quinta-feira, 22 de março de 2012

Descartando a possibilidade de Amazonino cercar a Câmara Municipal pela Polícia Militar, como fez com a Assembleia Legislativa em 2000, porque, afinal de contas, os tempos são outros, ele não tem o comando da Polícia, a não ser que ele se utilize da Guarda Municipal, para impedir que a CPI cumpra o seu papel democrático de ouvir todas as partes interessadas. Manaus não é mais a Sucupira dos antigos Coronéis da política baré. De qualquer maneira, essa CPI já é uma fraude. Os "paus-mandados" já estão cumprindo ordens. Deram pernada no autor da proposta de criação da CPI, Ver. Waldemir José, que queria a Presidência ou a Relatoria. Amazonino tenta com a CPI fazer o que ele sempre fez ao longo de vida política: tenta eliminar os seus adversários no processo eleitoral, antes dos votos serem colocados nas Urnas. Ela não deverá dar em nada, a não ser iludir o povo com discursos vazios e mentirosos. Vai dar em pizza, com certeza!

CPI DA ÁGUA: PRONTO PARA O DEBATE

Do Blog do Sarafa



A Câmara Municipal de Manaus instalou a CPI da Água proposta por um vereador do PT para examinar a repactuação do contrato feito durante a minha administração.

Os  jornais de hoje dão destaque a dois fatos. “A CRÍTICA” dá a manchete: “SERAFIM É ENCURRALADO” e o “DIÁRIO DO AMAZONAS” traz a declaração do Presidente da Câmara, Vereador Isaac Tayah, no sentido de que não serei ouvido. Diz ele: “A Câmara não quer participação de candidatos aqui dentro”. 

Sobre o tema, reitero o que já disse: este é o debate que nós queremos porque nenhum prefeito, antes ou depois de mim, enfrentou o problema pagando os preços que paguei. E colhendo cinco anos depois números positivos que em nenhum outro momento foram alcançados.

Quanto ao fato da CPI ser preponderantemente composta por vereadores que estão ligados politicamente ao Prefeito e ao ex-Governador entendo como algo natural, dentro da correlação de forças. Não temo isso, até porque entendo a CPI com o objetivo de identificar problemas e apontar soluções. 

Os problemas de 2005 eram uns, os de 2012 são outros. Antes 500 mil pessoas não tinham sequer rede de abastecimento. Hoje esse número é inferior a 100 mil pessoas. Ainda é muito e precisam ser atendidas. Além disso, existem outros problemas como a sustentabilidade do sistema, o desperdício, as perdas, enfim toda uma problemática que é de todos e só será resolvida se enfrentada por todos.

Durante toda a minha administração sete horas de programas comprados em emissoras de rádio e TV falavam mal de mim. Depois que deixei o poder nunca fui convidado para ao menos um programa em qualquer emissora de rádio e TV.


Agora me assusta a informação de que a CPI não queira nem me ouvir. Por quê? Eu tenho direito de falar, de colocar as coisas como foram e como são. Não farei disso tribuna para ofender a honra de quem que seja, mas para mostrar os fatos que por si só falarão mais alto.

Confesso que estou cansado de ouvir pessoas que nunca leram o contrato de concessão e/ou de repactuação falarem bem ou mal. Nem leram, mas já são contra ou a favor? Como é possível?

Este é o debate que eu quero. Afinal quem possibilitou através da repactuação que 78.084 novas ligações fossem feitas beneficiando 371.989 pessoas (números da ARSAM, relatório 2010) não pode ter medo de nada.

Agora não podem querer me impor o silencio para que prevaleça só a fala dos que não pregaram um prego numa barra de sabão, ou melhor, dos engenheiros de obras feitas.

Falarei à CPI ou a imprensa mostrando todos os dados e documentos que mostram de forma indubitável o quanto foi acertada a minha decisão.

"Esses contratos representaram uma corajosa inovação do governo FHC. A irresponsabilidade fiscal e os juros altos tinham levado Estados e alguns municípios a uma situação de pré-insolvência. Por isso mesmo se aprovou, em 1997, uma lei de refinanciamento de dívidas estaduais, logo estendida a 180 municípios. Houve uma grande operação de troca de ativos e emissão de dívidas pelo Tesouro Nacional, que refinanciou as dívidas estaduais e municipais com encargos financeiros então subsidiados e prazo de pagamento em até 30 anos."


