sexta-feira, 16 de março de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


TRABALHO INÓCUO

Lisboa – O governo vem adotando medidas, para enfrentar a valorização do real diante do dólar, de maneira atabalhoada e inconsequente. São medidas artificiais, que poderão custar significativo preço econômico ao país.
Em primeiro lugar, registre-se que em momentos de relativa calmaria, os capitais procuram mercados supostamente seguros, que lhes proporcionem forte remuneração. O Brasil, sua democracia, sua estabilidade econômica e política – e com seus juros elevados – é um desses portos. Quando sinais de recrudescimento da crise surgem no horizonte, esses mesmos capitais vão em busca das bolsas norte-americanas que, com todos os pesares, são as mais garantidas dentre todas as suas congêneres.
Em segundo lugar, remarque-se que, neste momento, tanto EUA quanto Japão, Zona Euro e Inglaterra estão inundando o mundo com liquidez impressionante. É a forma que encontraram de enfrentar suas próprias crises. E aí, como bem diz a Presidente Dilma Rousseff, um tsunami de dólares desaba sobre o Brasil, valorizando-nos a moeda.
Rebaixar a taxa Selic mais do que já a rebaixou, penso que o governo não pode fazer indefinida e impunemente. Há uma taxa de juros de equilíbrio que, se ultrapassada, aciona os mecanismos de alavancagem da inflação. Que, diga-se de passagem, já está elevada demais para os padrões internacionais, sempre muito acima da meta estipulada pelo Banco Central, contra crescimento pífio de 2,7% em 2011 e perspectiva real (não os delírios de Guido Mantega) de menos de 3% para 2012.
A inflação, que ameaça sair dos eixos em 2013, já acumula 1,01% nos dois primeiros meses deste exercício. A produção industrial recua perigosamente, iniciando um processo de desindustrialização; o dólar baixo facilita a entrada dos importados e, com isso, diminui perigosamente o saldo positivo da balança comercial. E passamos a exportadores de empresas e empregos para outros centros, leia-se China.
O governo, que submeteu o Banco Central às ordens do Ministério da Fazenda, em retrocesso mais do que lamentável, deixa claro que não faz esforço para atingir o centro da meta inflacionária (elevados 4,5%); parece focar em 5,5%, que seria a meta informal e verdadeira a ser perseguida. O déficit em conta corrente beirará os US70 bilhões em 2012.
Se o PIB crescer 2,5% neste ano e se o somarmos aos 2,7% de 2012, teremos, como média do biênio, irrisórios 2,6%.  E se somarmos a inflação, maquiada, de 2011 (6,5%) com possíveis 5,7% em 2012, teremos a rude media de 6,1%. Resultado: prejuízos para os brasileiros como um todo, sobretudo para os mais pobres.
O crédito diminui. A inadimplência aumenta. A inflação alta contribui, em muito, para o aumento da inadimplência. Aliás, inflação acima de 5% por período prolongado gera insatisfação social.
Daí as greves que vão pipocando aqui e ali. Ou já nos esquecemos do ruidoso episódio da PM baiana, quando o governador Jacques Wagner cortejava os ditadores cubanos e seu estado virava trágico faroeste?
Melhor advertir duramente do que bajular torpemente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário