quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Texto interessante e muito atual, escrito há 20 anos pela Jornalista Mônica Falcone, de Roma, mostra como o nosso ensino encontra-se defasado, principalmente, aqui na Amazônia. O ensino formal, mesmo em tempos de vacas gordas no mercado de trabalho, nunca nos possibilitou ser nada além de empregados. Hoje, com a super-competição, nem isso ele facilita. As gerações passadas e presentes nunca receberam treinamentos e conhecimentos para serem empreendedores, criativos e investidores. Por isso, julgamos ser oportuno a republicação desse texto, publicado na Revista SuperInteressante, no seu número 49, de outubro de 1991. O titular deste Pré-Blog fez uma especialização em 2001, na S3 Studium, em Roma, Itália.


CRIATIVIDADE SE APRENDE NA ESCOLA


Instalada há doze anos num prédio do centro histórico de Roma, A S3 Studium ensina seus alunos a serem criativos e os prepara para enfrentar, com sucesso, as necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais exigente. (II PARTE)

Por Monica Falcone, de Roma

A primeira lição que se aprende ao entrar na S3 é que o ambiente é fundamental para a criatividade: "Só os superficiais não acreditam na aparência", ironiza De Masi, citando Oscar Wilde. Todo mundo é criativo pelo menos em algum campo. O importante é receber estímulos psicológicos e estéticos do ambiente", assegura o professor, um jovial e bem-humorado cinqüentão, chamado carinhosamente pelo apelido de Mimo. De fato, o clima na escola é alegre, variado e quase festivo, contrastando com a realidade do cotidiano das empresas onde trabalham alguns dos trinta alunos matriculados nas três séries do curso: executivos da indústria ou da administração pública, profissionais recém-formados em Economia, Sociologia, Física e Engenharia.

Nem todos, no entanto, moram em Roma. O engenheiro Pier Luigi Bongiovanni, por exemplo, executivo de uma empresa que produz equipamentos industriais, mora em Bergamo e viaja 624 quilômetros toda semana para assistir às aulas. Alguns estrangeiros que trabalham em Roma também freqüentam o curso. A diversificação da formação acadêmica que mistura engenheiros, físicos, economistas e sociólogosé intencional e é um critério levado em conta nos exames de seleção. "A criatividade pode nascer da faísca entre duas culturas ou pontos de vista diferentes", observa um dos trinta professores que acompanham individualmente, como tutores, a atividade de cada aluno.

Outra lição que o ambiente da S3 ensina é que as pessoas criativas sempre conseguem transformar os próprios limites em vantagens. As instalações da escola são pequenas, mas aconchegantes. Isso permite organizar os alunos em grupos reduzidos, o que aumenta a participação e conseqüentemente o rendimento de todos eles. O restante do programa é individual e estabelecido entre o aluno e seu tutor, que determina os livros a serem resenhados e os estágios a serem feitos. É o tutor quem acompanha também o desenvolvimento de uma pequena tese de pesquisa a ser apresentada no final do ano.

A anuidade para os alunos do 1.° e 2.° ano é de 3 milhões de liras ( equivalentes a quase 900 000 cruzeiros) e para os do 3.° ano. 4 milhões (equivalentes a 1,2 milhão de cruzeiros). Como esse dinheiro mal paga as despesas, a escola recorre freqüentemente a patrocinadores escolhidos entre as empresas privadas e públicas, um dia comum de aula, em junho passado, De Masi precisou descrever uma empresa onde seu dono, geralmente o fundador, centraliza tudo. Criativo, valeu-se de uma frase do novelista francês Gustave Flaubert (1821-1880): "Madame Bovary c'est moi" (Madame Bovary sou eu).

E assim ele prosseguiu a aula com os alunos descrevendo experiências de trabalho. As questões que eles tiveram de resolver se transformaram num exercício coletivo, para provar que um problema pode ter muitas soluções, umas mais criativas outras menos. Já a lição de De Masi sobre "A empresa criativa e a resistência às mudanças", para os alunos do 2.° e 3.° ano, começou com a leitura de uma página do escritor italiano Italo Calvino.

É um trecho de uma conferência sobre os planos de realidade que convivem na literatura. Depois da leitura, cada aluno teve 15 minutos para escrever as questões ou dúvidas que a leitura suscitou em relação ao tema. A discussão dessas dúvidas forneceu material para compor o quadro das características da organização ou empresa onde existe muita criatividade. Descobriu-se, então, que essa empresa não tem a forma hierárquica tradicional de uma pirâmide, onde os quadros dirigentes se situam no topo. Conclusão: uma empresa criativa é estruturada como uma rede em que os pontos de intersecção dos fios, os nós, são os momentos de controle. Por exemplo, numa redação de jornal, um momento de controle seria a reunião de pauta da manhã.

Na empresa criativa os momentos de controle são tão necessários quanto a liberdade de improvisar. Para exemplificar esse conceito, De Masi analisa como são feitas as improvisações pelas bandas de jazz. Um dos pontos de referência fixos é a composição da música sempre em 32 compassos. A seguir cada músico improvisa, mantendo, porém, os 32 compassos como referência. Terminado o improviso, todos os músicos voltam ao ponto de referência fixo inicial e repetem a música em conjunto. (Leiam a última parte deste Artigo, na 6ª. feira). 

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