GRÉCIA, UM PAÍS IRRECUPERÁVEL HÁ 150 ANOS - 2a. Parte: Impostos gregos pagos em espécie.
A Grécia é o único país civilizado onde os impostos são pagos em espécie. Nas zonas rurais, o dinheiro é tão pouco que foi preciso recorrer a esta forma de coleta.
O governo começou
por tentar delegar o direito de cobrança de impostos nos proprietários das
terras mas, depois de se terem comprometido temerariamente, estes faltavam aos
seus compromissos e o Estado, que não tem força, não dispunha de qualquer meio
para os forçar a cumprir.
Depois de ter passado a ser o próprio Estado a cobrar
os impostos, as despesas de cobrança passaram a ser mais consideráveis e as
receitas quase não aumentaram.
Os contribuintes fazem aquilo que
faziam os donos das terras: não pagam. Os proprietários ricos, que são
simultaneamente personagens influentes, arranjam maneira de iludir o Estado,
seja comprando, seja intimidando os funcionários.
Os funcionários mal pagos,
sem garantia de futuro, certos de que serão destituídos à primeira mudança de
ministério, não tomam como seus os interesses do Estado, como acontece entre
nós. Pensam apenas em arranjar amigos, em poupar-se a esforços e em ganhar
dinheiro.
Por seu turno, os pequenos proprietários, que têm de pagar pelos
grandes, estão a salvo das confiscações, seja por terem um amigo poderoso, seja
pela própria miséria.
Na Grécia, a lei nunca é a pessoa
intransigente que nós conhecemos. Os funcionários escutam os contribuintes. As pessoas
que se tratam por tu e dizem ser irmãos acabam sempre por arranjar maneira de
se entenderem.
Os gregos conhecem-se todos bem uns aos outros e gostam um pouco
uns dos outros. Não conhecem nada acerca desse ser abstrato chamado Estado e
não gostam nada dele.
Em suma, o cobrador é prudente: sabe que não deve irritar
ninguém, que tem de atravessar caminhos perigosos para voltar para casa e que
os acidentes acontecem.
VEJA / BLOGS E COLUNISTAS / Antonio
Ribeiro, de PARIS
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