domingo, 26 de fevereiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


CAFONICE

Lisboa – Certa vez, no Senado, debatíamos assunto de interesse da Zona Franca de Manaus e era de se notar alguma resistência, vinda de vozes que representavam diversos estados. Isso foi lá pelo início do meu mandato. Creio até, que contribuímos bastante para romper esse círculo vicioso do preconceito, no acumulado de oito anos de lutas incessantes.       

Estranhamente, não havia quem não declarasse amor à Amazônia, à floresta, às belezas naturais de nossa região. Pessoas que faziam restrições à ZFM, porém amavam Manaus, Amazonas e demais estados e cidades amazônicas.

Tratando de demonstrar que o Polo Industrial de Manaus é essencial á preservação da mais vasta porção de floresta amazônica dentre todas, taxei de ingênuas as posições que pretendiam a floresta respeitada, mas consideravam a ZFM um enclave, na contramão do processo econômico brasileiro. Fui mais longe: deixei bem claro que, em minha opinião, quem imaginasse possível separar o PIM da preservação estava sendo cafona também, porque desconhecer a nossa realidade e falar pomposamente sobre fatos que desconheciam era mesmo sinal de ignorância e cafonice.

Citei as potências estrangeiras que pagam bolsas de estudo de bom porte para mestrandos e doutorandos em temas da Amazônia. E perguntei aos cerca de 40 senadores presentes se algum deles me poderia dizer qual universidade, de qual estado, concedia bolsas para pesquisas sobre a biodiversidade da minha região. A resposta foi um silêncio que fazia barulho.

Lembra-me uma bióloga de Brasília, que, chamada a opinar sobre um jacaré-açu de três metros que apareceu no Lago Paranoá, declarou pomposamente à imprensa: “o jacaré-açu é inofensivo aos seres humanos. É o menos feroz dos jacarés encontrados no Brasil”. Olhem que o Paranoá é frequentado por banhistas e amantes dos esportes náuticos. O Saco do Padre, perto da barragem, é ponto concorridíssimo nos fins de semana ensolarados. As pessoas se esbaldam lá.

Pois a "ilustre" cientista "tranquilizou" os frequentadores do lago, asseverando que o jacaré-açu é dócil por natureza. Cheguei a imaginá-la criando um deles em casa e levando-o para passear pela cidade com um lacinho cor de rosa amarrado no delicado e gentil "pescocinho". É de chorar.

Se conversarmos com essa moça, muito provavelmente chegaremos à conclusão de que: a) ama a floresta amazônica e a deseja preservada, explorada racional e sustentavelmente; b) acha a Zona Franca um atraso de vida para o Brasil; c) não tem o menor medo de nadar, de noite, nas águas que separam Parintins de Nhamundá. Perdoem-me, mas não consigo deixar de ironizar. A boa vontade mal aplicada ou levianamente posta pode ser tão danosa quanto a má fé explícita.

Temos de fazer o Brasil inteiro saber o que somos e o quanto devemos (nós e, literalmente, o mundo) ao papel que o PIM cumpre em defesa da floresta, do clima, da humanidade.

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