Folha de São Paulo
GILBERTO DIMENSTEIN (1)
Senti um misto de vergonha e enjoo ao
receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer
de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O
fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos,
mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais
profundo.
Centenas de e-mails pediam que Lula não
se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar
solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca
tanto ódio de uma minoria?
Lula teve muitos problemas --e merece
ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção.
Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo,
investiu como nunca no social.
No caso de seu câncer, tratou a doença
com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam
se sentir incomodados com a tragédia alheia.
Minha suspeita é que a interatividade
democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma
porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.
Isso significa quem um dos nossos
papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de
decência.
FOLHA DE SÃO PAULO / Gilberto Dimenstein, 54,
integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos,
onde foi convidado para desenvolver em Harvard
projeto
de comunicação para a cidadania.
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