ESTADOS E MUNICÍPIOS SOB EXTORSÃO

A redução da taxa de juros básica, a Selic, prevista para 9% ao ano, evidencia a extorsão a que estão submetidos Estados e municípios em razão dos contratos firmados com o governo federal no final dos anos 1990. A não correção de distorções posteriores, causadas por mudanças na economia, levou a uma situação injusta e a um equívoco econômico, e sua retificação não aumentaria a dívida pública consolidada nem comprometeria a boa gestão fiscal, permitindo ainda a elevação da taxa de investimento público, cujo baixo nível traz danos imensos ao nosso desenvolvimento.
Esses contratos representaram uma corajosa inovação do governo FHC. A irresponsabilidade fiscal e os juros altos tinham levado Estados e alguns municípios a uma situação de pré-insolvência. Por isso mesmo se aprovou, em 1997, uma lei de refinanciamento de dívidas estaduais, logo estendida a 180 municípios. Houve uma grande operação de troca de ativos e emissão de dívidas pelo Tesouro Nacional, que refinanciou as dívidas estaduais e municipais com encargos financeiros então subsidiados e prazo de pagamento em até 30 anos.
A fim de que a situação não se repetisse, aos Estados e municípios foram proibidas a emissão de títulos de dívida mobiliária e operações de crédito antecipando receitas orçamentárias. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 2000, deu o contorno final ao novo estilo no manejo nas finanças públicas estaduais e municipais, que ao longo do tempo foi mostrando mais qualidade do que o próprio manejo federal. O sucesso foi tal que governos estaduais e prefeituras passaram a ser os principais responsáveis pelo aumento do superávit primário do setor público consolidado. Recentemente, a imprensa internacional comentou que essa experiência brasileira é um modelo para a União Europeia em crise. Teria razão caso fosse a Europa uma República federativa…
É pouco sabido que LRF não se aplica em sua plenitude às finanças federais. Isso depende de resolução do Senado, de iniciativa do Executivo, que nada fez. Por que os arautos da boa política fiscal ou da transformação do Banco Central no quarto Poder da República nunca chamam a atenção para essa falha? Um mistério. Além disso, desfrutando amplos graus de liberdade, o governo federal executa um orçamento paralelo (via vultosos restos a pagar de orçamentos anteriores e créditos subsidiados do BNDES ao setor privado) e para fechar números do déficit antecipa dividendos e tributos de bancos e empresas estatais (e não estatais) e até receitas, transformando barris de petróleo ainda no pré-sal em transferências da Petrobrás ao Tesouro.
Voltando à lei de 1997: o indexador dos contratos de refinanciamento a Estados e municípios foi o Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas, o IGP-DI. A taxa de juros foi fixada entre 6% e 9% acima do índice, dependendo da amortização extraordinária do saldo devedor. Na época, os juros reais chegavam a 15%, daí o subsídio. No Congresso foi introduzido um teto para o pagamento anual dos serviços da dívida, de 13% das receitas orçamentárias líquidas.
O IGP-DI acabou sendo um índice ruim, demasiado dependente de choques cambiais e preços de commodities. Apesar do advento do regime de câmbio flutuante, o governo manteve-o como superindexador das dívidas estaduais e municipais. E as taxas de juros, encavaladas nessa supercorreção, tornaram-se altas demais: até cinco ou seis pontos acima da Selic. Enquanto cobra 14% ou mais das prefeituras e 12,5% de alguns Estados, o governo empresta a grandes grupos privados, via BNDES, a juros de 4% a 5%.
Em 2010 o serviço da dívida dos Estados foi de R$ 29 bilhões, equivalentes a 62% do seu investimento total. Paga-se bastante, mas, mesmo assim, o principal vem aumentando, como é o caso da capital paulista, cuja dívida cresceu cerca de cinco vezes entre 2000-2011, apesar do pagamento de R$ 16 bilhões! Se, em vez do IGP mais 9%, a dívida da cidade acompanhasse a Selic, os encargos acumulados em 2011 seriam R$ 17 bilhões menores!
Os diagnósticos sobre essa perversidade são numerosos e quase consensuais. Uma das propostas é óbvia: atrelar retroativamente as dívidas à Selic. Há, além disso, uma medida simples e fácil: permitir que a relação dívida/receita corrente líquida dos municípios seja a mesma dos Estados, ou seja, 2, em vez de 1,2, como é hoje.
Mas, afinal, por que nada tem sido feito de prático para eliminar essa perversidade? Um fator é a possibilidade de decisões discricionárias, dando-se autorizações especiais para este ou aquele captar créditos ou até receber contribuições fiscais diretas. Prática nada republicana, para usar termo em moda.
Há, porém, um erro mais importante em curso: a ideia de que todos os problemas federativos – dívida, royalties, Fundo de Participação dos Estados, guerra fiscal predatória – deveriam ser resolvidos simultaneamente num grande pacto! Bela fórmula para o imobilismo, lamentações, discursos triviais e comissões de alto nível. A estratégia correta é a oposta: resolver um problema de cada vez, sem excluir possíveis compensações localizadas transitórias, começando pelo mais fácil, que é o das dívidas – a ponta do barbante para desatar o novelo federativo.
Se isso for equacionado, os Estados e municípios teriam acesso a mais recursos. Mas deveria exigir-se, formalmente, uma contrapartida, que tudo fosse destinado a investimentos. Ao contrário do folclore, as esferas estaduais e municipais, na média, são mais ágeis do que a federal para investir. Já dão conta, aliás, de uns dois terços do total dos investimentos governamentais no Brasil (excluindo empresas). O efeito seria altamente positivo num país onde tais investimentos, como fração do produto interno bruto (PIB), são dos menores do mundo – uns cinco pontos porcentuais abaixo da média no restante da América Latina.

