quarta-feira, 13 de junho de 2012

COLUNA DO ARTHUR


MANAUS VERDE

Manaus precisa transformar o Mindu, que nasceu na minha administração como prefeito de Manaus, num exemplo para o mundo. Precisa recuperar seus parques públicos e se abrir para outros mais, com espaços para práticas dos mais variados esportes, cabanas para alimentação, pistas de caminhadas, tendas para shows.

Com dois milhões de habitantes, Manaus não pode contar apenas com a Ponta Negra como balneário. Está na hora de se fazer jorrar água pura da cachoeira do Tarumã Grande. Nesse cartão postal, que o descaso arruinou, cabe o Aquário da Amazônia, um jardim botânico e um parque temático com motivos da nossa região, óbvio que em parceria com a iniciativa privada.

Manaus merece a campanha que já citei aqui neste espaço: pelo menos uma árvore na frente de cada casa. A capital do verde tem de ser verde. Não pode ser rubra de vergonha e nem amarela de frustração. Tem de ser verde. Merece isso, precisa disso.

Manaus precisa de ciclovias espalhadas pelos quatro cantos de seu território. Precisa de saneamento básico, de obra embaixo da terra para garantir saúde e qualidade de vida aqui em cima.
Uma cidade bem saneada despende menos recursos com saúde. As pessoas deixam de cair doentes por causas evitáveis.

Manaus merece, enfim, que a tratemos com energia e seriedade efetiva. Manaus verde de coração alegre e autoestima elevada.

Tem de ser o nosso sonho e a nossa luta para concretiza-lo. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

COLUNA DO ARTHUR


ERRÁTICA

A política econômica do governo Dilma Rousseff se revela errática. Adota medidas pontuais e insuficientes para buscar a retomada. Não contempla as colinas do longo prazo.
Lida com inflação (elevada, apesar de maquiada), em seus dois primeiros anos e corre sério risco de gastar um quadriênio inteiro assim. Mantega inaugurou 2012 alardeando crescimento de 4,5%. Cansamos de escrever que não chegaria a 3%. Hoje, é consenso no mercado que, no máximo, se repetirá a performance pífia de 2011: 2,7%.
A média da inflação (maquiada, repito) de 2011 e 2012 ficará em torno de 6%. O déficit em conta corrente ultrapassará US$68 bilhões. E a valorização do dólar, diante do real, não conseguiu, até o momento, melhorar o desempenho de nossas exportações industriais.
Lula e Dilma abandonaram a perspectiva das reformas estruturais. Ele passou oito anos evitando desgastes e deixando de aproveitar o tempo dourado da economia internacional, com os preços das commodities lá no alto. Sem falar que se beneficiou do país reformado e organizado que herdou. Meramente prosseguiu as políticas econômicas de Fernando Henrique e prestou grande desserviço ao Brasil, quando artificializou crescimento de 7,5%,em 2010, para eleger, a qualquer custo, sua candidata. Tal gesto foi o apito inicial para a desorganização da economia.
Ela administra o cotidiano de um modelo que se esgotou. Não conseguirá levar-nos a crescimento sustentável e duradouro, se imagina que o caminho, ao invés das reformas e do aumento da taxa de investimento, é o crescimento do consumo, por parte de nossas endividadas famílias. O que gera desenvolvimento mesmo é o investimento. Baixo investimento e estímulos pouco consequentes ao consumo já resultaram em espasmos. Agora, nem mais isso.
O tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários está sendo desmontado, a cada dia, pelas ideias retrogradas de Guido Mantega. O Fundo Soberano Brasileiro (FSB), constituído, em dezembro de 2008, com restos de superávits, no valor de R$14,30 bilhões, vale, agora, três anos e meio depois, R$14,25 bilhões. Conclusões: a) o FSB tem dado prejuízo aos brasileiros; b) se se tratasse de fundo privado, Mantega teria sido demitido há muito tempo.
As ações da Petrobras valem menos, na atualidade, do que valiam na fase mais aguda da crise mundial de 2008. Isso apesar do aumento das reservas provadas, apesar do pré-sal. A empresa tem sido tão mal gerida, que nada disso serve para lhe valorizar as ações ordinárias nominativas e preferenciais nominativas.
Tantas medidas atrasadas, o governo adotou, contra o ingresso de capitais externos que agora corre atrás de investidores que, visivelmente, perdem o encanto com nossa economia. Entristece ler o respeitado consultor (na Inglaterra, consultor faz consultorias mesmo; aqui, certos apaniguados do poder enriquecem com “consultorias”) britânico Simon Anholt: “(o Brasil) é um país que desperta carinho, mas não respeito”.
Na sucupira do prefeito Odorico, aquele personagem imortal de Dias Gomes, Anholt logo seria considerado persona non grata pela Câmara de Vereadores local. As três pombinhas aplaudiriam de pé.
A realidade é outra. Devemos mergulhar nas nossas águas mais internas e delas emergir com a consciência da responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros.
Trabalhar duro e na direção correta é o que tem de ser feito. Nada contra merecer o carinho dos ingleses. Mas precisamos preparar-nos para exigir verdadeiro respeito, de quem quer que seja.

Só sendo muito amigo para um "sacanear" o outro amigo famoso, mesmo sendo irascível, depois de morto.


DE VOLTA ÀS RUAS

Da Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - Em 1968, quando ainda morava no Rio, Paulo Francis disse casualmente numa roda em que se discutia certo programa de televisão: "Minha televisão fica no quarto da empregada. Sinto que estou envenenando a coitadinha". Gargalhadas gerais. E não era mais um esnobismo de Francis. Era a verdade. O surpreendente é que, com isso, ele admitia ter televisão em casa, mesmo que no quarto dos fundos.

Eu, por exemplo, garoto, boêmio e morador do Solar da Fossa, não tinha. Nem me passava pela cabeça. A rua era excitante demais para se ficar em casa, e a programação das emissoras, mesmo com os festivais da canção, não era páreo para a vida real.

Naquele ano, havia 4 milhões de aparelhos no Brasil. Hoje, são 200 milhões. Mas nada é eterno, e algo me diz que a televisão doméstica, entronizada na sala ou no quarto de dormir, chegou ao pico -muito mais gente logo estará ligada em telinhas na palma da mão do que nessas catedrais de 50 polegadas. E, para quem continuar a manter uma TV em casa, ela não terá mais status do que um liquidificador.

O que me parece ótimo. Com as telinhas de três polegadas, as pessoas estão voltando a sair às ruas, sem prejuízo da sua fome de informação. A televisão vai com elas. Não admira que os botequins vivam abarrotados -quando as pessoas querem se informar sobre alguma coisa, interrompem a fala ou a mastigação e tiram a maquininha do bolso.

Em 1971, Francis se mudou para Nova York. Pouco depois, fui visitá-lo lá. Estranhei quando vi uma enorme TV na sala de seu apartamento na Bleecker Street, no Village. E mais ainda quando ele me falou entusiasmado de um novo sistema de transmissão paga, em que cabos por baixo das ruas lhe permitiam assistir a 40 ou 50 canais. E o engraçado é que, como sua antiga empregada, Francis não se sentia envenenado.


FOLHA DE SÃO PAULO / EDITORIAIS / RUY CASTRO / DE VOLTA ÀS RUAS / 11.06.2012.