domingo, 6 de novembro de 2011

Texto interessante e muito atual, escrito há 20 anos pela Jornalista Mônica Falcone, de Roma, mostra como o nosso ensino encontra-se defasado, principalmente, aqui na Amazônia. O ensino formal, mesmo em tempos de vacas gordas no mercado de trabalho, nunca nos possibilitou ser nada além de empregados. Hoje, com a super-competição, nem isso ele facilita. As gerações passadas e presentes nunca receberam treinamentos e conhecimentos para serem empreendedores, criativos e investidores. Por isso, julgamos ser oportuno a republicação desse texto, publicado na Revista SuperInteressante, no seu número 49, de outubro de 1991. O titular deste Pré-Blog fez uma especialização em 2001, na S3 Studium, em Roma, Itália.


CRIATIVIDADE SE APRENDE NA ESCOLA ( Parte I)

Instalada há doze anos num prédio do centro histórico de Roma, A S3 Studium ensina seus alunos a serem criativos e os prepara para enfrentar, com sucesso, as necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais exigente. 

Por Monica Falcone, de Roma

Imagine uma escola onde doze estudantes bem vestidos sentam-se em torno de uma antiga e longa mesa oval de nogueira. Todos falam: ali não existe a divisão tradicional entre professor e aluno. No roteiro da aulas é que existe algum roteiro há uma constante mistura de realidades diferentes. Ouvem-se belíssimas citações do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986)"O paraíso existe e está aqui na Terra, o inferno existe e consiste em não saber que aqui é o paraíso" entremeadas a afirmações peremptórias do industrial Henry Ford (18631947)"Os americanos podem escolher todas as cores de carro que quiserem, desde que escolham o preto.

É assim que funciona, em Roma, capital da Itália, a S3 Studium, uma escola vá lá o nome convencionalque se propõe a ensinar criatividade a seus alunos: executivos que trabalham na indústria, na administração pública, na direção de grandes hospitais, empresas de comunicação ou complexos Turísticos. E eles não têm do que se queixar quanto à eficiência do curso. Paolo Vaselli. sociólogo recém-formado, fez uma espécie de pós-graduação na S3 e logo tornou-se um dos profissionais mais disputados da Itália na área de treinamento de executivos. Outro recém-formado, Raffaelo Merli, estava desempregado ao se matricular no curso. Atualmente, executivo da ENI (Ente Nazionale Idrocarburi), a similar italiana da Petrobrás, fareja e pesquisa novidades e avanços na área da tecnologia de combustíveis para serem eventualmente aplicados na empresa.

Hoje, quem procura um emprego bem remunerado em empresas de sucesso, em qualquer ramo e profissão, tem de ser, antes de mais nada, criativo. Sem dúvida, um desafio, pois não se aprende criatividade na escola regular e, quase sempre, se é desencorajado a ousar nas primeiras experiências profissionais. Para suprir essa falha é que o sociólogo Domenico De Masi, catedrático de Sociologia do Trabalho da Universidade de Roma, fundou há doze anos (hoje, 32 anos) a S3 Studium.

Juntamente com o sociólogo francês Alain Touraine e os sociólogos americanos Daniel Bell e Alvin Toffler (autor do best seller A Terceira Onda). De Masi não só identificou o início de uma época pós-industrial como também antecipou muitas das características da organização da indústria e da sociedade em que estamos vivendo.

Nessa nova sociedade dominada pela Informática e na qual as necessidades antes supérfluas como a televisão, o esporte e a moda passaram a ser essenciais, a criatividade é uma matéria-prima preciosa. De Masi acredita que para responder à voraz demanda de novos produtos e modelos do mercado atual, cada vez mais exigente e sensível à moda, é preciso ser criativo-seja para inventar mecanismos de marketing alternativos ou métodos de produção rápidos e econômicos. Quem realizar essa tarefa no menor espaço de tempo, vence o duelo. muitas vezes mortal, com a concorrência.

O professor gosta de ressaltar a importância da criatividade na indústria automobilística; para lançar um novo modelo de carro, as montadoras européias gastam oito anos em preparativos; já os japoneses, trabalhando em grupo e eliminando a tradicional divisão do trabalho, precisam de apenas três. Na tentativa de remediar esta e outras desvantagens do mesmo gênero, os europeus procuram deter a invasão dos carros japoneses, criando obstáculos nas fronteiras.

Na S3 Studium começa-se a aprender criatividade ao atravessar a soleira da porta principal. Os móveis e quadros. por exemplo, foram herdados de cenários dos filmes de Lina Wertmüller, magníficos exemplares de Jugendstil, estilo que vigorava na Alemanha, no final do século passado. É que o apartamento onde a escola funciona pertence ao cenógrafo Enrico Jobi, marido de Lina, amigo de De Masi e responsável pela decoração. Nesse ambiente de bom gosto, profissionais de diversas áreas se encontram durante três anos tempo de duração do curso de pós graduação, denominado Ciências Organizativas. As aulas, concentradas em um só dia da semana, começam às 9 horas e terminam às 17. E a pontualidade é uma das poucas regras da escola. Quem chega atrasado, certamente ouve uma reprimenda. (Continua na próxima 3ª. Feira.)

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