CAFONICE
Lisboa – Certa vez, no Senado,
debatíamos assunto de interesse da Zona Franca de Manaus e era de se notar
alguma resistência, vinda de vozes que representavam diversos estados. Isso foi
lá pelo início do meu mandato. Creio até, que contribuímos bastante para romper
esse círculo vicioso do preconceito, no acumulado de oito anos de lutas
incessantes.
Estranhamente, não havia quem não
declarasse amor à Amazônia, à floresta, às belezas naturais de nossa região.
Pessoas que faziam restrições à ZFM, porém amavam Manaus, Amazonas e demais
estados e cidades amazônicas.
Tratando de demonstrar que o Polo
Industrial de Manaus é essencial á preservação da mais vasta porção de floresta
amazônica dentre todas, taxei de ingênuas as posições que pretendiam a floresta
respeitada, mas consideravam a ZFM um enclave, na contramão do processo
econômico brasileiro. Fui mais longe: deixei bem claro que, em minha opinião,
quem imaginasse possível separar o PIM da preservação estava sendo cafona também,
porque desconhecer a nossa realidade e falar pomposamente sobre fatos que
desconheciam era mesmo sinal de ignorância e cafonice.
Citei as potências estrangeiras
que pagam bolsas de estudo de bom porte para mestrandos e doutorandos em temas
da Amazônia. E perguntei aos cerca de 40 senadores presentes se algum deles me
poderia dizer qual universidade, de qual estado, concedia bolsas para pesquisas
sobre a biodiversidade da minha região. A resposta foi um silêncio que fazia
barulho.
Lembra-me uma bióloga de
Brasília, que, chamada a opinar sobre um jacaré-açu de três metros que apareceu
no Lago Paranoá, declarou pomposamente à imprensa: “o jacaré-açu é inofensivo
aos seres humanos. É o menos feroz dos jacarés encontrados no Brasil”. Olhem
que o Paranoá é frequentado por banhistas e amantes dos esportes náuticos. O
Saco do Padre, perto da barragem, é ponto concorridíssimo nos fins de semana
ensolarados. As pessoas se esbaldam lá.
Pois a "ilustre"
cientista "tranquilizou" os frequentadores do lago, asseverando que o
jacaré-açu é dócil por natureza. Cheguei a imaginá-la criando um deles em casa
e levando-o para passear pela cidade com um lacinho cor de rosa amarrado no
delicado e gentil "pescocinho". É de chorar.
Se conversarmos com essa moça,
muito provavelmente chegaremos à conclusão de que: a) ama a floresta amazônica
e a deseja preservada, explorada racional e sustentavelmente; b) acha a Zona
Franca um atraso de vida para o Brasil; c) não tem o menor medo de nadar, de
noite, nas águas que separam Parintins de Nhamundá. Perdoem-me, mas não consigo
deixar de ironizar. A boa vontade mal aplicada ou levianamente posta pode ser
tão danosa quanto a má fé explícita.
Temos de fazer o Brasil inteiro
saber o que somos e o quanto devemos (nós e, literalmente, o mundo) ao papel
que o PIM cumpre em defesa da floresta, do clima, da humanidade.
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