MEU PAI
Lisboa – O artigo anterior foi sobre o
ex-presidente João Goulart, de cujo governo meu pai foi líder, acumulando com a
liderança do PTB, partido que fora de Getúlio Vargas e era de Leonel Brizola e
do próprio Jango. As lembranças me levam a permanecer ao redor do tema, desta
vez centrando no papel que o senador Arthur Virgílio Filho teve nos eventos
que, do instável governo de Goulart, culminaram no regime autoritário de 1964.
O ar transmitia a ameaça de golpe desde a posse de Jango que, como vice-presidente, substituíra o renunciante Jânio Quadros. Era a continuação de um esforço que vinha desde o suicídio de Vargas e da eleição e posse de Juscelino Kubitschek.
Vargas seria deposto. Com o suicídio, porém,
virou o jogo. Contra a posse de JK, os golpistas argumentaram, pela palavra
brilhante de Carlos Lacerda, que o pleito teria de ser anulado, porque o eleito
não havia obtido a maioria absoluta dos votos válidos. Ora, não havia segundo
turno e as regras constitucionais eram claras: o mais votado deveria ser
empossado. Sair disso era desrespeitar a Constituição e assumir o golpismo.
O que não conseguiram em l954 e em l961,
lograram realizar em abril de l964. Derrubaram Jango e instalaram regime que,
engolindo seus principais líderes civis, a começar por Lacerda, durou 21 longos
anos.
Pois meu pai foi um dos principais
articuladores da resistência congressual ao veto dos ministros militares à
posse de Jango. E, em 1964, quando o poder saiu das mãos de quem fora votado
para as mãos de quem detinha armas e força, deixou automaticamente de ser o
líder do governo, para se tornar o primeiro líder da oposição ao arbítrio.
Dos 66 membros que compunham a Casa naqueles
tempos, quando se deu a eleição indireta que fez de Castelo Branco o primeiro
presidente do ciclo dos generais, apenas dois nele não votaram (a votação foi
aberta e não secreta): o amazonense Arthur Virgílio Filho e o baiano Josaphat
Marinho.
Quando o presidente do Senado, Auro de Moura
Andrade, chamou Arthur para orientar sua bancada, ouviu como resposta: “Senhor
Presidente, sou um líder sem liderados. Minha bancada aderiu ao regime nascente
e eu me mantenho fiel ao presidente João Goulart”.
Tempos após, quando veio o Ato Institucional número II, Arthur resistiu, com os deputados, à invasão da Câmara pelas tropas do general Meira Matos. Esteve com eles, não saiu da tribuna, usando a voz poderosa para defender as prerrogativas de um Legislativo cada vez mais garroteado.
Tempos após, quando veio o Ato Institucional número II, Arthur resistiu, com os deputados, à invasão da Câmara pelas tropas do general Meira Matos. Esteve com eles, não saiu da tribuna, usando a voz poderosa para defender as prerrogativas de um Legislativo cada vez mais garroteado.
Em 1968, enfrentou da tribuna a ameaça do
general-presidente Costa e Silva ao mandato do deputado Marcio Moreira Alves.
Finalmente, em sete de fevereiro de 1969, junto com o conterrâneo Bernardo
Cabral e o líder do MDB, Mario Covas, teve o mandato cassado e os direitos
políticos suspensos.
Anistiado, nunca mais quis voltar à política,
embora jamais tenha deixado, mesmo sem mandato, de militar pelas liberdades.
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