ELEIÇÕES 2012: SERAFIM DIZ QUE SÓ VÊ AMAZONINO COMO
ADVERSÁRIO
Do Portal do Holanda
PEDRO BRAGA JR
Portal do Holanda – Essa definição de um candidato a
vice é uma estratégia do PSB para ter uma chapa puro-sangue ou o sr. pretende
abrir para alianças com outros partidos?
Serafim Corrêa – A vida do PSB está definida. Nós
reunimos várias vezes e chegamos à conclusão de que o nosso eleitor, que nos
campanha há muito tempo nos cobrava uma posição de independência. E essa
posição de independência está adotada. Com todo o respeito por todos os demais
partidos, mas nós sairemos independente de todos os demais partidos. Com chapa
própria, com Serafim Corrêa prefeito, Marcelo Ramos vice, 43 candidatos a
vereador e 19 candidatas a vereadora.
Portal – Atualmente quem está mais em discussão na corrida para a
prefeitura é o sr., que já foi prefeito e o prefeito atual Amazonino Mendes.
Como o sr. avalia a possibilidade de uma polarização entre os dois?
Serafim – É assim, quem quer ganhar Copa do Mundo não
escolhe adversário. Agora, uma coisa é verdade: desde 2004, os dois polos
eleitorais da cidade de Manaus são Serafim e Amazonino. Em 2004 eu ganhei, em
2008 ele ganhou e agora em 2012, de novo somos os dois polos, ele que está no
poder e eu que estou na oposição.
Portal - O sr. é visto como um candidato que faz
campanha de ideias e olhando olho no olho. Esse nível de campanha já está
definido, qualquer que seja o adversário?
Serafim – Qualquer que seja o nível que venha, nós
vamos manter essa linha. Uma linha de mostrar os problemas da cidade, resgatar
o que fizemos para encaminhar soluções dos problemas, e aquilo que propomos
daqui pra frente. Quer dizer, o período que nós ficamos na prefeitura eu digo
que foi um período de aprendizado. Nós tivemos muitos erros, mas tivemos também
muitos acertos, muitos acertos além dos erros que tivemos. E com uma
dificuldade de recursos muito grande.
Veja que a atual administração teve mais do que nós quatro bilhões de reais, o
que dava pra fazer quatro pontes do bilhão. Mas a prefeitura de Manaus não fez
nenhuma ponte. Então, nós trabalhamos com quatro bilhões a menos e fizemos
muita coisa.
Portal – Quando o sr. foi candidato em 2004, a questão
da água foi um dos motes de campanha. Muitas áreas da cidade estavam
desabastecidas e esse problema não foi resolvido de lá até a agora. O que o sr.
realmente fez na sua administração e o que ficou faltando fazer?
Serafim – Em 2005 e 2006 nós enfrentamos essa situação, que
era crítica. Em janeiro de 2007 nós repactuamos o contrato. Isso permitiu dar
uma guinada na questão da água e do esgoto em Manaus. O relatório da Arsam
atesta que 80 mil novos domicílios receberam água nesse período, após a
repactuação. E 700 quilômetros de rede foram colocados nas ruas de Manaus. A repactuação possibilitou que a concessionária investisse R$ 140 milhões que
resultaram no aumento da produção de água na Ponta do Ismael em dois metros
cúbicos a mais por segundo, ou seja, dois mil litros de água por segundo.
Segundo, 38 km de adutoras, mais bombas de recalque, uma série de equipamentos
pra poder jogar essa água para 11 reservatórios, que totalizam 55 milhões de
litros. E a prefeitura tomou emprestado do governo federal R$ 60 milhões pra
fazer rede. E fez 700 km de rede. Isso foi um avanço significativo.
Portal – Em que zonas foram feitos esses 700 km?
Serafim – Na zona Norte e zona Leste. Isso está no
relatório da Arsam, é só pegar o relatório e ver. Na repactuação, nós
autorizamos o Proama, que está quase concluído. A informação que tenho é que
faltam R$ 20 milhões para fazer os serviços finais do Proama. E em seguida
precisa algo que aí tem que ter muita humildade. É o governo do Estado e
prefeitura negociarem.
Me parece que por parte da atual administração municipal, ela não tocou
absolutamente nada no que diz respeito à água, nesse período. Simplesmente o
atual prefeito fez de conta que não era com ele, que ele não tinha nada a ver
com isso. Quando na verdade, ele é o ator principal. Tem que ter humildade para
procurar o governador, sentar e ver quais são as interligações, ver se o
governo do Estado vai fazer ou se não vai.
