sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

COLUNA DO ARTHUR NETO


COLETA SELETIVA

Lisboa – Todas as escolas públicas e particulares deveriam estabelecer como norma a coleta seletiva do lixo. Por todas as razões, a começar pelo fato de que tal atitude será útil para as cidades e para a vida dos cidadãos e, sem dúvida, porque significará a consciência ecológica despertada desde cedo nas crianças e nos jovens.

As residências deveriam fazer o mesmo.

Parece que o gesto individual em nada altera a realidade, mas é de se lembrar da fábula do passarinho que, vendo a floresta pegar fogo, começou a levar água, em seu pequeno bico, para enfrentar o incêndio.

Ouve então a gargalhada de um enorme pássaro, que lhe disse:

- Como você é ingênuo, achando que com essa aguinha de nada vai apagar o fogaréu.

Ao que o pequenino respondeu:

- Você pode ter razão, até porque figuras como você se dedicam a ridicularizar quem trabalha, ao invés de usar o bicão para transportar água. Se todos fizerem como você, o fogo se vai alastrar mesmo. Se todos fizessem como eu, as chances de salvar a floresta que nos abriga seriam reais.

Que cada um faça a sua parte, dando exemplo a ser repetido por outras pessoas. E o poder público pode instituir a coleta seletiva em suas escolas e repartições, assim como os empresários igualmente deveriam empreendê-la em seus estabelecimentos.


Sou otimista. Há bem pouco tempo, não existia nada nesse sentido. Atualmente, já se percebe paulatina mudança de atitude.

Que o processo se acelere, são meus votos sinceros.

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BORDER LINE

NÃO É UM MAR DE ROSAS

Lisboa – O PIB do terceiro trimestre foi zero. O do último semestre do ano ficará perto disso. Trocando em miúdos, apresentamos resultados piores que os de Alemanha e França, da Europa em crise. O investimento recuou. A poupança também. Calculo que poderemos ficar um pouco abaixo dos 3%, em termos de crescimento do PIB, em 2011. O grosso disso se deverá ao chamado efeito "carry over", que é a transferência automática do crescimento de um ano para o outro. Como, em 2010, o eleitoralismo do governo artificializou crescimento acima de 7%, despertando, inclusive, o dragão da inflação, o "carry over" transmitiu mais de 2% daquele ano para este. A inflação, elevada, acima do teto da meta, já é responsável por greves no País. Ela contrasta com a perda de vigor da economia. O pequeno Peru tem apresentado taxas de crescimento elevadas, ano após ano, com inflação em torno de 2%. O nome disso é sustentabilidade. Aqui, o governo artificializou o crédito e alavancou crescimento insustentável a partir daí. País nenhum cresce de forma sustentável com investimento baixo, poupança idem e inflação elevada.

Enquanto isso, em Barueri o controle do orçamento é da Secretaria de Finanças e a capacidade de gestão eficiente da educação é assombrada por uma curiosa coincidência: o Secretário da Educação é o irmão do prefeito. É claro que essas diferenças, por si só, não querem dizer muito, mas demonstram que o problema educacional brasileiro parece não ser falta de dinheiro, mas de competência gerencial.

Leiam o artigo de LUCIANO PIRES. Ele explica algumas das causas do baixo índice educacional dos municípios brasileiros.


Quantidade x Qualidade - Artigos - Café Brasil

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

COLUNA DO ARTHUR NETO


QUESTÃO SIMPLES

Lisboa – A situação do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, se complica mais e mais. Não consegue oferecer respostas satisfatórias para as indagações que a imprensa coloca a respeito de contratos de “consultoria” celebrados pela P-21.

É desmentido pelos donos da ETA, empresa pernambucana, que negam a existência de contrato e afirmam que a quantia declarada pelo ministro estaria fora das possibilidades dessa fabricante regional de guaraná. Seu sócio, visivelmente pressionado pelo prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, “pediu” demissão do cargo de confiança que exercia.

O prefeito, certamente, buscou blindar sua administração contra os efeitos que estão por vir, no bojo da nova trapalhada a envolver membro do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff. E o sócio, para proteger o filho, que mantém contratos com a Prefeitura e para não jogar gasolina no incêndio que começa a envolver Pimentel, saiu de cena com ares de temor.

A questão para mim é bem simples: embora exibindo números mais “modestos”, as consultorias de Fernando Pimentel parecem mais com as de Antonio Palocci do que com os trabalhos legítimos e normais dessa área. Comprovando-se o tráfico de influência, terá de ser demitido do governo, em que pese a notória e sincera estima que por ele nutre a presidente.

De todas as sete demissões ocorridas em menos de um ano de governo, seis das quais sob acusações de graves irregularidades, essa haveria de ser a mais dura, emocionalmente, para Dilma. Mas ninguém se iluda: do jeito que os fatos caminham, a posição do ministro se enfraquecerá mais e mais. Chegando ao ponto de não retorno, a queda se tornará inevitável.

A presidente, na verdade, não pretendia demitir nenhum dos seis ministros em apuros. Tentou segurar cada um deles. Só consumou as degolas, quando todas as situações eram, já, insustentáveis.

Com Pimentel não será diferente. Ou prova que não traficou influência, ou cairá.

Nas democracias é assim. Os chefes de governo nomeiam e podem, quando desejam, demitir. São, porém, obrigados a demitir, ainda que não queiram, quando o auxiliar protegido não se agüenta mais em pé.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011


RUTH CARDOSO


Lisboa – Li o livro de Ignácio de Loyola Brandão: "Ruth Cardoso - Fragmentos de Uma Vida". Vale a pena.

Descreve a história de uma mulher culta, detentora de todos os lauréis acadêmicos, porém simples, reservada, modesta. Digna o tempo todo.

Quando seu marido governou este país, ela montou, em parceria com ONGs que em nada lembram as falcatrueiras das recentes manchetes dos órgãos de comunicação, o Comunidade Solidária. Para isso, extinguiu a assistencialista LBA e iniciou programas que culminaram na Rede de Proteção Social que marcou o período Fernando Henrique.

Nascia aí o embrião de programas como o Bolsa-Escola, o Vale-Alimentação, o Vale-gás, o Projeto Sentinela e tantos outros adotados por Fernando Henrique e depois englobados por Lula no Bolsa Família.

Sua vida valeu a pena de ser vivida. Serviu muito bem ao seu país, ao seu povo, principalmente como a antropóloga realista que foi.

Tudo nela chegava ao concreto. Tudo tinha começo, meio e fim. Fazia as coisas acontecerem.

UMA GRANDE MULHER

Lisboa – Em breve, lerei "Ruth Cardoso - Obra Reunida", livro organizado por Tereza Pires do Rio Caldeira, ex-aluna da notável antropóloga, hoje lecionando em Berkeley, nos EUA. O Estado de São Paulo, em sua edição de 12 de novembro último, veiculou bela matéria intitulada "A Moderna Antropologia de uma Discreta Feminista", recomendando a leitura do trabalho concatenado por Tereza Caldeira.

Difícil ver quem, teorize bem e, ao mesmo tempo, meta a mão na massa e transforme a teoria em realidade tangível. Pois Ruth era assim.

Ouvia com paciência. Falava com precisão. E, tirado um consenso com seus discípulos e colegas, queria partir logo para a pesquisa de campo. Queria transformar a realidade numa coisa melhor. Queria fazer a parte que lhe coubesse com aplicação perfeccionista.

Um grande ser humano. Uma grande mulher.