quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O economista José Laredo analise os últimos anos de inflação no país tomando por base o menor ou maior grau de independência que o Banco Central do Brasil teve nos governos de Fernando Henrique, Lulla e Dilma. A verdade é que outros fatores contribuíram, em muitos graus, para essa “retomada da inflação” pós-real. Sinceramente, o governo petista relaxou com a inflação. Exagerou nos gastos públicos e no empreguismo. Isso sem contar com a camuflagem dos custos ocultos da corrupção no Brasil, que, segundo alguns economistas, gira em torno de 2,3% do PIB. “Nos últimos dez anos, segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foram desviados dos cofres brasileiros R$ 720 bilhões. No mesmo período, a Controladoria-Geral da União fez auditorias em 15.000 contratos da União com estados, municípios e ONGs, tendo encontrado irregularidades em 80% deles. Nesses contratos, a CGU flagrou desvios de R$ 7 bilhões – ou seja, a cada R$ 100,00 roubados, apenas R$ 1,00 é descoberto. Desses R$ 7 bilhões, o governo conseguiu recuperar pouco mais de R$ 500 milhões, o que equivale a 7 centavos revistos para cada R$ 100,00 reais roubados. Uma pedra de gelo na ponta de um iceberg” (VEJA, de 19/10/2011). Além das velhas principais causas da corrupção, como instituições frágeis, hipertrofia do estado, burocracia e impunidade, o governo federal emprega 90.000 pessoas em cargos de confiança. Nos Estados Unidos, há 9.051. “Isso faz com que os servidores trabalhem para partidos, e não para o povo, prejudicando severamente a eficiência do estado” (Cláudio Weber Abramo, diretor da Transparência Brasil). Segundo a ONG Transparência Brasil, “A corrupção pode prejudicar seriamente o desempenho econômico de um país. Entre uma série de problemas, a corrupção afeta as decisões de investimentos, limita o crescimento econômico, altera a composição dos gastos governamentais, causa distorções na concorrência, abala a legitimidade dos governos e a confiança no Estado. Por meio desses fatores, a corrupção compromete a competitividade do país, na medida em que aumenta o custo do investimento produtivo e prejudica a estabilidade do ambiente de negócios”.

INFLAÇÃO – A MAESTRIA E A ELEGÂNCIA DE MEIRELLES

Economista Jose Laredo

A presidente Dilma ao assumir em 2011, convenceu-se de que o BC (Banco Central) tinha que ter menos independência do que vinha tendo na era Henrique Meirelles (presidente do BC entre 2003/2010) de que “um pouco mais de inflação oriunda da pressão em cima do consumo poderia em troca disparar o crescimento do PIB” abrindo largas avenidas para incrementar sua popularidade em busca do segundo mandato.

Nos últimos dois anos a política do governo em relação à inflação foi ficando menos relevante, tanto é que a busca pela meta de 4,5% ao ano foi deixada de mão, passando o foco para a queda dos juros, o estímulo ao crédito das famílias, a perseguição ao emprego e renda, achando que a inflação adicional seria facilmente absorvida pelo poder de renda dos brasileiros. Grande engano, parte do plano funcionou, depois que o BC demonstrou mais alinhamento forçando a queda da Selic até 7,25% ao ano (já voltou para 8,5% e pode chegar a 9% em agosto), com o consumo respondendo positivamente depois das desonerações pontuais feitas em alguns segmentos.

 No entanto, o mais importante, a inflação em vez de dar uma “subidinha” tipo “pibinho” (crescimento pífio do PIB como tem sido frequente), foi espalhando-se pelo tecido social e em junho/13 já perfura o teto da meta de 6,5% no acumulado de 12 meses. O problema é que a velocidade de chegada da inflação é muito mais rápida do que a de saída, e agora o que fazer?