ESTADO DE SÃO PAULO / OPINIÃO / JOSÉ SERRA / 
Estados e Municípios sob extorsão / 22/03/2012.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Muito interessante a leitura da Crônica de Milton Hatoum. Ao mesmo tempo nos repassa sua experiência como paciente da psicanálise, nos confidencia que andou paquerando sua analista, nos informa sobre sua vida de estudante e jovem rebelde, como também nos mostra uma pequeníssima mostra da visão do romancista sobre a alma dos jovens naqueles anos de chumbo do país. Provavelmente Hatoum (Alex do sonho), na juventude ainda não tinha aceitado o pensamento lacerdista de autocomiseração, de que “quem não foi comunista aos dezoito anos, não teve juventude, quem é depois dos trinta não tem juízo".


Saudades do divã                                                      
                                                                                                                                                               
Foram apenas sete sessões de análise. E isso há décadas, mas até hoje me lembro dos longos minutos de silêncio nas tardes de sexta-feira (os insuportáveis momentos de mudez) e da fala lacônica, lacaniana da minha analista paulistana.
Era bela, alta, chique, tinha ombros largos, mãos delicadas e olhos de coruja. E um tique estranho: erguia a sobrancelha esquerda, como fazem certos atores, um tique que me parecia sedutor, mas isso podia ser apenas uma percepção apressada do meu olhar narcisista. Ou seria uma mensagem enigmática da minha querida lacaniana? Nunca decifrei esse tique, que eu apelidei "farolete" porque o olho esquerdo, em relevo, iluminava tenuamente o leito das lembranças e confissões. Também desse olho solitário sinto saudades.
Durante as sessões desconfortáveis (o divã era duro e estreito, quase uma cama de faquir) eu falava dos romances e poemas que havia lido, da descoberta de grandes livros, das fugas da faculdade de arquitetura para assistir às aulas de literatura de Davi Arrigucci Jr. (quem não tinha lido O Escorpião Encalacrado?). Falava de amigos perdidos, de amigos em via de perdição, discorria sobre o nosso sonho de justiça social, sobre a nossa sexualidade promíscua e inocente que buscava a felicidade, sobre o nosso rancor à caretice e a todo tipo de repressão e dogma. Só não falava de mim, do meu Id, do meu passado, da minha fase do espelho: nenhuma frase sobre a infância e seus lances sombrios, mágicos ou iluminados. Tudo isso permaneceu trancado a sete chaves com cadeado, e essa porta blindada só seria aberta mais tarde. Não que eu não tivesse traumas, neuroses, frustrações. Quem não os tem? Em meados da década de 1970, os estudantes da USP ou de qualquer outra universidade brasileira tinham tudo isso de sobra. Talvez por ser um tigre resistente à sondagem da minha psique, preferia comentar o conto A Terceira Margem do Rio, que era um modo oblíquo de falar do silêncio do meu pai ou do meu autoexílio em São Paulo, que me faria uma espécie de órfão ainda jovem.
