DNIT, FRUTO DO MODELO PETISTA
O impressionante retrato da
falência estrutural e administrativa do Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes (Dnit) apresentado pelo Estado (19/1), em reportagem de Fábio
Fabrini, é também um retrato da incapacidade do governo do PT de avaliar a
gravidade dos problemas e, quando consegue fazer isso, de sua incompetência
para solucioná-los. Dos dez anos de existência do Dnit, em nove o governo
federal esteve sob o comando do PT, que deixou a autarquia na situação em que
se encontra.
"O que fazem com ele (Dnit)
é uma covardia", diz seu diretor executivo, Tarcísio Gomes de Freitas, um
auditor da Controladoria-Geral da União (CGU) colocado no cargo pela presidente
Dilma Rousseff depois da limpeza na direção do órgão, com a demissão de envolvidos
em denúncias de pagamento de propinas. A primeira providência de Freitas no
exercício do cargo foi estudar a situação da autarquia e sua conclusão revela o
descaso com que o Dnit tem sido dirigido. O órgão não tem condições estruturais
de executar as funções para as quais foi criado.
Não é uma repartição pública
qualquer. Trata-se do órgão responsável por alguns dos maiores investimentos
federais, especialmente nas obras inscritas no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), e pela operação, administração, manutenção, ampliação e
gestão da infraestrutura de transporte rodoviário, ferroviário e aquaviário.
Há alguns meses, o Dnit anunciou
que, até o fim de 2016, executará um programa de melhorias em 57% da malha
rodoviária federal sob sua responsabilidade, ao custo de R$ 16 bilhões. Ou
seja, de 55,6 mil quilômetros de rodovias pavimentadas sob administração da
autarquia, 32 mil receberão melhorias.
As conclusões a que chegou seu
diretor executivo deixam sérias dúvidas quanto à execução dessas obras no prazo
anunciado. "O Dnit não tem condições de tocar o PAC", disse Freitas
ao Estado. Suas deficiências atrasam obras, retêm pagamentos (levam
"incríveis 300 dias", depois de feita a medição de um serviço, para
efetivar o pagamento devido) e favorecem desvios.
Seu quadro de pessoal é formado
por 2.695 servidores de carreira, menor do que o do Departamento de Estradas de
Rodagem do Estado de São Paulo, de 3,8 mil, segundo Freitas. Tão grave quanto a
escassez de funcionários - seriam necessários 6.861 para administrar a execução
dos 1.196 contratos na área de infraestrutura de transportes, a maioria
integrante do PAC - é o despreparo do pessoal.
O Dnit tem 126 porteiros e apenas
9 contadores para examinar os milhares de contratos e sua execução; 94
motoristas e só 7 auditores de controle interno. Explica-se, assim, por que
existem mais de 500 relatórios de prestação de contas aguardando exame pelo
órgão. O Dnit tem 131 datilógrafos, para desempenhar uma tarefa que não existe
mais, mas só 10 técnicos de estrada e nenhum topógrafo.
"Como é que eu vou ter um
bom ambiente de controle num órgão que gere R$ 15 bilhões e tem uma auditoria
interna com 7 auditores?", queixa-se o diretor. Para suprir a escassez de
quadros, o Dnit tem contratado funcionários terceirizados de maneira irregular,
pois muitos desempenham funções em áreas ligadas à finalidade do órgão e que
deveriam ser exercidas por servidores concursados.
A situação tende a piorar. Mais
da metade do pessoal tem mais de 51 anos de idade e 43% do total dos atuais
funcionários se aposentarão até 2015. Essa tendência é conhecida há muitos
anos. O antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, do qual o Dnit
herdou muitas atribuições e servidores, chegou a ter um quadro de cerca de 25
mil funcionários na década de 1980. A redução desse número, desde então, nem
sempre foi ruim para o serviço público, dados o notório inchaço do órgão e as
frequentes denúncias de casos de corrupção ali verificados.
A rapidez com que se reduziu seu
quadro, porém, criou problemas sérios para o órgão que lhe sucedeu. Mas nada
foi feito para ordenar esse processo nocivo para o desempenho e a eficiência do
Dnit. Apesar da gravidade da situação, aparentemente o governo do PT continua
sem entendê-la. Não há nenhuma previsão para novas contratações.
O ESTADO DE SÃO PAULO / OPINIÃO / DE 26.02.2012.
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