios foram convidados a se aposentar sem a devida investigação: "Foi um erro gravíssimo. Deveriam ter sido investigados, punidos e expostos. Porém havia uma cultura de não fazer isso, para evitar que as pessoas pensassem que somos todos assim". Foi para evitar a cultura do acobertamento e a consequente impunidade que o STF referendou os poderes do CNJ. A decisão foi uma vitória da sociedade e dos magistrados honrados que não querem a sombra dos privilégios, mas a transparência que deve pautar o comportamento dos servidores públicos.
Na outra decisão histórica, o STF barrou os candidatos ficha-suja nas eleições deste ano. "Uma pessoa que desfila pelo Código Penal ou pela Lei da Improbidade Administrativa não pode se apresentar como candidato", afirmou o ministro Carlos Ayres Britto. Quem quiser ser candidato não pode, por exemplo, ter sido condenado por um colegiado da Justiça ou por órgão profissional como a Ordem dos Advogados do Brasil e o Conselho Federal de Medicina, mesmo que ainda possa recorrer da decisão. Nem pode ter renunciado ao mandato para escapar da cassação. Também ficam impedidos de participar da eleição os políticos que tiveram contas rejeitadas e os demitidos do serviço público.
Apoiada em 1,3 milhão de assinaturas para que o projeto de iniciativa popular fosse apresentado ao Congresso, a Lei da Ficha Limpa, fortemente estimulada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e agora plenamente reconhecida pelo STF, é um exemplo do que pode fazer o exercício da cidadania. Foi um golaço da sociedade e uma derrota da bandidagem.
A decisão evidencia também a importância do trabalho da imprensa no combate à corrupção. É difícil encontrar um único ficha-suja cuja nudez não tenha sido iluminada pelos holofotes da imprensa de qualidade. Reportagens consistentes estão na origem de inúmeros processos judiciais. É o papel inestimável dos jornais nas sociedades democráticas.
Rebelam-se os políticos contra a divulgação rigorosa dos fatos. As denúncias da imprensa séria não são uma abstração. Sustentam-se em evidências. E os leitores têm o direito de receber tal informação. Trata-se de elementar prestação de serviço à cidadania. Qual é o problema? Qual o motivo da revolta?
O que se pretende é que a imprensa oculte informações desfavoráveis aos políticos, que o jornalismo se transforme em agente do marketing. Não, caro leitor, nós, jornalistas, não somos coadjuvantes do teatro político. Nosso compromisso é com a verdade e com os leitores. E ponto final. O jornalismo de qualidade, ao contrário do que desejariam certos políticos, deve dizer quem é ficha-suja.
A informação não é um enfeite. É o núcleo da missão da imprensa. Políticos manifestam crescente desconforto com o que representam os pilares da democracia: a liberdade de imprensa e o direito à informação. Não admitem críticas. Só aceitam aplausos. Mas o mais espantoso é que começam a ficar ouriçados com a simples exposição dos fatos. Investe-se não apenas contra a opinião, mas também contra a própria informação.
É dever ético da imprensa promover uma ampla conscientização popular da relevância que os cargos públicos têm e da importância de que pessoas absolutamente idôneas os ocupem. O eleitor tem o direito de conhecer os antecedentes dos candidatos, sua evolução patrimonial, seu desempenho em cargos anteriores, etc. Impõe-se, também, um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar eventuais descompassos entre o discurso e a realidade. Trata-se, no fundo, de levar adiante um bom jornalismo de serviço.
O secretismo é um perigo para a democracia. O princípio da presunção da inocência deve ser garantido, mas não à custa da falta de transparência. Não tem sentido querer dar à exposição jornalística dos fatos qualquer viés antidemocrático. A imprensa, no cumprimento rigoroso de sua missão de informar, continuará dizendo a verdade. Gostem ou não os políticos ou os candidatos.

O ESTADO DE SÃO PAULO / Opinião / STF – Decisões Históricas / 
Carlos Alberto Di Franco / 05.03.2012.

COLUNA DO ARTHUR NETO


TEM GENTE!