Mesmo assim, em 12/06/13  o governo anunciou uma nova linha de crédito especial de R$ 18,7 bilhões para financiar a compra de sofás e máquinas de lavar – para fortalecer  o “Minha Casa Minha Vida” -  é claro que a juros subsidiados. Assim, vemos continuar a política de estimular o consumo, sem que se vislumbre uma linha demarcatória para essa ação, que  gera aumento de despesas  e ilude os consumidores ao não alardear a volta da inflação, forçando mais ainda a elevação dos preços  porque os vendedores  se vêm diante de mais pessoas em busca de seus produtos, cuja oferta não aumenta nas mesmas proporções. Quando virá a troca do estímulo ao consumo pela saudável política de contenção das despesas do governo?

A política econômica reincidente de pressionar o consumo, prevendo que o movimento da inflação vai ser insignificante já mostrou que não corresponde à realidade, justo quando  os recursos  globais para novos  investimentos  se redirecionam para os EEUU, por causa da boa performance  de sua economia enquanto a nossa  tropeça de novo na inflação.

A reação do governo brasileiro contra a inflação tem indicado ser movida mais por causa dos estragos políticos (queda de quase 30 pontos na popularidade)  do que pela prevenção dos  malefícios que o fenômeno da corrosão financeira exerce sobre o poder de compra da população. O  governo esperava que a alta dos alimentos seria facilmente revertida com as novas safras, não aconteceu,  que iria dar velocidade às novas concessões de exploração de petróleo, ferrovias, rodovias e portos, também não ocorreu, e  que as commodities internacionais ofertadas pelo Brasil iriam ter seus preços estabilizados em melhores condições.

Também isso não se concretizou, os alimentos continuam chegando mais caros à mesa, as commodities não  valorizaram-se como se esperava e as concessões estão atrasadíssimas com a primeira do pré-sal prevista somente para outubro/13.

Alguns economistas, entre eles Delfim Netto, Affonso Celso Pastore e Nathan Blanche  têm dito que a economia brasileira necessita há  muito de um choque fiscal (programa efetivo de redução de gastos, seleção  de investimentos em infraestrutura mais urgentes, reformas políticas, fiscal e contenção da expansão das políticas assistencialistas geradoras de mais despesas fixas, por exemplo)  por causa da crescente deterioração de seus fundamentos, mas parece que o conselho não estava vingando.

As reações do mercado estão noutra direção, com resultados não previstos   pelo governo como: retração no consumo em vários setores, greves e manifestações contra a carestia (como os confrontos iniciados  próximos aos estádio logo no início dos jogos da Copa das Confederações em 15 e 16/06/13) agora  sem data para terminar pois espalharam-se pelo país. Com certeza virão novas cobranças de aumentos salariais para corrigir o que a inflação tem se apossado e assim, veremos  descortinarem-se os malefícios da  desastrada gestão da inflação.

É razoável afirmar que se a inflação hoje  de 6,67% no acumulado em 12 meses já  causou um tremendo susto ao governo, se vier bater na faixa dos 8 a 8,5% ao ano (o que é bem provável se o dólar continuar dando mais espirros para cima já  acomodado no  patamar de R$2,28) espera-se novos estragos na popularidade presidencial, com chances de assistirmos a aplicação de medidas  emergenciais mais ortodoxas para frear com doses cavalares a velocidade Bolteana (Usain Bolt o recordista jamaicano na corrida dos 100 metros) de chegada do dragão da inflação,  temido,  arrasador, agressivo e premeditadamente acordado sem  posterior determinação e persistência em combatê-lo.

Finalmente em 24/06/13, depois de quase duas semanas  de manifestações, parece que o
governo começou a despertar para a inflação com a inclusão entre suas cinco propostas de pactos, o da “responsabilidade fiscal para combater a inflação classificado como  perene para a preservação dos fundamentos da economia”,  mas aí vamos brigar com a lerdeza do monstro em regressar a seus aposentos.

A falta que faz o Meirelles que em seus oito anos de mandato dosou com maestria  o charme do consumismo e respeitou  com elegância o pacto contra o dragão engolidor de salários!

Artigo publicado no Informativo nº 3, de Junho/Julho/2013, do Conselho de Economia do Amazonas.

José Laredo é professor titular da UFAM
                                                                         

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