Ela apenas me escutava, o olho esquerdo saliente, ambarino, terrível. Quando eu me calava, podia escutar o batimento grave do coração, como se eu estivesse sozinho num cemitério de uma cidade fantasma, ou num deserto noturno, sem vento, congelado.
Lembro que numa dessas sessões silenciosas ouvi um zumbido, que em poucos segundos se tornou pavoroso; quando acordei, por pouco não caí no tapete. Era o toque do despertador, que marcava o fim da sessão. Foi um trauma e tanto. Minha analista, lacaniana radical, sequer anunciava o fim do meu monólogo. Mas dessa vez o despertador interrompeu um sonho, que eu anotei sem demora, sentado à mesa de um boteco. Na sétima sessão deitei no divã e contei esse sonho.
Eu estava no porão da gráfica da faculdade de arquitetura e urbanismo. Eu e outros estudantes ouvíamos o discurso de Alex. Lembro que reconheci líderes de diversos grupos políticos: da esquerda católica à maoista, dos rígidos trotskistas a seus inimigos comunistas e socialdemocratas. Os anarquistas eram pouquíssimos e ocupavam uma pequena ilha no porão do sonho: uma ilha banida do continente. Em seu discurso, Alex nos alertava sobre os riscos e perigos da traição. Lembro que olhei de soslaio em meu redor, procurando o rosto de um suposto traidor; lembro que alguém me olhou com a mesma desconfiança. Mas Alex não se referia a um delator, e sim a um traidor de ideias e ideais. "Daqui a 30 anos", ele disse, "quantos de nós teremos traído nossos sonhos?"
Disse à minha analista que nesse momento escutei murmúrios e protestos, e logo em seguida me assustei com o trinado do maldito despertador. Ela sorriu. Foi um sorriso aberto, oceânico, de lábios enormes. E histórico: o primeiro em quase dois meses de divã. Também pela primeira vez ela me fez uma pergunta frontal: Quem é Alex?
Um estudante do curso de Geologia, eu disse. Foi assassinado por agentes da repressão em março de 1973. Pude reconhecê-lo no sonho.
Lembro que nessa tarde troquei algumas palavras com a analista, uma conversa que durou uns quatro ou seis minutos, e essa eloquência mútua me surpreendeu. Enfim, palavras, eu disse. E quase elogiei a voz dela, uma voz que, na minha memória de paciente, era sinônimo de assombração.
Abandonei o divã naquela tarde chuvosa, com a promessa de que um dia voltaria à sala branca. Busquei refúgio na leitura de ficção e poesia, e assim tentava espantar fantasmas e neuroses. Poucos anos depois, longe do Brasil e de seus generais, censores e torturadores, comecei a escrever meu primeiro romance e descobri um modo de ser menos infeliz, de mitigar o sofrimento e evitar o abismo da depressão. A promessa de voltar à sala branca foi vã. Mas tentei preencher as lacunas de silêncio com a linguagem escrita, essa autoanálise compulsiva, prazerosa e fantasiosa, que alguns chamam ficção.
O ESTADO DE SÃO PAULO / NOTÍCIAS / CULTUTA / MILTON HATOUM / 02.03.2012