Lisboa – Tem gente que não compreende que a exploração predatória da floresta amazônica interfere no regime das chuvas. Tem gente que prefere ignorar que a floresta amazônica gera verdadeiros rios voadores, levando água para o resto do país. A água que alguém está bebendo, neste momento, em São Paulo, vem dos “rios voadores” que a grande mata manda para lá, pelo mecanismo mágico de uma natureza perfeita.
Tem gente, igualmente, que não assimila a relevância da ecologia urbana e termina achando natural a habitação infranormal que abriga humilhantemente o brasileiro mais pobre. Tem gente que olha para a miséria ao seu lado e, comodamente, atribui a desigualdade ao destino, a um destino sobre o qual não caberia agir.
Tem gente que nega o cuidado com a ecologia humana e, avaramente, cuida apenas do que julga ser a sua felicidade (!!!) pessoal. Tem gente que imagina poder ser feliz cercado pelo drama de milhões de deserdados.
Tem gente que diz pretender explorar esse ou aquele recurso natural (já escrevi sobre isso aqui no Diversidade) de modo racional. Nem sempre, porém, fica claro se essa racionalidade é boa para os demais seres humanos, para a natureza, para o futuro. Pode ser uma racionalidade excelente para arrancar lucros polpudos em curto espaço de tempo, ainda que a peso de danos irreversíveis para o meio ambiente.
Tem gente que não se preocupa com esses assuntos, entendendo que o “progresso” passa por sacrificar florestas, que se regenerariam por si sós. Tem gente que parece não saber o que aconteceu com a Mata Atlântica e, ao dialogar, argumenta que a Floresta Negra foi dizimada em nome da prosperidade.
Tem gente que gosta de responder a um erro com outro maior ainda. Tem gente que não se dá conta da importância da floresta amazônica para o clima mundial. Essa mesma floresta que, se explorada com base na boa ciência e na experiência empírica dos nossos caboclos e índios, renderá muito bem estar econômico e social para os brasileiros.
Tem gente que não acredita que se formos irresponsáveis na administração da Amazônia, poderemos perder o controle nacional sobre ela. Que pode virar um protetorado supostamente sob o comando da ONU.
Tem gente que acha que sentimento ecológico é coisa de desocupados e preguiçosos. Tem gente que não percebe a não ser o (seu) dia de amanhã.
Tem gente…                                  

domingo, 4 de março de 2012

EU GASTEI POUCO E RESOLVI MUITO. ELE GASTOU MUITO E NÃO RESOLVEU NADA - Ele (Eduardo Braga) queria que eu decretasse a caducidade e entregasse o sistema para uma empresa que vendia boi.


EU GASTEI POUCO E RESOLVI MUITO. ELE GASTOU MUITO E NÃO RESOLVEU NADA.

