JOÃO BOSCO RABELLO
SOB A PROTEÇÃO DE LULA
SOB A PROTEÇÃO DE LULA
O leitor pode escolher entre as diversas alegações do governo para entender o recuo da presidente Dilma Rousseff na demissão do ministro dos Esportes, Orlando Silva - desde a alegada falta de provas de seu envolvimento direto nos desvios de verbas públicas até a perseguição pela mídia, passando pela desqualificação do seu denunciante.
Ou ainda pelo papel histórico do PC do B na luta
pela redemocratização do País. Ou pela interferência da Fifa na soberania (sic)
brasileira ao tratar Orlando Silva como ex-ministro. Ou por todas elas.
Mas a causa é uma só: a ameaça do partido do
ministro em agonia de sair da base aliada para declarar guerra ao PT agravando
as denúncias contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, origem do
esquema de corrupção no Ministério dos Esportes, ao qual Orlando deu curso.
A presidente sai desgastada do episódio, não só
pelo recuo, mas também pela interferência direta do ex-presidente Lula no caso,
impondo seu método do "couro duro" para que o ministro resistisse no
cargo. Além do poder de tutela exibido sobre a afilhada política, Lula levou o
governo a uma inflexão no critério de intolerância com "malfeitos"
que fora aplicado aos ministros dos Transportes, da Agricultura e do Turismo.
O que ocorre no Ministério dos Esportes em nada
difere do que ocorreu anteriormente nos já citados e que sofreram intervenção
do Planalto. Ou seja, o PC do B fez exatamente o mesmo que o PR em relação ao
qual pretende ser distinguido virtuosamente: apropriou-se das verbas
ministeriais em benefício próprio, via ONGs inidôneas, fazendo-as chegar até
mesmo à esposa do ministro.
DF é calcanhar de Aquiles
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz
(PT), reproduziu na campanha eleitoral o mesmo arco de alianças que seu
antecessor, deposto e preso, José Roberto Arruda (à época no DEM). Este
costumava dizer que ganhara a eleição "por dentro", ou seja, na base
de acordos com seu antecessor Joaquim Roriz (PSC). A tentativa de romper com
Roriz lhe custou o cargo e a honra, pois seus passos estavam documentados pelo
homem de Roriz em seu governo, o delegado Durval Barbosa, por meio do qual
Agnelo viu em primeira mão os vídeos do mensalão do DEM e calou-se até hoje. O
governo de Agnelo segue sob o mesmo arco de alianças dos anteriores, refém da
corporação policial de Brasília, do qual o soldado João Dias Ferreira é a
personagem visível. Ele está na crise de Orlando e na de Agnelo. Por isso, o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pede a apuração conjunta dos
casos - na verdade, um só. É o que o PT teme e de que se vale o PC do B para
sustentar Orlando Silva no cargo. Sua saída, porém, continua só uma questão de
tempo.
Sem transparência
Há um estoque de 40 mil prestações de contas sem
análise nos órgãos competentes. Cerca de 2 mil são de organizações não
governamentais (ONGs), segundo cálculo do economista Gil Castelo Branco, do
site Contas Abertas. A fiscalização sobre o trabalho de mais de 300 mil
entidades é precaríssimo, o que contribui para a proliferação de ONGs de
fachada. Segundo Gil, parte da solução seria o acesso geral ao Siconv - Sistema
de Gestão de Convênios -, dificultado ao máximo pelo governo. É nessa onda de
proteção que partidos e políticos têm surfado e produzido escândalos em série.
Às claras
A partir do caso Jacqueline Roriz, as ações penais
de parlamentares no STF registrarão os nomes completos dos réus. A publicação
apenas das iniciais dos nomes acaba por decisão do ministro Marco Aurélio
Mello.
O Estado de S. Paulo/Notícias/Blog
do JOÃO BOSCO RABELLO - 23 de outubro de 2011 | 3h 07
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