CRIATIVIDADE SE APRENDE NA ESCOLA
Instalada há doze anos num prédio
do centro histórico de Roma, A S3 Studium ensina seus alunos a serem criativos
e os prepara para enfrentar, com sucesso, as necessidades de um mercado de
trabalho cada vez mais exigente. (II PARTE)
Por Monica Falcone, de Roma
A primeira lição que se aprende ao entrar na S3 é
que o ambiente é fundamental para a criatividade: "Só os superficiais não
acreditam na aparência", ironiza De Masi, citando Oscar Wilde. Todo mundo
é criativo pelo menos em algum campo. O importante é receber estímulos
psicológicos e estéticos do ambiente", assegura o professor, um jovial e
bem-humorado cinqüentão, chamado carinhosamente pelo apelido de Mimo. De fato,
o clima na escola é alegre, variado e quase festivo, contrastando com a
realidade do cotidiano das empresas onde trabalham alguns dos trinta alunos
matriculados nas três séries do curso: executivos da indústria ou da
administração pública, profissionais recém-formados em Economia, Sociologia,
Física e Engenharia.
Nem todos, no entanto, moram em Roma. O engenheiro
Pier Luigi Bongiovanni, por exemplo, executivo de uma empresa que produz
equipamentos industriais, mora em Bergamo e viaja 624 quilômetros toda semana
para assistir às aulas. Alguns estrangeiros que trabalham em Roma também
freqüentam o curso. A diversificação da formação acadêmica que mistura
engenheiros, físicos, economistas e sociólogosé intencional e é um critério
levado em conta nos exames de seleção. "A criatividade pode nascer da
faísca entre duas culturas ou pontos de vista diferentes", observa um dos
trinta professores que acompanham individualmente, como tutores, a atividade de
cada aluno.
Outra lição que o ambiente da S3 ensina é que as
pessoas criativas sempre conseguem transformar os próprios limites em
vantagens. As instalações da escola são pequenas, mas aconchegantes. Isso
permite organizar os alunos em grupos reduzidos, o que aumenta a participação e
conseqüentemente o rendimento de todos eles. O restante do programa é
individual e estabelecido entre o aluno e seu tutor, que determina os livros a
serem resenhados e os estágios a serem feitos. É o tutor quem acompanha também
o desenvolvimento de uma pequena tese de pesquisa a ser apresentada no final do
ano.
A anuidade para os alunos do 1.° e 2.° ano é de 3
milhões de liras ( equivalentes a quase 900 000 cruzeiros) e para os do 3.°
ano. 4 milhões (equivalentes a 1,2 milhão de cruzeiros). Como esse dinheiro mal
paga as despesas, a escola recorre freqüentemente a patrocinadores escolhidos
entre as empresas privadas e públicas, um dia comum de aula, em junho passado,
De Masi precisou descrever uma empresa onde seu dono, geralmente o fundador,
centraliza tudo. Criativo, valeu-se de uma frase do novelista francês Gustave
Flaubert (1821-1880): "Madame Bovary c'est moi" (Madame Bovary sou
eu).
E assim ele prosseguiu a aula com os alunos
descrevendo experiências de trabalho. As questões que eles tiveram de resolver
se transformaram num exercício coletivo, para provar que um problema pode ter
muitas soluções, umas mais criativas outras menos. Já a lição de De Masi sobre
"A empresa criativa e a resistência às mudanças", para os alunos do
2.° e 3.° ano, começou com a leitura de uma página do escritor italiano Italo
Calvino.
É um trecho de uma conferência sobre os planos de
realidade que convivem na literatura. Depois da leitura, cada aluno teve 15
minutos para escrever as questões ou dúvidas que a leitura suscitou em relação
ao tema. A discussão dessas dúvidas forneceu material para compor o quadro das
características da organização ou empresa onde existe muita criatividade.
Descobriu-se, então, que essa empresa não tem a forma hierárquica tradicional
de uma pirâmide, onde os quadros dirigentes se situam no topo. Conclusão: uma
empresa criativa é estruturada como uma rede em que os pontos de intersecção
dos fios, os nós, são os momentos de controle. Por exemplo, numa redação de
jornal, um momento de controle seria a reunião de pauta da manhã.
Na empresa criativa os momentos de controle são tão
necessários quanto a liberdade de improvisar. Para exemplificar esse conceito,
De Masi analisa como são feitas as improvisações pelas bandas de jazz. Um dos
pontos de referência fixos é a composição da música sempre em 32 compassos. A
seguir cada músico improvisa, mantendo, porém, os 32 compassos como referência.
Terminado o improviso, todos os músicos voltam ao ponto de referência fixo
inicial e repetem a música em conjunto. (Leiam a última parte deste Artigo, na
6ª. feira).
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