O ex-governador Eduardo Braga antes pagava com dinheiro público um programa de rádio, o “FALA GOVERNADOR”, e usava para ameaçar, ironizar, tentar enquadrar as pessoas, enfim, fazer o seu jogo. Agora, que é senador, mantém um programa de rádio aos sábados que usa para fazer a mesma coisa. Quem paga esse programa eu não sei. Você sabe?
Ontem, pelo que diz o “SIM e NÃO” de hoje, de “A CRÍTICA”,voltou a me atacar sobre a questão da água.
Já disse e repito. Este é o debate que quero porque foi na nossa administração que conseguimos os maiores avanços como prova a ARSAM, órgão do Governo do Estado do Amazonas.
Está resolvido o problema? Não, não está, mas avançamos muito.
Ele tenta vender a imagem de que 500.000 pessoas não têm água. Isso não é verdade. A própria ARSAM informa que são em torno de 100.000 pessoas, o que é muito, mas foi na nossa administração que pagando todos os preços reduzimos de 500.000 para 100.000. Como é que eu vou ter medo desse debate?
Vamos relembrar fatos passados e alguns recentes.
Em 2005, quando assumi a prefeitura de Manaus tinha uma bomba de grande efeito na cadeira do prefeito: a situação do abastecimento de água da cidade. O sistema havia sido privatizado, o Governo do Estado, através do então Governador Amazonino Mendes, havia ficado com o dinheiro da privatização, ao qual foi dado outro destino que não o abastecimento da cidade e havia grandes áreas da cidade que sequer tinham rede de distribuição.
Procurei me cercar de pessoas que conheciam o assunto, bem como do suporte jurídico necessário para buscarmos a solução que fosse a melhor para a cidade. Conversei intensamente com interlocutores do Governo Federal. Mantive conversas com o Governo do Estado e ao final de tudo não tínhamos cinco caminhos, só tínhamos quatro: a intervenção, a caducidade, a encampação e a repactuação.
Ele queria que eu decretasse a caducidade e entregasse o sistema para uma empresa que vendia boi.
Disse-lhe que isso era fazer duas loucuras ao mesmo tempo. Decretar a caducidade era jogar a cidade num impasse sem precedentes, pois, segundo o contrato, começava com um processo administrativo no qual a empresa teria “o mais amplo direito de defesa”, ou seja, levaria anos e enquanto isso não haveria nenhum investimento, ao mesmo tempo em que a manutenção do sistema que já era precária ficaria pior. Caducidade era o que ele havia feito em relação ao Porto de Manaus com retumbante insucesso e até hoje, dez anos depois, o Governo do Estado não conseguiu retomá-lo. E ao final de tudo, se fosse superada essa fase, a prefeitura teria que desembolsar 500 milhões de reais.
A empresa que vendia boi propunha uma solução técnica que era risível: solucionar o problema das zonas norte e leste com 120 poços artesianos e com rede de distribuição flexível, ou seja, mangueiras. Alguém de bom senso toparia esta solução?
Depois de muita discussão interna no âmbito da Prefeitura excluímos as hipóteses de:
- intervenção (seria apenas operacional e por 180 dias);
- encampação (custaria 500 milhões e não colocaria uma única gota de água na casa de alguém);
- caducidade (custaria 500 milhões, jogaria o sistema num impasse semelhante ao do porto de Manaus e também não colocaria uma gota de água na casa de alguém).
E optamos pela repactuação pela qual a empresa se obrigava a investir 140 milhões de reais e a Prefeitura de Manaus 60 milhões, a serem emprestados pelo Governo Federal e aplicados principalmente em redes nas áreas de invasão.
Nos bastidores, junto ao Governo Federal, ele procurava derrubar a nossa proposta. Dizia que era um paliativo. Foi ao Lula dizer isso. Disse o mesmo à Dilma. Eles ouviram e me chamaram relatando os fatos. Mostrei-lhes o que propúnhamos. E caíram por terra os argumentos do então Governador.
