quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Texto interessante e muito atual, escrito há 20 anos pela Jornalista Mônica Falcone, de Roma, mostra como o nosso ensino encontra-se defasado, principalmente, aqui na Amazônia. O ensino formal, mesmo em tempos de vacas gordas no mercado de trabalho, nunca nos possibilitou ser nada além de empregados. Hoje, com a super-competição, nem isso ele facilita. As gerações passadas e presentes nunca receberam treinamentos e conhecimentos para serem empreendedores, criativos e investidores. Por isso, julgamos ser oportuno a republicação desse texto, publicado na Revista SuperInteressante, no seu número 49, de outubro de 1991. O titular deste Pré-Blog fez uma especialização em 2001, na S3 Studium, em Roma, Itália.


CRIATIVIDADE SE APRENDE NA ESCOLA (III PARTE)

Por Monica Falcone, de Roma

Instalada há doze anos num prédio do centro histórico de Roma, A S3 Studium ensina seus alunos a serem criativos e os prepara para enfrentar, com sucesso, as necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais exigente.

Por Monica Falcone, de Roma

Aproveitando as dúvidas levantadas pelo aluno Antonio Zazzetta. executivo do Instituto Nacional de Previdência Social italiano, o professor explicou que, além da criatividade, as características da empresa pós-industrial são a intelectualização do trabalho, a primazia da estética, a ressurreição dos valores éticos, a feminilização, a valorização da afetividade, a possibilidade de trabalhar longe da sede e em horários diferentes, a importância da individualidade e da qualidade de vida. E exemplos não faltaram.

É evidente, insiste o mestre, a intelectualização do trabalho nas empresas modernas. No século passado, o pensador alemão Karl Marx (1818-1883) observou que para cada 100 operários de uma indústria existiam quatro funcionários de escritório, responsáveis pelo chamado trabalho intelectual. Hoje, dos 14 000 funcionários que a IBM tem na Itália, apenas 400 são operários, chamados de "empregados tecnológicos". É a estética que faz do célebre relógio suíço Swatch um best seller planetário, e não a precisão ou a durabilidade de seu mecanismo.

O sucesso se deve também a uma estratégia de mercado inteligente que impediu a sua vulgarização. Outro bom exemplo é o da empresa Unilever, que conquistou o mercado de sorvetes populares na Itália, a pátria do sorvete, não com receitas particularmente saborosas, mas com a beleza das embalagens e com uma publicidade alegre, musical, que mirava diretamente o consumidor jovem. No Brasil, a Gessy Lever que produz os sorvetes da marca Gelatto, veiculou um anúncio do sorvete Cornetto, nesses moldes.

Quem não se lembra do jovem que passeava de gôndola pelos canais de Veneza e ao cruzar com outra transportando uma mocinha roubava-lhe o sorvete ao som de uma nova versão de O sole mio? A redescoberta dos valores éticos no trabalho e nas empresas foi denunciada pelo faro cinema americano. Nos Estados Unidos, lembra De Masi, o cinema é um veículo importante de transmissão de valores.

Filmes como Wall Street, Uma linda mulher, A secretária do futuro, A fogueira das vaidades, são bons exemplos de como voltou a ser fundamental um comportamento ético tanto da empresa quanto do profissional. Segundo De Masi, as empresas atuais estão totalmente despreparadas para enfrentar aspectos como a importância crescente da subjetividade, da afetividade e da feminilização do trabalho. Para o Professor o caso ocorrido com a missão conjunta inglesa e soviética no espaço, em maio passado, é sintomático.
Os astronautas soviéticos não conseguiam trabalhar com a astronauta inglesa porque ela trocava de roupa com naturalidade no exíguo espaço da nave, e reclamaram ao comando da operação na Terra. "O problema é que ela se trocava na frente deles, mas não ia para a cama com eles. Eles também se trocavam diante dela, mas não aceitavam a recíproca."

Da mesma forma, a maior parte dos executivos não sabe como se comportar com uma colega de trabalho ou uma cliente", constata De Masi Por fim, a última característica das empresas que o professor define como pós-industriais é a possibilidade que a Informática oferece de se trabalhar longe da sede e em outros horários. É o que ele chama de teletrabalho. Significa estar ligado com a empresa através de terminais de computadores e desenvolver suas tarefas em casa ou em escritórios pequenos, distantes da sede.

Pode parecer ficção científica, mas 1,8 milhão de empregados da IBM em todo o mundo já trabalham assim. A Benetton, líder mundial na confecção de roupas esporte, conseguiu explorar bem as vantagens desse conceito: a maior parte da execução das roupas que comercializa é feita por 700 micro e pequenas empresas que realizam o trabalho em suas próprias dependências. Estudos realizados pelo próprio De Masi e alguns de seus alunos demonstraram que se 4% dos trabalhadores de Nápoles trabalhassem em casa, todos os problemas de trânsito da cidade estariam resolvidos e ainda se faria grande economia de combustível.

Na Itália, Nápoles é o exemplo mais acabado de uma cidade à beira do caos, com trânsito praticamente bloqueado, serviços públicos inexistentes e níveis de poluição que já ultrapassaram o estado de alarme.

Para Linda Salerno, funcionária de uma empresa de consultoria e formação de executivos, que questionou o quadro ideal pintado por De Masi e a realidade que se encontra na maioria das empresas, a resposta foi a seguinte: Devemos explorar as potencialidades que conhecemos, responsáveis pela diferença das empresas de sucesso hoje e que serão essenciais para as empresas do futuro. O problema é dos que não querem aceitar a realidade. Com o computador pude reduzir muito as minhas horas de trabalho diárias e produzir mais. Neste caso é inevitável ser um pouco cínico e aproveitar pessoalmente o que se sabe".

Terminada a lição, o grupo de alunos e professor foi a pé até uma das melhores e mais antigas sorveterias da cidade, pouco distante da escola. Ali, entre um sorvete e outro, esteticamente perfeitos, continuaram as citações de Ford, provérbios populares, Borges, Jorge Amado Shakespeare e Fellini.

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