ERRÁTICA
A política econômica do governo
Dilma Rousseff se revela errática. Adota medidas pontuais e insuficientes para
buscar a retomada. Não contempla as colinas do longo prazo.
Lida com inflação (elevada,
apesar de maquiada), em seus dois primeiros anos e corre sério risco de gastar
um quadriênio inteiro assim. Mantega inaugurou 2012 alardeando crescimento de
4,5%. Cansamos de escrever que não chegaria a 3%. Hoje, é consenso no mercado
que, no máximo, se repetirá a performance pífia de 2011: 2,7%.
A média da inflação (maquiada,
repito) de 2011 e 2012 ficará em torno de 6%. O déficit em conta corrente
ultrapassará US$68 bilhões. E a valorização do dólar, diante do real, não
conseguiu, até o momento, melhorar o desempenho de nossas exportações
industriais.
Lula e Dilma abandonaram a
perspectiva das reformas estruturais. Ele passou oito anos evitando desgastes e
deixando de aproveitar o tempo dourado da economia internacional, com os preços
das commodities lá no alto. Sem falar que se beneficiou do país reformado e
organizado que herdou. Meramente prosseguiu as políticas econômicas de Fernando
Henrique e prestou grande desserviço ao Brasil, quando artificializou crescimento
de 7,5%,em 2010, para eleger, a qualquer custo, sua candidata. Tal gesto foi o
apito inicial para a desorganização da economia.
Ela administra o cotidiano de um
modelo que se esgotou. Não conseguirá levar-nos a crescimento sustentável e
duradouro, se imagina que o caminho, ao invés das reformas e do aumento da taxa
de investimento, é o crescimento do consumo, por parte de nossas endividadas
famílias. O que gera desenvolvimento mesmo é o investimento. Baixo investimento
e estímulos pouco consequentes ao consumo já resultaram em espasmos. Agora, nem
mais isso.
O tripé metas de inflação, câmbio
flutuante e superávits primários está sendo desmontado, a cada dia, pelas ideias
retrogradas de Guido Mantega. O Fundo Soberano Brasileiro (FSB), constituído,
em dezembro de 2008, com restos de superávits, no valor de R$14,30 bilhões,
vale, agora, três anos e meio depois, R$14,25 bilhões. Conclusões: a) o FSB tem
dado prejuízo aos brasileiros; b) se se tratasse de fundo privado, Mantega
teria sido demitido há muito tempo.
As ações da Petrobras valem
menos, na atualidade, do que valiam na fase mais aguda da crise mundial de
2008. Isso apesar do aumento das reservas provadas, apesar do pré-sal. A
empresa tem sido tão mal gerida, que nada disso serve para lhe valorizar as
ações ordinárias nominativas e preferenciais nominativas.
Tantas medidas atrasadas, o
governo adotou, contra o ingresso de capitais externos que agora corre atrás de
investidores que, visivelmente, perdem o encanto com nossa economia. Entristece
ler o respeitado consultor (na Inglaterra, consultor faz consultorias mesmo;
aqui, certos apaniguados do poder enriquecem com “consultorias”) britânico
Simon Anholt: “(o Brasil) é um país que desperta carinho, mas não respeito”.
Na sucupira do prefeito Odorico,
aquele personagem imortal de Dias Gomes, Anholt logo seria considerado persona
non grata pela Câmara de Vereadores local. As três pombinhas aplaudiriam de pé.
A realidade é outra. Devemos
mergulhar nas nossas águas mais internas e delas emergir com a consciência da
responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros.
Trabalhar duro e na direção
correta é o que tem de ser feito. Nada contra merecer o carinho dos ingleses.
Mas precisamos preparar-nos para exigir verdadeiro respeito, de quem quer que
seja.