INCOMPETÊNCIA
E MÁ FÉ
Lisboa
– O governo se revela fraco no combate à inflação. O Banco Central (o projeto
que visa a lhe garantir a autonomia é de minha autoria) virou departamento do
Ministério da Fazenda. Sua diretoria está partidarizada. Em suma: aparelharam o
Banco Central também. Eis aí retrocesso e tanto, que ainda será cobrado ao
bolso dos brasileiros.
O
foco, para o bom senso, deve ser o controle da inflação, que o Boletim Focus
estima em 5,31% (por causa da maquiagem), número que é muito elevado para uma
economia que cresce pouco e que é muito elevado para qualquer economia
civilizada. Menos para Argentina, que admite oficialmente 10% e todos sabem que
a realidade já superou os 20%, e para a Venezuela de Chávez, exemplo acabado de
como não se deve governar um país. Essas duas economias, aliás, não são
civilizadas.
Entre
2008 e 2011 (quatro anos, portanto), a taxa inflacionária acumulada é de 22,6%.
Repito: isso contrasta com uma economia que cresce pouco e que, pelo tempo que
tem de estabilidade, não se justifica de jeito nenhum.
O
governo tem obtido superávits primários pela via do aumento da carga tributária
e até de artifícios contábeis, expurgando itens “incômodos”. A inflação do ano
passado ficou exatamente no teto da meta (intoleráveis 6,5%), explicitamente
porque o governo a maquiou: cortou a CIDE e adiou a entrada em vigor do imposto
sobre o cigarro. Na verdade, pois, a inflação verdadeira superou o teto e ficou
bem longe do centro (altíssimos 4,5%).
Neste
2012, a maquiagem já está programada e aprovada pelo governo: terão peso menor
no cálculo da inflação os gastos com alimentação (absurdo), empregados
domésticos (como, se o salário mínimo acabou de ser reajustado em 14%?),
educação (é crível que as famílias estejam despendendo menos recursos com
educação?) e cigarro. É por aí que o governo conta em apresentar à sociedade,
no fim do ano, um índice inflacionário menos distante do centro da meta.
Maquiagem, descrédito imposto ao IBGE, mistificação. Pura e simplesmente isso.
Vamos
aos números. Se pegarmos os anos de 2008 a 2011, teremos inflação acumulada de
22,6%, que significa a média anual de 5,65%. Se acrescentarmos a esses quatro
exercícios o 2011 da inflação maquiada (pelas expectativas do Boletim Focus,
que poderão ser alteradas), teremos o acúmulo de 27,93% e a media anual de
5,58%. Ou seja, distância quilométrica, em ambas as situações, do centro da
meta.
Quem
sofre com isso é precisamente o segmento mais pobre da população. Os ricos têm
direito à “bolsa-empresário” do BNDES, com direito a juros subsidiados pelos
brasileiros que não têm acesso a esse privilégio.
Quando
se mistura incompetência com má fé, o resultado é explosivo. É, por exemplo,
ministro voando para todo lado.