domingo, 29 de janeiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO

ATENÇÃO

Lisboa – O Banco Central, na gestão Tombini, virou mero apêndice do Ministério da Fazenda, abrindo mão da autonomia – não me referi a independência – conquistada em 16 anos de Fernando Henrique e Lula. Foi aparelhado. Dois dos seus diretores já foram filiados ao PT. Esse retrocesso será cobrado aos brasileiros mais hora menos hora.

O mercado, faz algum tempo, dá como certo que o ministro Guido Mantega deixará o governo. Abre-se a interrogação: os rumos mudarão? Ou persistirá a interferência da Fazenda sobre um órgão que deve ser posto acima de injunções políticas?

O crescimento econômico de 2011 foi pífio, estimado em 2,87%, contra inflação que, só porque foi maquiada, ficou no teto da meta (6,5%). Para 2012, deveremos crescer, se a Europa não aprofundar sua crise e se o caso iraniano não adquirir contornos mais graves, algo em torno de 3%, contra inflação à volta de 5,5%.

Neste mesmo 2012, a média do mundo e dos países em desenvolvimento será, respectivamente, de 3,3% e 5,4%. Ou seja, cresceremos menos que nossos vizinhos e nossos concorrentes, com a agravante de mantermos a inflação pressionada e estarmos vendo a farsa do crédito artificial endividando as famílias e se exaurindo enquanto “modelo”.

Nosso déficit em transações correntes foi o maior de todos os tempos: US$52.612 bilhões, coberto pelo ingresso de capital estrangeiro, que vem atrás dos juros elevados e que causaria uma tragédia, se do Brasil se afastasse repentinamente, por razões de ordem econômica internacional. Para o corrente exercício, o déficit está estimado em algo próximo de US$66 bilhões.

O real já se valorizou 6,7% ao ano, neste início de governo Dilma Rousseff, cotado em torno de R$1,75. Entre as 18 principais moedas do mundo, é a que mais se valorizou.

Em miúdos: o governo deixa o real se valorizar para conter a inflação que a gastança eleitoreira despertou. Com isso, prejudica empresas nacionais que concorrem com produtos importados. Isso é péssimo, por exemplo, para o Polo Industrial da Zona Franca de Manaus, que importa insumos, partes e peças do estrangeiro.

Atenção à crise do euro, que, na verdade, abrange toda a Europa e se reflete no mundo. O governo não deve valer-se dos mesmos remédios que usou em 2008. São situações diferentes.

Atenção à crise provocada pelo Irã, com seu programa nuclear visivelmente belicista, destinado a construir artefatos nucleares. Eventual agravamento do conflito levaria a uma explosão dos preços do petróleo, a mais inflação (no mundo e no Brasil) e a crescimento menor, no mundo e no Brasil igualmente.

Não é hora de o governo dormitar em berço esplêndido.


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