domingo, 22 de janeiro de 2012

COLUNA DO ARTHUR NETO


Z F M É O FOCO

Lisboa – Este ano precisa ser o tempo da repactuação do modelo Zona Franca de Manaus, envolvendo governos, parlamentares, empresários, trabalhadores, comunidade científica. Não nos iludamos com prorrogações “solteiras”, porque a curva do Polo Industrial é descendente e, se nada fizermos, será tarde demais quando isso se tornar perceptível a olho nu.

Conclamo as lideranças amazonenses, políticas ou não, à mais absoluta sinceridade. O panglossianismo não cabe. Nada de ver com olhos de falso otimismo um quadro que é de crise em aproximação.

Perdemos muito em 2011. Os tablets são o exemplo mais eloquente de como a ZFM deixou de ser prioridade para o governo federal. Passou a ser, aliás, cogitação abaixo de secundária.

Uma liderança se iludir é grave, mas pelo menos não é doloso; é culposo. Uma liderança intuir o que está em vias de acontecer e aparentar normalidade, com declarações vazias, não é culposo; é doloso.

Não me comovem os números desse presente-passado. Preocupa-me o presente-futuro, que não é auspicioso nem um pouco.

Deixam-nos com a perspectiva das tecnologias que caducarão. Legam-nos o que está envelhecendo ou envelhecerá, inexoravelmente. Tiram-nos as inovações, roubam-nos o que dá futuro, furtam-nos o próprio futuro.

Seria cômico, se não fosse trágico, dizerem que certas empresas não se dirigem a Manaus, entre outros pontos, porque nossa infraestrutura está falida. Como então não devolver com a pergunta: por que não priorizaram a revitalização dessa mesma infraestrutura? Pretendem mais meio século de poder para realizar tal “proeza”?

A verdade é que a ZFM deixou mesmo de ser prioridade. A Suframa virou mero prédio que mal tem recursos para pagar água, luz e telefone. Deixou de investir em obras infraestruturantes na Amazônia Ocidental, mais Amapá, há 10 anos. Com isso, afastam-nos de aliados potenciais, tentam condenar-nos a certa solidão política. Que interesse, afinal, haveriam de ter Acre, Rondônia, Roraima e Amapá em defender um modelo que parou de investir em seus destinos.

Vejo um brutal círculo vicioso diante de nós. Como se fosse um cerco e alguns desavisados ainda espairecessem porque dentro da “Fortaleza” restassem alimentos, água e munição para alguns dias de resistência.

Prefiro advertir do que iludir ou mentir. Gostaria muito de estar errado, porém, a cada momento, convenço-me do contrário. Vejo mentes alienadas revivendo os “coronéis” da borracha. “Coronéis” eletrônicos, que se mostram incapazes de olhar com clareza os momentos difíceis que o horizonte aponta.

Peço com muita humildade: não deixemos passar em branco este 2012. Ele pode ser decisivo para o futuro do nosso estado, que não preparou nenhuma alternativa ao parque industrial nascido a partir do Decreto 288.

O foco da responsabilidade tem de ser a salvação da Zona Franca. É a tarefa mais nobre que temos pela frente.


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