ABSURDO
Leio que a Presidente Dilma
Rousseff pensa em substituir membros do Conselho de Ética da República por
pessoas de sua “confiança”. Em miúdos: propõe-se a desmoralizar um órgão que
deveria ser prestigiado e instado a agir com efetivo rigor, simplesmente, para
tentar proteger seu antigo companheiro de luta armada, o ainda Ministro
Fernando Pimentel.
A Presidente deveria, a bem da
sensatez e da decência, desistir tanto de um quanto de outro intento. O
Conselho de Ética não pode ser apequenado, transformado em instância
homologatória de conchavos e delinquências palacianos. E Pimentel,
visivelmente, perdeu a condição de se manter à frente da pasta do
Desenvolvimento. Virou um “lame duck”, como se diz na política norte-americana.
O presidencialismo, nos moldes
brasileiros, é um sistema político que concentra demasiados poderes nas mãos de
quem comanda o governo. Chega a ser selvagem a hipertrofia do executivo diante
dos demais poderes.
Um (a) Presidente pode muito,
pode mais que o adequado ao processo de amadurecimento democrático. Mas não
pode tudo. Pode menos que os irmãos Castro. Pode menos do que podia Kadhafi.
Pode menos que o autoritário Hugo Chávez.
Descaracterizar e desmoralizar
um colegiado que tem por dever a proteção dos valores republicanos para
garantir a impunidade de um protegido, de um amigão do peito, é atitude típica
de quem não percebe que há limites constitucionais para sua própria ação.
Talvez se explique por aí o lamentável fato de o Brasil, faz nove anos,
sistematicamente prestigiar a paparicar as mais cruéis ditaduras e os mais
odiosos ditadores por esse mundo afora. Seria a vontade de dirigir uma delas
(ditaduras)? De ser como eles, os ditadores?
A Presidente Dilma Rousseff
entende como “injusta” a decisão do Conselho de Ética da República? Pois bem! O
Conselho tem o direito de discrepar da ilustre mandatária. Não cabe, é ela
desmontar as instituições que, porventura, lhe contrariem os desejos. Dilma,
afinal, é presidente constitucional. Governa uma democracia. Deveria
orgulhar-se disso.
Não é monarca absolutista.
Ganhou o posto nas urnas, no voto popular. Não é soba de cubata africana; não é
preposta de nenhum aiatolá, como acontece com Ahmadinejad; não comanda uma
republiqueta, que o é precisamente pela instabilidade institucional eternamente
reinante.
Bom político, dizem figuras
muito sábias, é aquele que é “mau amigo” e “mau parente”. É aquele que trata amigos e parentes no mesmo
compasso com que lida com os demais cidadãos.
Da Presidente, espera-se que
seja mais amiga da democracia brasileira do que do “consultor” Fernando
Pimentel.