OUTONO
Lisboa
– O tempo está chuvoso. E venta muito nesta cidade. O outono alterna dias assim
com aqueles outros de temperatura amena em tempo firme, as folhas caindo,
talvez a estação mais bonita do ano.
Escrevo
num começo de noite de ruas desertas. As poucas pessoas que transitam, o fazem
protegidas por guarda-chuvas ou capas impermeáveis. Bate uma melancolia
misturada com saudade de casa.
Hoje
vejo que não poderia mesmo ser diplomata em tempo integral. Não conseguiria
viver longe do Brasil, do Amazonas, de Manaus. Gosto de viajar, porém com
retorno certo.
Meus
colegas passam temporadas de 10 anos no exterior. Retornam a Brasília por um
biênio e, após, se quiserem, partem para outro período demorado fora.
Lisboa
é uma cidade linda, de povo amável, culinária inigualável, hábitos
metropolitanos. Gosto daqui. Uma amiga me diz que é como se fosse a casa da
nossa avó.
Tem
o clima mais leve da Europa. A esta altura, a Alemanha já gelou, em
contraposição às temperaturas que, nesta capital, oscilam entre 13 e 18 graus.
No inverno, descem a cinco, chegando a zero na Serra da Estrela.
Tenho
ido muito a livrarias. É uma diversão à parte.
Leio
sem parar e tenho uma lista enorme de livros para devorar. Sem falar nos
jornais e revistas, que dão conta da crise econômica portuguesa, da zona do
euro e, muito agudamente, da Grécia.
Quando
voltar, sei que terei acrescentado muita coisa boa à minha vida pessoal e
intelectual. Mas a saudade aperta de verdade, volta e meia. É como se fosse um
“exílio”, não imposto por poder nenhum e sim escolhido por mim próprio. Nem por
isso menos exílio.
A
internet encurta certas distâncias. Não todas, contudo. Dá respostas objetivas
a indagações que lhe faço; não é capaz de desvendar os segredos da minha alma.
Moro
num lugar gostoso, com vista para o Tejo. Ao lado tem uma tasca que serve uma
sopa esplêndida. Pela rua passa o “elétrico” (bonde) que, não sei bem a razão,
me lembra Fernando Pessoa.
Gosto
de ficar na janela à noite, meditando por algum tempo. O pensamento vai longe,
carregado pela imaginação.
Dá
para vagar pelas ruas em paz. Não existe a figura da violência urbana, tal como
a conhecemos no Brasil. Os jovens são mais livres, precisamente porque estão
mais seguros. Dominam as praças com alegria e em paz.
A
maior paixão dos portugueses é o futebol. Em Lisboa, a maioria é Benfica e uma
minoria expressiva torce pelo Sporting. No Porto, claro, todo mundo vai com o
time da casa. Rivalidade intensa.
A
situação econômica é dificílima, mas, diferentemente da Grécia, (ainda) há
consenso interno de apoio às medidas de austeridade impostas por FMI, Comissão
Européia e Banco Central Europeu. O povo está sofrendo, confiante em que
mergulhará em dois anos de recessão, retomando o crescimento a partir daí.
Doravante,
sempre me irei preocupar com Portugal de modo diferente. Mais pessoal, mais
emocional.
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BORDER
LINE
MOTOS
DA CHINA
Lisboa – A Zona Franca de Manaus
perde competitividade a cada dia. A presidente Dilma Rousseff precisa parar de
estender a outras partes do território nacional incentivos que as levam a
esvaziar o modelo econômico amazonense. E a falta de investimentos em
infraestrutura, inovação e formação de mão de obra também vai fazendo estragos.
A guerra fiscal movida por Pernambuco leva esse estado a hospedar sua primeira
fábrica (chinesa) de motocicletas. Uma 125 cilindradas sairá cerca de 30% mais
barata que a similar produzida pela Honda, empresa que agrega mais de 90% de
valor nacional e mais de 60% de valor amazonense. Fica evidente que o governo
federal deveria endurecer no Processo Produtivo Básico (PPB), beneficiando quem
é fábrica de verdade e exigindo mais agregação de valor nacional e local.
Enfraquecer o polo amazonense de duas rodas é verdadeiro crime contra o
Amazonas.
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