Tem de ver como será a venda da água, porque o governo vai produzir a água e
vai vender para a prefeitura, e a prefeitura vai repassar essa água para a
concessionária, que vai distribuir e obviamente vai ressarcir o município. E
essa é uma negociação que precisa ser feita entre prefeito, governador,
concessionária e a sociedade.
Portal – Tem sido dito que os grandes consumidores não
pagam água em Manaus.
Serafim – O sistema de abastecimento de água em Manaus ele é singular no
Brasil. Manaus tem seis mil poços, que são dos seis mil consumidores de maior
quantidade de água. São as fábricas de refrigerante, de cerveja, as indústrias
do Distrito Industrial e os grandes condomínios. Enfim, quem pode pagar e
consome muito não está no sistema, contrariando a Lei de Saneamento, que diz
que ele é obrigado a estar no sistema e não poder ter poço. E isso terá de ser
resolvido, até porque a tendência é o aquífero em Manaus secar, com tantos
poços sugando água do aquífero.
Portal – Mas a lei não determina que mesmo a água de
poço tem que ser paga?
Serafim – Deveria, mas o que está dito na lei é assim:
“Todos os domicílios são obrigados a ligar na rede”. E estando ligado na rede não
pode ter poço. Ora, isso impõe, por exemplo, a todo o Distrito Industrial ligar
na rede. Ele não está na rede, todo ele tem poço.
Portal – Tem sido dito nas audiências, inclusive nos
parlamentos, que essa questão dos grandes consumidores não pagarem a água seria
um dos principais fatores para elevar o preço da tarifa social. O sr. concorda
com isso?
Serafim – É o seguinte: isso aí debilita o sistema,
porque se eles estão fora do sistema, óbvio que alguém está pagando a conta de
toda a água, que é a produção da água dividida pelos consumidores. No momento
em que os grandes consumidores não estão participando desse pagamento, óbvio
que sobra uma conta maior, e essa conta maior cai na costa da classe
média. A classe média é quem paga essa conta. O prefeito tem que ser o
articulador disso tudo.
Portal – Nós estamos vendo surgir aí novamente a questão do
lixo, do Aterro Sanitário. Como o sr. vê isso, o sr. deixou o Aterro pronto ou
projeto para ser continuado?
Sarafim – Vamos lá. Quando nós chegamos na prefeitura tinham
300 pessoas morando no Aterro em condições subumanas. Nós retiramos essas
pessoas, organizamos em cooperativa, destinamos a eles a coleta seletiva de
lixo para eles poderem fazer a reciclagem. E aquilo que era uma lixeira virou
um aterro controlado .
A nova Lei de Resíduos Sólidos veio e diz que os grandes produtores de lixo são
obrigados a dar o destino final do seu lixo. Aí o que fez a prefeitura? A
prefeitura que nunca cobrou pelo descarte do lixo industrial fez o seguinte:
deixou de receber o lixo industrial. As empresas tiveram de procurar um aterro
privado e só tem um, que tem muitos problemas como MPE, MPF, com o Ipaam, com o
Ibama, porque eles aterraram um igarapé. Enfim, eles não têm condições de
receber esse lixo.
Portal – Como poderia ser resolvido esse problema?
Serafim – Eu entendo que a prefeitura paga R$ 56 por
tonelada pela coleta a destinação final do lixo. Se ela permitisse que o
descarte fosse feito no Aterro, mediante o pagamento desse valor, aí ninguém
ganharia e ninguém perderia. Quer dizer nem as empresas vão perder ou vão
ganhar, nem a prefeitura vai perder ou vai ganhar. Vai ser o jogo do zero a
zero.
Do jeito que ficou, essa empresa que é a Setran é a grande beneficiada, porque
como só tem ela, ele impôs o preço de R$ 400 por tonelada, ao invés de 56.
Portal – qual foi o investimento que a sua administração fez nessa questão
do lixo?
Serafim – Eu não saberia precisar o número, mas posso
dizer que o aterro ele é feito no dia a dia. Eu não saberia precisar os
valores, eu até vou resgatá-los para ter isso sempre na ponta da língua.
Portal – Mas esse Aterro ainda continua dando conta do
lixo da cidade?
Serafim – Sem dúvida. Agora, claro que Manaus tem que
resolver esse problema. Porque esse Aterro ele tem uma sobrevida de sete anos.
E isso é uma coisa que nós temos de cuidar desde logo. E é bom que a sociedade
esteja atenta para essa discussão. Eu faço esse alerta agora, porque depois que
privatiza, depois que dá a concessão, tem que respeitar o contrato. Que é o
caso da água. A concessão é por trinta anos, vai até 2030 e a prefeitura tem
que respeitar. Essas bravatas de que vai tirar a empresa, não tira. Porque o
contrato de concessão é um contrato que dá tantas garantias à empresa, e isso é
assim no mundo capitalista, que é muito difícil você retirar uma
concessionária.
Portal – O que o prefeito precisa fazer para que o
trânsito flua em Manaus? Os viadutos são a solução?
Serafim – Sem eles não tem solução. Vamos imaginar
Manaus sem os três viadutos projetados por nós. A Recife sem o Miguel Arraes, a
Bola do Coroado sem o Gilberto Mestrinho, a Paraíba sem aquela passagem de
nível. Seria um caos.
Agora, o que aconteceu em Manaus. Manaus tinha 240 mil carros quando eu entrei
na prefeitura. Hoje Manaus tem 612 mil. Em 332 anos de existência, entraram em
Manaus 240 mil carros. Em oito anos, esse número pulou para 612, portanto uma
diferença de 372 mil carros em oito anos. Isso é uma loucura. Mas nós não
podemos resolver isso, porque os carros já estão aí. E Manaus tem poucos corredores.
Por outro lado, Manaus sofre do fenômeno do “tranca rua”. A Cohabam do Parque
Dez não deveria ter sido construída onde foi, ela tinha que deixar a Paraíba
prosseguir. A Paraíba foi projetada para ser uma paralela da Recife e terminou
que ela foi fechada ali. Resultado, todo o trânsito da Paraíba vai pra Recife
que deságua na Torquato.
Portal – O sr. fala dos gargalos no trânsito?
Serafim – Isso. Dos gargalos de Manaus que precisam ser
rompidos. Dou o exemplo ali no entorno do viaduto Miguel Arraes onde tem
gargalos que precisam ser rompidos, desapropriações precisam ser feitas. E na
frente da Ufam, da Bola do Coroado até o Japiim, tem que ser rasgadas mais duas
pistas indo até a Bola da Suframa. Fora disso não tem solução, ali tem que ser
quatro pistas.
Portal – A prefeitura teria recursos para isso ?
Serafim - Tem obras que o orçamento da prefeitura
não comporta. A maioria das obras de infraestrutura o orçamento da prefeitura
não comporta. Precisa da parceria com o governo do Estado e com o governo
federal.
Portal – O prefeito que entrar, ele já deve chegar com um planejamento
para tentar quebrar os gargalos dentro da administração pública, para que
governo e prefeitura possam olhar a administração de Manaus como um todo?
Serafim – O que eu defendo é assim. O próximo prefeito,
eu espero que seja eu, tem que assumir e imediatamente e contratar uma empresa
de engenharia para propor soluções. Agora tem gargalos que são óbvios, que tem
que tirar logo. Não precisa ser engenheiro pra ver que aquilo é um gargalo. Nós
outros que não somos engenheiros sabemos quando é um gargalo e que precisa ser
retirado.
Portal – Na questão da mobilidade urbana, o que seria
necessário hoje para colocar Manaus uma cidade dentro de um padrão aceitável?
Serafim – Precisa fazer muita coisa. Primeiro é
resgatar as calçadas. Hoje (sexta-feira) tem uma matéria na Folha de São Paulo
e em todos os grandes jornais brasileiros, inclusive os jornais de Manaus,
sobre a questão das nossas calçadas. Eu diria até que essa também é uma questão
que precisa envolver a prefeitura e a sociedade. Porque a sociedade tem que
estar ao lado da prefeitura para fazer o que tem que ser feito.
Você anda no Centro e vê que as calçadas estão ocupadas, ou por camelôs ou
pelas lojas. Em outras áreas da cidade as calçadas estão ocupadas por carros. E
essas pessoas moram na cidade, são habitantes da cidade, que precisam, em
primeiro lugar ser conscientizadas de que isso não pode ser feito.
Na questão dos camelôs eu defendo uma solução pactuada. Onde a prefeitura
adotaria o mesmo critério do Prosamim, daria uma indenização para que ele saia
dali. E a prefeitura, ao invés de ela construir um só camelódromo, utilizar
áreas desocupadas no Centro para construir pequenos camelódromos. E é bom dizer
que eu deixei um camelódromo pronto, e o Amazonino transformou num teatro que
até hoje não exibiu uma única peça de teatro. A primeira que ele exibir
eu vou lá assistir.
Portal – Na questão do transporte coletivo urbano qual
seria a solução: BRT, Monotrilho, ajustes no sistema?
Serafim – O Monotrilho eu não tenho simpatia por ele. É
um projeto muito caro, não é transporte de massa, e eu sou mais simpático ao
modelo BRT. Agora óbvio que o BRT só vai funcionar em Manaus se respeitarem a
faixa que é só para ônibus. Se ninguém respeitar ele não vai funcionar.
Agora, o grande problema de Manaus não é a falta e ônibus, o problema de Manaus
é a velocidade do ônibus que é muito baixa. E ele não tem velocidade por conta
do trânsito, principalmente nos corredores. Por isso que nos corredores a gente
precisa romper com os gargalos. Na hora que romper com os gargalos, a gente
melhora o trânsito e já melhora o horário do transporte coletivo.
Vou lembrar uma coisa que nós fizemos e que o Amazonino desfez. A
integração temporal, que é fundamental para melhorar o transporte coletivo.
Essa é uma solução que a tecnologia permite fazer e todos ganham. O sistema
como um todo ganha.
Portal – Hoje existem três nomes que nas pesquisas de
consumo interno estão aparecendo bem colocados: o deputado Marcos Rotta (PMDB)
a Deputada Rebecca Garcia (PP) e o vereador Hissa Abrahão (PPS). Os três juntos
somam mais de 55% das intenções de voto. O sr. vê nisso um anseio por renovação
dos quadros políticos?
Serafim – A renovação é bem vinda. Eu não sou contra a
renovação, até porque eu acho que esse é um processo natural. Mas qualquer
pesquisa quantitativa agora, ela diz muito pouco. O importante são as pesquisas
qualitativas. Nós, até por uma dificuldade conhecida de todos, dificuldade de
recursos, nós não temos nenhuma pesquisa por enquanto. Portanto eu não posso
falar. Óbvio que nós vamos ter um pouquinho mais à frente. Agora daremos
prioridade para as pesquisas qualitativas.
Portal – A chapa do PSB tem as qualidades necessárias
para essa disputa?
Serafim – A nossa chapa tem o equilíbrio da
experiência, através da minha pessoa, e da juventude, da renovação, da ousadia
de um dos melhores quadros da nova geração da política no Amazonas, que é o
deputado Marcelo Ramos. Eu diria até que ele é o melhor quadro da nova geração.
Qualificado, preparado, estudioso, combativo, pronto pra qualquer debate. Sabe
recuar na hora que é pra recuar, sabe avançar na hora que é pra avançar. E por
certo ele dará uma grande contribuição na administração a partir de primeiro de
janeiro de 2013.
Portal – A prefeitura de Manaus tem agido em relação a
questões como a Região Metropolitana e a Zona Franca como se não tivesse nada a
ver nem com uma nem com outra. O sr. acha que essa postura é prejudicial ao
município?
Serafim – Sim, é, e eu diria que isso não é uma
crítica. Embora eu e ele (prefeito Amazonino) vivamos nos criticando, mas o que
eu vou dizer agora não é uma crítica. Eu vejo assim: o atual prefeito ele não
gosta de ser prefeito. Das outras duas vezes ele foi prefeito para servir de
trampolim para ele ser governador. Ele gosta mesmo é de ser governador. De ser
prefeito ele não gosta. Ele sofre de uma síndrome, que é de ser governador.
Portal – Hoje, por exemplo, a Suframa tem como maior
gargalo, segundo o superintendente Thomaz Nogueira, a falta de área para
expandir o DI. O sr. acha que a prefeitura deveria participar dessa discussão?
Serafim – É, mas olha só, a prefeitura também não tem
terrenos. Os terrenos estão nas mãos de particulares e da União. A União tem
terrenos em Manaus, a prefeitura não. Nesse aspecto eu vejo que o governo
federal transfere muito para o município, e a postura do Thomaz revela isso.
Quer dizer, ele quer atribuir todas as responsabilidades para o município,
quando o município está no canto da parede, sendo pressionado por demandas
sociais, por demandas urbanas para as quais ele não tem recursos. E o governo
federal além não dar a mão ao município, ainda cobra.
O que o Thomaz tá querendo dizer é: prefeitura, arruma terreno pra eu trazer
empresa. Não é assim que a coisa funciona. Se a prefeitura tivesse terreno,
ótimo. Estaria de pleno acordo, mas ela não tem os terrenos que o Thomaz
deseja.
Portal – O sr. diria que a prefeitura hoje é uma inquilina
dentro da área do município?
Serafim – Quase isso. Até o prédio onde ela funciona, a
sede da prefeitura, é do governo do Estado, está cedido em comodato por 20
anos. Até nisso, a prefeitura não tem espaço nem pra sua sede.
PORTAL DO HOLANDA / ACONTECE NO AMAZONAS /
ENTREVISTA COM
SERAFIM CORREA / DOM, 29/04/2012 - 21:53