segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


DESRESPEITO

Lisboa – Leio nos jornais que os peixes estão morrendo asfixiados na Lagoa de Marapendi, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os "assassinos" diretos são os elevados volumes de lixo, detritos de toda sorte, que apodreceram águas outrora saudáveis e belas. Os "mandantes" do crime são a sucessão de governos que não fiscalizam, a especulação imobiliária, a desordem urbana que transforma o bonito em feio.

Vi também, faz algum tempo, a foto solitária de um jacaretinga, insistindo em sobreviver à podridão de um igarapé de Manaus. Nem sei do que ele se pode estar alimentando. Talvez tenha aprendido a comer lixo, porque peixe mesmo não tem, naquele nível tão elevado de poluição.

Existe uma palavra, não necessariamente mágica, que deveria ser obrigatória na vida de todos nós: SUSTENTABILIDADE. Produto saído da depredação e da ganância não deveria ser comprado pelas pessoas e pelas boas empresas. Acho, aliás, que o mundo marchará nessa direção: se alguém quiser exportar o que produz, cuide de assegurar o selo verde. O próprio instinto de sobrevivência dos seres humanos terminará exigindo que seja assim.

Sempre pode aparecer algum falso "progressista" que indague: "mas ele está preocupado com os peixes da lagoa lá no Rio de Janeiro e com o jacaretinga que chafurda na lama de um igarapé manauara? Será que não existem outros problemas mais graves, envolvendo pessoas, mexendo com fatos mais sérios?" Eu responderia a essa ponderação ressaltando, em primeiro lugar, que uma preocupação não impede a outra; ou seja, dá sim para andar e mascar chicletes ao mesmo tempo. Argumentaria, a seguir, que uma sociedade que deixe degradar a sua paisagem está construindo a desgraça social e não qualquer coisa parecida com verdadeiro "progresso". Finalizaria afirmando que o resultado da especulação imobiliária e do crescimento desordenado é sempre a concentração de renda nas mãos de poucos privilegiados; os mais pobres ficam com as favelas, com as moradias insalubres, com a amargura cotidiana.

Vejo clara ligação entre cidades equilibradas e realizadas na sustentabilidade e ambiente econômico mais justo. Claro que o inverso, para mim, é verdadeiro: cidades desequilibradas e "desenvolvidas" à base de ações irresponsáveis e insustentáveis levam, inevitavelmente, a uma taxa mais elevada de pobreza e infelicidade social.

Poderia ser diferente. Deveria ser diferente. Teria de ser diferente.

Poderia ser melhor. Deveria ser melhor. Teria de ser melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário