quinta-feira, 13 de outubro de 2011

POLÍTICA MONETÁRIA ENTRE A INFLAÇÃO FUTURA E A PASSADA.

SÃO PAULO - Alguns economistas, para justificar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa de juros básica, argumentam que as autoridades monetárias têm de levar em conta não a inflação passada, mas, sim, a inflação futura.
Têm toda razão quanto ao fato de que é a evolução dos preços nos próximos meses que se deve levar em conta nas decisões de política monetária, uma vez que essas decisões demoram cerca de seis meses para surtir efeitos. Porém, o que intriga é que a decisão de baixar o juro básico vem justamente numa fase em que a pressão inflacionária deve aumentar, sob influência de fatores já decididos e de outros que deverão sobrevir.
A inflação tem sua fonte principal no desequilíbrio entre a demanda e a oferta - lembrando que, desde que assumiu o poder com Lula, o PT dá prioridade à elevação do consumo, sem se preocupar com fato de que o "gap" de oferta seria preenchido por elevação das importações, que, mantida por muito tempo, tem como resultado um processo perigoso de desindustrialização. O volume crescente dos gastos do governo, mesmo coberto por um aumento das receitas, se traduz por uma elevação da liquidez do sistema monetário, que está contribuindo para elevar a oferta de crédito, o alvo do governo.
A inflação futura, que é o que leva a críticas da decisão do Copom, tem algo de preocupante. Se no início do ano os sindicatos não tinham como avaliar o que seria a inflação futura - e por isso conseguiram aumentos dos seus salários que, na melhor das hipóteses, foram muito ligeiramente superiores à inflação -, no segundo semestre, quando ocorrem os dissídios das maiores categorias sindicais, os reajustes salariais são pleiteados num ambiente que aposta em fortes pressões de alta de preços. Isso contribuirá para uma elevação da demanda. Não podemos menosprezar, ainda, o peso que tem nessas discussões o fato de que por lei o salário mínimo em janeiro será elevado em cerca de 14%, com efeito devastador sobre a Previdência Social.
Temos de levar em conta que nas últimas semanas se registrou uma reorganização de administrações que tem por base o aumento dos funcionários, isto é, dos gastos do governo. Considerando que nos oito primeiros meses os investimentos do governo federal ficaram aquém do Orçamento, é de prever que aumentem muito no terceiro trimestre. E ainda virão os efeitos de uma desvalorização do real. A inflação futura se mostra robusta.

O Estado de S. Paulo - 13 DE OUTUBRO DE 2011 - 8H 07

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