RECORDAR É VIVER - O Blog do Noblat, de hoje, 19.03.2012, relembra sua matéria de 12.12.2007 cuja manchete foi CPMF - O GOVERNO PERDEU PARA ELE MESMO. Nessa matéria podemos avaliar a importância do mandato do Senador ARTHUR NETO. Por sua teimosia, conseguiu evitar que a maioria dos votos do PSDB e do DEM fossem favoráveis à PRORROGAÇÃO da CPMF, que precisava de 49 votos para ser aprovada. Com certeza, a Presidente DILMA ROUSSEF ganharia com a presença de Arthur no Senado. Esse foi o motivo que Lulla determinou a “caça às bruxas” por ocasião das eleições de 2010, determinando a Eduardo Braga que, fizesse o que fizesse, que ele (Lulla) ajudaria de todos os modos, para derrotar Arthur Neto na sua recondução ao Senado. Daí o surgimento dos CARTÕES DE CRÉDITO nas eleições do Amazonas. Está mais próximo o retorno de ARTHUR – 451 à Câmara Alta do Congresso Nacional.

RECORDAR É VIVER

Do Blog do Noblat

CPMF - O governo perdeu para ele mesmo ( 12/12/2007)

Houve um momento, ali pelo meio da tarde de ontem, que apenas seis dos 13 senadores do PSDB permaneciam dispostos a votar contra a prorrogação da cobrança da CPMF até 2011.
Não fosse pela teimosia do líder Arthur Virgílio (AM), o PSDB teria votado em peso com o governo. E se votasse, parte do DEM também votaria. E alguns dos dissidentes da base do governo abdicariam de sua condição de dissidentes.
- Sabe o que é um castelo de cartas? - perguntou-me José Agripino Maia (RN), líder do DEM no Senado, no início da manhã de ontem. "Pois é: se você tirar uma carta, o castelo desaba. Estamos assim".
Valeu-se da mesma imagem o deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, em conversa com um amigo na noite da última segunda-feira.
O fim da CPMF, marcado para o próximo dia 31, foi a mais retumbante derrota colhida pelo governo desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez na manhã do dia primeiro de janeiro de 2003. Com rigor, foi a única derrota expressiva.
Ao fim e ao cabo, o governo perdeu para si mesmo - para sua arrogância, sua falta de articulação política e sua pretensão de ganhar sem ceder nada ou muito pouco.
O governo conta com o apoio de 14 partidos. Que no Senado dispõem de 53 votos. Precisava de 49 para vencer. Conseguiu 45, apesar do empenho de todos, rigorosamente todos os governadores.
Seria o caso de se dizer que nunca antes neste país...
Quando anteviu o desastre, tentou fazer em poucas horas o que deveria ter feito há muito tempo - acertar-se com os partidos de sua base e com os da oposição. Não teria sido difícil.
Mas não: procedeu com a desenvoltura de uma tartaruga. E com o excesso de boas maneiras de um macaco.
O que levou Lula a se oferecer para tomar café da manhã com o governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal? E a atravessar Brasília de uma ponta à outra para ir ao encontro dele?
Poderia ter chamado Arruda para tomar café no Palácio da Alvorada. Assim pediria o ritual do cargo. Por meio de um interlocutor comum, poderia ter avaliado antes se Arruda de fato teria como ajudá-lo. Não tinha. Bateu na porta errada.
Quem convenceu Lula da vantagem de despachar uma carta ao presidente do Senado quase no fim da sessão de ontem para avalizar outra, assinada pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, onde eles prometiam mais recursos para a Saúde?
Quem duvidaria da palavra dos dois ministros, sendo um deles dono da senha do cofre?
Pois o Senado ignorou as duas cartas.
Presidente da República só deve entrar em campo para bater pênalti. E de preferência contra uma meta sem goleiro. Lula entrou em campo e chutou a bola nas mãos de Virgílio.
Apesar dos erros, é justo reconhecer que o governo só perdeu porque teve pela frente um senador obstinado como o líder do PSDB.
Sozinho, ele valeu mais do que todos os governadores do PSDB - afinal derrotados tanto quanto Lula.

Publicado no O Globo / BLOGS / Blog do Noblat 8 Anos / 19.03.2012