NO EMBALO DA PESQUISA
O termômetro esquenta ou esfria o
objeto cuja temperatura ele pretende medir. Assim também, a pesquisa eleitoral
influi na disputa que ela acompanha. A sondagem do Datafolha sobre a eleição
paulistana criou um fato positivo para José Serra e praticamente liquidou as já
remotas chances dos outros pré-candidatos do PSDB a prefeito de São Paulo. Mais
do que isso, aumentou o magnetismo do tucano no jogo das alianças partidárias.
Na atual fase da corrida
eleitoral, o mais importante para cada um dos principais candidatos é unir seus
partidos em torno de seu nome e conseguir o máximo de coligações com outras
siglas, de preferência com aquelas que têm direito a pelo menos uma inserção
diária durante o horário eleitoral obrigatório. Serra largou na frente.
Ao bater em 30% das intenções de
voto no Datafolha, ele tornou-se líder e - mais relevante - passou a ser
percebido como o favorito. Nada mais atraente para os políticos do que a
perspectiva de poder. Não importa que Serra cresceu por um evento efêmero - o
tumulto causado pela sua entrada tardia na disputa e a grande exposição na
mídia que se seguiu - , nem que parte de sua intenção de voto seja, de fato,
efeito memória. A pesquisa criou um fato político e deu impulso a Serra.
Antes que obscurantistas venham
clamar contra a liberdade de informação, é bom lembrar que isso é do jogo.
Assim como ajudou, a pesquisa poderia ter atrapalhado se o resultado fosse
diferente. Em 2010, quando Dilma Rousseff, em ascensão, começou a encostar no
tucano, em queda, cada pesquisa era uma dose de vitamina para a campanha da
petista e um tormento para Serra. Neste momento, os papéis se inverteram.
Para o PT e para Fernando Haddad,
a pesquisa Datafolha foi uma notícia duplamente ruim. A estagnação do petista
em 3% mostrou que a estratégia de Lula não deu certo. Ao atropelar as prévias
do partido e impor um nome que ele escolheu sozinho, o ex-presidente pretendia
ganhar tempo para tornar seu candidato conhecido e evitar rachas internos.
Aconteceu o oposto.
O ressentimento de petistas
alijados da disputa, como Marta Suplicy, é cada vez mais notório, e Haddad
continua patinando no desconhecimento, apesar de estar em campanha há meses.
Sem adversário interno, o pré-candidato petista mal aparece no noticiário. Ao
mesmo tempo, a doença de Lula não permitiu que ele propagandeasse o nome de seu
pupilo à exaustão, como fez com Dilma em 2009 e 2010.
Desconhecimento e inexperiência
são defeitos que não pioram com o tempo. Ainda há muito chão pela frente e o PT
tem um eleitorado cativo que levou seu candidato ao segundo turno nas últimas
cinco eleições de prefeito em São Paulo. O problema petista imediato são as
coligações perdidas.
É muito mais difícil - e caro -
convencer um partido a apoiar o 7.º colocado do que o líder da pesquisa.
Especialmente quando Dilma enfrenta uma rebelião na base de apoio ao seu
governo. O PTB só é aliado do PT em Brasília. O PDT, cada vez menos. O PP
malufista tucanou. O PSD kassabista também. PRB, PC do B e PMDB têm candidatos
próprios mais bem colocados que o petista. O PR ameaça com Tiririca. Sobra o
PSB, talvez.
Serão necessários muitos
ministérios e muita verba federal para o PT seduzir outras siglas e levá-las
para sua coligação. Sem isso, Haddad, que precisa de tempo na TV para o eleitor
descobrir que ele existe, corre alto risco de ficar com menos tempo de propaganda
do que o principal rival, o universalmente conhecido Serra.
Se não fizer amigos e influenciar
outros partidos, Haddad pode ficar empatado em inserções publicitárias com
Gabriel Chalita (PMDB), que corre por fora e não perdeu pontos com a entrada de
Serra: tem 7% das intenções de voto (tinha 6%).
A dificuldade petista de arrumar
coligações para seu candidato em São Paulo se deve aos aliados de Dilma terem
caído na real. Perceberam que jogam, em 2012, a sua sobrevivência daqui a dois
anos, quando serão renovadas as bancadas na Câmara dos Deputados e um terço do
Senado. Os principais cabos eleitorais em 2014 serão - como sempre foram - os
prefeitos que ganharem a eleição no próximo mês de outubro. E está difícil
elegê-los.
Os aliados acham que o PT é o
bicho-papão. Mas foi o recém-criado PSD que bagunçou a base aliada de Dilma.
Das suas 272 prefeituras, o partido de Gilberto Kassab "roubou" a
maioria (153) de partidos que apoiam a presidente no Congresso: 31 do PMDB, 30
do PP, 23 do PR, 15 do PTB e 10 do PSB, por exemplo.
Como resultado, PMDB, PP, PDT, PR
e PTB têm menos prefeitos hoje do que elegeram em 2008.
Ao mesmo tempo, PT e PSB
conseguiram cooptar novas prefeituras e estão jogando pesado para engordar
ainda mais esse número nesta eleição.
São Paulo é apenas o caso mais
visível de um problema nacional: a disputa pelo poder municipal entre partidos
que só são aliados no plano federal por força do presidencialismo de coalizão
brasileiro.
O mau desempenho no Datafolha e a
busca pelas coligações perdidas mostram que não será apenas na base da ligação
direta com o eleitor e seu bolso que Lula vai conseguir eleger Haddad, nem que
Dilma vai conseguir governar. A política é necessária, como sempre foi.
O ESTADO DE SÃO PAULO / Política
/ No Embalo da Pesquisa /
José Roberto de Toledo / 05.03.2012.
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