SINAL AMARELO
Lisboa
– A economia brasileira apresenta dados positivos, como a taxa de desemprego
ter caído de 6% em setembro para 5,8% em outubro. Em termos dessazonalizados,
foi de 6,2% em setembro para 6,1% em outubro.
Desde
meados de 2010, entretanto, o rendimento real vem sofrendo deterioração,
registrando queda de 0,6% na média móvel trimestral do índice dessazonalizado.
No cotejo com idêntico período do ano passado, a renda real apresentou queda de
0,3%: primeira variação negativa interanual desde janeiro de 2010 (-0,4%).
Nessa base de comparação, aliás, praticamente todos os setores recuaram.
O
PIB do terceiro semestre variou positivamente perto de zero e não deve ocorrer
a aceleração esperada pelo ministro Mantega, porque a crise externa e a
valorização do dólar frente ao real tendem a pressionar os preços internos e
frear o consumo. Aguardo com preocupação o PIB do quarto trimestre.
Infelizmente, o governo, que deveria dedicar atenção máxima a esses graves
problemas gasta sua energia com escândalos. Recentemente tivemos mais três
casos: compras superfaturadas no Ministério da Defesa, negociata no Ministério
das Cidades e novas acusações contra Carlos Lupi.
No
plano econômico, tem prevalecido a leviandade, brincadeira com fogo. No esforço
para limitar a inflação de 2011 aos 6,5% correspondentes ao elevadíssimo teto da
meta, o governo faz contorcionismos: corte na CIDE e postergação do imposto do
cigarro. Mesmo assim, considero difícil a inflação não romper o teto. Esses
paliativos empurram o problema para 2012.
A
produção industrial experimentou forte queda em setembro, na comparação com
agosto (-2%), decrescendo 1,6% na comparação de ano contra ano. Isso mostra que
a economia brasileira segue sofrendo a concorrência dos produtos importados e
desacelerando ao mesmo tempo.
A
produção industrial, por sinal, sofreu queda significativa na crise de 2008 e,
de lá para cá, não se recuperou. O patamar atual é o mesmo observado antes da
crise. A produção industrial apenas recuperou o nível pré-crise.
A
inflação, como esperado, recuou levemente. Menos, que o necessário. Na primeira
semana de novembro, o IPC-Fipe estampou nova aceleração: alta de 0,53%, quando
o mercado previa 0,43%. Seis dos sete grupos que compõem o índice aceleraram no
cotejo mensal: alimentação (0,74%) e vestuário (0,56%).
Resultado
da inflação elevada são greves pipocando. O poder de compra começa a ser
afetado, as pessoas ficam insatisfeitas, os sindicatos buscam reposições mais
altas, visando a se defender de uma inflação que acreditam que ainda vai
piorar.
O
Banco Central faz aposta arriscada, cortando juros sem se respaldar em efetivo
ajuste fiscal. Sinaliza que tolerará inflação mais alta, em troca de
crescimento um pouco maior. Com a credibilidade abalada pela visível perda de
autonomia, a diretoria encabeçada por Tombini, que não é conhecido internacionalmente
e nem é forte no PT, parece não perceber que a inflação acima dos 6,5%
contrasta com o crescimento previsto pelo mercado para este ano: 3,1% e 3,5%
para 2012. Já há bancos prevendo números mais apertados: 2,8% e 3%,
respectivamente. Lembrem-se de que Mantega dizia que íamos crescer 5% no
presente exercício.
A
corrupção toma conta da cena. O mercado começa a temer o eventual envolvimento
de algum membro proeminente da equipe econômica em escândalo. Seria abalo bem
maior do que os muitos anotados até aqui.
O
binômio corrupção-inflação suga a energia do governo e prejudica a sociedade. É
de se ligar o sinal amarelo.
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