terça-feira, 22 de novembro de 2011

COLUNA DO ARTHUR NETO - JANGO


JANGO

Lisboa – Estou lendo JOÃO GOULART, de Jorge Ferreira, alentada biografia do ex-Presidente que assumiu, em setembro de 1961, a cadeira do renunciante Jânio Quadros. Houve o veto militar à posse e a isso se seguiu o episódio épico da Cadeia da Legalidade, liderada, do Palácio Piratininga, pelo governador gaúcho Leonel Brizola. Terminou havendo um acordo que evitou a guerra civil: estabeleceu-se um parlamentarismo canhestro, prematuro, com Tancredo Neves de Primeiro-Ministro.

Este, com sua proverbial lealdade, trabalhou o tempo todo para que se restabelecesse o presidencialismo e, com ele, os poderes que tinham sido subtraídos de Jango Goulart. Em 1962, após plebiscito, morria aquele parlamentarismo torto e se restabelecia o regime anterior.

Meu pai foi líder do PTB de Jango e Brizola na Câmara, como Deputado. E desse mesmo partido, acumulando com a liderança do Governo, no Senado.

Viveu momentos duros. Com a queda de Jango e o advento da ditadura de março-abril de l964, o senador Arthur Virgílio Filho, depois de ter sido um dos dois únicos a não votar em Castelo Branco (o outro foi Josaphat Marinho), tornou-se o primeiro líder da oposição. Minha família e eu temos muito orgulho dessa passagem.

Jango tomou posse apoiado na Cadeia da Legalidade, conjunto de rádios pelas quais Brizola falava ao Brasil e, também, na coragem de alguns governadores: Mauro Borges, de Goiás, que logo aderiu ao movimento que soprava do Sul; Gilberto Mestrinho, do Amazonas, que apostou seu futuro politico na ideia de que o veto a Jango ruiria, e Ney Braga, do Paraná, menos por convencimento e mais pela pressão de Brizola e do general Machado Lopes, Comandante do III Exército, sediado em Porto Alegre.

O livro tem mais de 700 páginas. Estou ainda no começo. Dá para perceber, no entanto, que o autor, em que pese nítida simpatia pelo personagem, realizou trabalho de fôlego.

Jango povoou o início de minha adolescência. Era Vice-Presidente da República e adorava comer peixes do Amazonas lá em casa, no Rio. Era um estancieiro gaúcho típico, que saboreava as boas conversas com pessoas queridas.

Eu o estimava. Respeito sua memoria. Mas consigo perceber sua obra de governo com olhar crítico. Às vezes penso que a chegada à Presidência, nas condições em que se deu, pegou-o de surpresa. Como Vice, dominava o esquema sindical e era figura de extrema importância na política nacional. Como Presidente, exibiu boas intenções, porém, sobretudo, não conseguiu conduzir o País pela rota da estabilidade político-econômica.

Era um grande ser humano. Simples e generoso.

Sofreu muito com o exílio no Uruguai. Meu pai volta e meia o visitava.

Quem matou Jango não foi o coração. Este foi consequência da angústia de querer voltar à pátria e não poder.

Voltou… para ser enterrado em São Borja.  

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