Aí ele abandonou a idéia de entregar a concessão para a empresa que vendia bois e propunha poços e mangueiras como solução e passou a dizer que só uma nova tomada de água, na Ponta das Lajes, resolveria o problema.
Fui de novo chamado ao Planalto e disse que não seria obstáculo ao Governo do Estado fazer essa obra que avaliava, e continuo avaliando, como importante a partir de 2015. Pediram-me, então, que na repactuação autorizasse que o Governo do Estado fizesse a obra. Dei a autorização. É a cláusula 3.2.1 da Repactuação. Basta ler para comprovar.
A partir daí começou uma torcida dele para que o nosso projeto desse errado com uma guerra de fuxicos nos bastidores.
Fomos em frente e os números da própria ARSAM atestam que estávamos certo. Tem muito por resolver, mas avançou-se bastante. Basta ler o discurso do deputado Marcelo Ramos que aqui publiquei para constatar (http://www.blogdosarafa.com.br/?p=12221) .
E o PROAMA?
Quanto ao PROAMA, que é exatamente a nova estação de captação de água na Ponta das Lajes, ficou acordado que quando estivesse pronto (e não está) o Governo do Estado e a Prefeitura sentariam para que a água produzida fosse vendida à Prefeitura e repassada à Concessionária.
Ele saiu do Governo, não concluiu a obra que até hoje não está pronta e aproxima-se o período eleitoral. Decidiu, então, fazer o que ele mais sabe, ou seja, “agarol”.
Foi ao Ministério Público, tentando usá-lo como se o MP fosse a sua própria cozinha, o que não é, protocolar uma representação na qual queria que o MP obrigasse à Prefeitura de Manaus (bom registrar que eu não sou mais o prefeito) a assinar contrato para comprar a água que não existe porque a obra não está pronta. Fez de conta que não sabia que o art. 129, IX, da Constituição da República veda que o MP represente judicialmente ou preste consultoria a entidades públicas.
Diante de tamanha impropriedade, o MP, chefiado com independência e serenidade pelo Dr. Francisco Cruz, respondeu à altura. Disse que já fez o que tinha de ser feito desde o ano de 2000 e que não lhe cabia agir para obrigar a Prefeitura de Manaus a assinar contrato oneroso com o Governo do Estado. A posição do MP desmoralizou a representação e ele, saudoso do tempo que mandava em tudo e em todos, resolveu atacar em outro flanco.
Partiu para cima do Tribunal de Justiça e do desembargador João Simões. A sua arrogância explodiu. Cobrando o presidente do Tribunal, em tom de ameaça, lembrou que o havia nomeado desembargador como se tivesse feito um favor e o presidente do TJAM lhe devesse obediência. Quanta arrogância.
O desembargador João Simões chegou ao cargo por integrar lista escolhida pelos advogados, aprovada pelos desembargadores, por ser um homem de reconhecido saber jurídico e reputação ilibada e não pela vontade do então Governador. E prosseguindo na sua arrogância ameaçou ir ao CNJ denunciar o Tribunal de Justiça. Mais uma vez faz “agarol”.
Agora, vamos comparar objetivamente o que ele fez e o que eu fiz e os respectivos resultados.
Com a repactuação, que eu fiz,  gastando 60 milhões de reais, nós estendemos 706.840 metros de rede de distribuição, 78.084 novas ligações com 371.989 pessoas beneficiadas, 9 estações de tratamento de esgoto, 52.050 metros de rede de esgoto com 13.603 novas ligações atendendo 65.027 pessoas, 11 novos reservatórios de água com capacidade para 55 milhões de litros de água e aumento da capacidade de captação e tratamento de água na Ponta do Ismael em 2 metros cúbicos por segundo.
E ele, gastou 460 milhões de reais e não colocou uma gota de água na casa de ninguém. Quando e se o PROAMA ficar pronto vai produzir 2,5 metros cúbicos de água por segundo. E nós na Prefeitura, sem gastar um tostão de dinheiro público, aumentamos em 2 metros cúbicos a captação que corresponde a 80% do que ele se propõe a fazer gastando 460 milhões.
Essa é a diferença. Eu gastei pouco e resolvi muito. Ele gastou muito e não resolveu nada.

MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL - Em três cenários diferentes, Serra detém 36%, 55% e 68% dos votos válidos, respectivamente. Lula, que é decrescente no Município ao longo dos últimos 10 anos, terá que eliminar as candidaturas de Russomano do PRB, o que será difícil diante de sua boa performance nas pesquisas, de Netinho do PCdoB, Paulinho do PDT e Chalita do PMDB, para tentar conquistar os seus respectivos potenciais de votos em favor do seu candidato.

MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL

A eleição em São Paulo já começou. 
A entrada de Serra na peleja, 223 dias antes da eleição, é o fato novo que traumatiza o status quo do pleito paulista, tido como a eleição mais consciente do país. 
Apesar da desarrumação causada pela estratégia do PSDB de evitar ceder espaço ao PT, trata-se, apenas, do começo de um pleito que promete muitas emoções e muita luta política em pleno século XXI, mas que nunca será "o combate ou a morte: a luta sanguinária ou nada. É assim que a questão está irresistivelmente posta", como escreveu Marx em 1847.
Será, infelizmente, o tempo de troca de acusações, denúncias, dossiês, cobranças, promessas, mas, felizmente, também será o momento de geração de novas esperanças para o povo paulistano e a perspectiva de transição política e social acima de tudo, com a escolha entre dois modelos políticos  ideologicamente pouco ou nada diferentes, tanto no viés social, quanto no econômico, que, entretanto, distinguem-se pela gestão pública com base em quadros mais profissionais do PSDB e pela administração mais corporativa e aparelhada do PT.
Será muito bom para o Brasil que, seja quem for o vencedor, São Paulo continue avançando em termos de políticas públicas que ampliem o bem-estar social do cidadão, com o Estado focado nas suas funções básicas previstas na Constituição de 1988, inclusive a normativa e fiscalizadora das atividades econômicas, estendendo novas pontes à participação do capital privado de qualquer origem, com vistas a aumentar e melhorar a infraestrutura  indispensável à continuação do crescimento e desenvolvimento social e econômico de São Paulo e, consequentemente, do País.
Numa análise rápida nos números das pesquisas que começam a pulular no cenário político, ouso afirmar que, a não ser que ocorra algo totalmente imprevisível, Serra será eleito Prefeito no dia 07 de outubro próximo, descartando desde logo que Lula não integra essa imprevisibilidade. A sua participação na campanha de Haddad, para tirar a diferença entre ele e Serra, que é atualmente, na melhor das hipóteses, 28 pontos percentuais e na pior, 59, demandará esforço muito acima do seu carisma e dos seus 2% (51 x 49) em 2002 maior que Serra no município de São Paulo; 8% (46 x 54) menor que Alckmin em 2006; e, novamente, 8% (46 x 54) menos que Serra, já que Dilma era Lula em 2010 (“Mudei meu nome para Dilma nesta eleição”)
Portanto, não vejo evidências que indiquem que Haddad/Lula possam reverter o quadro atual pró-Serra.
Em três cenários diferentes, Serra detém 36%, 55% e 68% dos votos válidos, respectivamente. Lula, que é decrescente no Município ao longo dos últimos 10 anos, terá que eliminar as candidaturas de Russomano do PRB, o que será difícil diante de sua boa performance nas pesquisas, de Netinho do PCdoB, Paulinho do PDT e Chalita do PMDB, para tentar conquistar os seus respectivos potenciais de votos em favor do seu candidato.
É uma tarefa difícil, mas será uma missão quase impossível. Missão para Tom Cruise ou para o SuperLula.

ÁGUA: REPACTUAÇÃO X PROAMA (em números)

ÁGUA: REPACTUAÇÃO X PROAMA (em números)

"Os que criticam as privatizações são os mesmos que se gabam dessas empresas e de sermos hoje a quinta economia do mundo. Esquecem-se de que isso se deve em muito ao que sempre criticaram: além das privatizações, o Plano Real, o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, enfim, a modernização do Estado e da economia. Mas atenção: não basta fazer concessões e privatizar. É preciso fazê-las com critérios predefinidos, elaborar editais claros, exigir que se cumpram as cláusulas das licitações e evitar que as agências reguladoras se transformem em balcões partidários." (FHC)

Ainda as privatizações

A recente e tardia decisão do governo federal de enfrentar o péssimo estado da infraestrutura aeroportuária deu margem a loas de quem conhece a precariedade de nossos aeroportos e a justificativas envergonhadas por parte de dirigentes petistas, segundo os quais "concessões" não são privatizações, como se ambas não fossem modalidades do mesmo processo.
Passados tantos anos das primeiras privatizações de empresas e concessões de serviços públicos, e dada a sua continuidade em governos controlados por partidos que se opunham ferozmente a elas, a relevância ideológica da discussão é marginal. Só o oportunismo eleitoral pode explicar por que insistem num tolo debate que sustenta ser "patriótico" manter sob controle estatal um serviço público, ao passo que concedê-lo à iniciativa privada, com ou sem a venda da propriedade, é coisa de "entreguista".
Esvaziar o Estado de funções econômicas não passou pela cabeça dos constituintes, nem dos congressistas ou dos governos que regulamentaram ou modificaram a Constituição para adequá-la às transformações da realidade produtiva. Ainda no final dos anos 80 houve privatização de empresas de menor importância que se haviam tornado estatais porque o Estado as tinha salvado da falência, nas chamadas operações-hospital do BNDES.
No começo dos anos 90, já regulamentadas em lei, as privatizações ganharam corpo. Alcançaram, por exemplo, o obsoleto parque siderúrgico do País, que desde então passou por imensa modernização, com apoio do BNDES, não mais na função de socorrer empresas falidas, mas de promover a atualização do setor produtivo. Na segunda metade dos anos 90, quando se tratou de atrair o capital privado para os investimentos que o Estado já não podia fazer na oferta de telecomunicações, energia, petróleo, etc., flexibilizaram-se monopólios estatais e se criaram as agências reguladoras para assegurar a competição nesses setores, evitando o surgimento de monopólios privados. O governo atuou não apenas para aumentar a concorrência nos leilões - e, portanto, o ágio recebido pelo Tesouro -, mas também para apoiar, por meio do BNDES, o investimento privado que se seguiu à desestatização.
No caso do petróleo, depois da quebra do monopólio, em 1997, a Petrobrás transformou-se numa verdadeira empresa moderna, menos sujeita a influências político-fisiológicas, que hoje se insinuam novamente. Diziam que o governo queria privatizá-la, quando, na verdade, estava comprometido a fortalecê-la. Mantida sob o controle da União, mas submetida à competição, tornou-se uma das cinco maiores petrolíferas do mundo. A participação acionária do setor privado na companhia, existente desde o período Vargas, foi ampliada, até com a possibilidade de uso do FGTS para a compra de ações por parte dos trabalhadores. As contas da empresa tornaram-se mais transparentes para o governo e para a sociedade. A quebra do monopólio veio acompanhada de uma política de indução ao investimento local na indústria do petróleo, com a fixação de porcentuais de conteúdo nacional já nas primeiras licitações realizadas pela ANP. Medida adotada, no entanto, com o equilíbrio necessário para evitar aumento nos custos dos equipamentos e atrasos em sua produção, como agora se verifica.
Nas telecomunicações houve uma combinação de privatização e concessão de serviços. No caso da telefonia celular poucos foram os ativos transferidos, pois ela praticamente inexistia no País. Estamos vendendo vento, brincava Sérgio Motta, então ministro das Comunicações, que sonhava com o dia em que celulares seriam vendidos em todo canto. Pena ter morrido antes de ver seu sonho realizado. Hoje existem no Brasil mais celulares do que habitantes. Na desestatização do Grupo Telebrás houve transferência de ativos. A divisão da holding em várias empresas foi classificada de esquartejamento, quando pretendia assegurar a competição no setor. Graças a esse novo ambiente e às regras estabelecidas pelo governo, as empresas privatizadas foram obrigadas a fazer pesados investimentos para acompanhar os avanços tecnológicos e ampliar o acesso às linhas, inclusive à internet, deixando-nos sem saudades do antiquado sistema de telefonia pré-privatização.
Já no caso da Vale do Rio Doce, assim como da Embraer, houve privatização pura e simples, com a ressalva de que, nesta última empresa, o governo manteve uma golden share, com direito a veto; e o BNDES adquiriu e manteve uma posição importante, de cerca de 20%, no controle da mineradora. Para não falar na participação dos fundos de pensão das empresas estatais. Na privatização da Vale, os críticos diziam que o governo estava alienando o subsolo nacional - uma afirmação descabida, já que este era e continuou a ser propriedade da União, conforme manda a Constituição. Falavam também que a empresa terminaria "desnacionalizada", com número menor de empregos - retórica que os fatos posteriores desmentem sem margem à contestação. Ainda se escutam murmúrios do surrado argumento de que a mineradora, que hoje vale muito mais do que o bom preço por ela pago à época, foi vendida por valor vil (não foi o que se viu no leilão, vencido por um grupo nacional que ousou no preço bem mais do que o considerado razoável pelos demais concorrentes). Ora, se hoje a Vale tem valor em bolsa da ordem de US$ 100 bilhões, é porque, liberta das amarras estatais, pôde chegar aonde chegou.
Os que criticam as privatizações são os mesmos que se gabam dessas empresas e de sermos hoje a quinta economia do mundo. Esquecem-se de que isso se deve em muito ao que sempre criticaram: além das privatizações, o Plano Real, o PROER, a Lei de Responsabilidade Fiscal, enfim, a modernização do Estado e da economia. Mas atenção: não basta fazer concessões e privatizar. É preciso fazê-las com critérios predefinidos, elaborar editais claros, exigir que se cumpram as cláusulas das licitações e evitar que as agências reguladoras se transformem em balcões partidários.
Esperemos para julgar o que ocorrerá com os aeroportos.