DEVAGAR COM O ANDOR
Eliane Catanhêde
BRASÍLIA
- Pegando carona no texto de Vinicius Mota, ontem, no quadrado aí de cima,
vejamos como o pessoal de embaixadas vê os "exageros sobre a ascensão do
Brasil".
Quando
viajam aos seus países -europeus, principalmente, mas não só eles-,
embaixadores e seus funcionários ficam impressionados com o oba-oba sobre o
Brasil de Lula, que, na versão da mídia de lá, acabou com a pobreza, passa ao
largo da crise e está se tornando um líder na região, quiçá uma potência no
mundo.
Quando
voltam, caem na real. E no real. Nos rapapés de embaixadas e no clube de golfe,
os estrangeiros trocam impressões. Acham tudo caríssimo, criticam a
infraestrutura, reclamam da burocracia, contam da surpresa dos empresários com
a falta de planejamento, comentam o manancial de escândalos. Lá, na Europa, e
lá, na Ásia, o Brasil parece uma maravilha. Visto de perto, nem tanto.
Meu
colega Vinicius já comparou bem a situação econômica do Brasil com a da Itália
e a da França, países que, com toda a crise europeia, convivem com rendas
médias que os brasileiros só terão em décadas - e se tudo der certo.
Então,
vamos buscar um outro indicador de que o Brasil vai bem, sim, obrigada, mas
ainda falta muito para ser esse gigante emergente que o mito Lula e a
propaganda oficial criaram: a violência.
Segundo
a Secretaria de Violência Armada e Desenvolvimento, de Genebra, um quarto das
mortes violentas no mundo é em apenas 14 países, seis deles na América Latina.
O Brasil escapa, ufa!, mas é o 18º país mais violento. O México, o 51º.
Falta,
portanto, muita coisa para o Brasil ser toda essa cocada preta: educação,
saúde, produtividade, inovação, combate à corrupção, distribuição de renda. E,
enquanto os brasileiros não pararem de se matar à toa, é melhor deixar o
oba-oba para a mídia estrangeira e pensar o estágio e as fraquezas do país com
um mínimo de racionalidade.
Folha de São Paulo/29/11/2011/Editoriais
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