Por José Fucs
Do Blog do Ricardo Noblat
Depois de a presidente Dilma
querer dar lições de economia aos países desenvolvidos, agora o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva quer dar seus pitacos sobre o movimento sindical
europeu.
Ainda que a experiência de Lula
como sindicalista no Brasil seja respeitável, não deixa de ser uma tremenda
pretensão querer dizer aos “companheiros” do Velho Continente, o berço da
Revolução Industrial e do sindicalismo, de que forma eles devem agir para
melhor desempenhar seu papel na atual crise internacional. Mas foi exatamente
isso o que Lula fez durante sua viagem à Europa, na semana passada.
Lula não hesitou em aproveitar um
encontro com sindicalistas espanhóis para “botar pilha” no movimento de
oposição à política de austeridade adotada pela União Europeia e patrocinada
pela chanceler alemã, Angela Merkel.
Segundo José Maria Alvarez, da
União Geral de Trabalhadores (UGT) da Espanha, “Lula sugeriu a formação de uma
aliança entre sindicatos de toda a Europa, e mesmo uma aliança global, para
pressionar os governos e o G-20” a mudar a estratégia de combate à crise. O
objetivo seria privilegiar o crescimento econômico, o emprego e a preservação
das conquistas sociais, como se a política de austeridade fosse incompatível
com tudo isso.
Desde o seu surgimento como líder
sindical no ABC paulista, no final dos anos 1970, Lula sempre procurou trilhar
um caminho próprio, distante dos dogmas do Partido Comunista, que, na época,
ainda atuava na clandestinidade e funcionava como uma célula do regime
soviético no país. Porém, diante da recomendação feita por Lula aos
sindicalistas europeus, é difícil não traçar um paralelo entre suas afirmações
e as ideias e práticas que marcaram o comunismo desde os seus primórdios.
Como se fosse uma espécie de
reencarnação de Karl Marx do século XXI, Lula nada mais fez do que pregar o
internacionalismo proletário, fonte maior de inspiração para a Revolução
Bolchevique, que derrubou o regime czarista na Rússia, sob o comando de Lênin e
Trotsky, no início do século XX. Na verdade, a conclamação de Lula à união
global dos operários faz lembrar a famosa frase cunhada por Marx, no Manifesto
Comunista: “Trabalhadores do todo o mundo, uni-vos”.
O curioso é que Lula não teve
qualquer constrangimento em se intrometer nos assuntos internos da Espanha,
conclamando os trabalhadores do país a reforçar o movimento de oposição à
política oficial. Embora ele evite fazer quaisquer críticas ao Irã, a Cuba e a
tantos outros regimes autoritários espalhados pelo planeta, alegando o respeito
à soberania de cada um, Lula deu seus palpites na atuação dos sindicatos na
Europa, em especial na Espanha, durante sua visita à região.
Quando esteve em Cuba, Lula
recusou-se mais de uma vez a receber dissidentes do país. Mas, na hora de
pregar a “resistência democrática” à política de austeridade europeia, em
franca oposição à política do governo espanhol, aí a soberania torna-se para
Lula um conceito descartável.
Se algum líder – ou ex- líder –
estrangeiro fizesse no Brasil o que Lula fez na Espanha, provavelmente
receberia bordoadas do governo e seria alvo de manifestações xenófobas
oficiais. Mas, para Lula, o que vale para os outros não parece valer para ele
também.