LUTA BOA
Lisboa
– Bem recentemente, vimos o combate entre o holandês Alistair Overeeem e o
americano Brock Lesnar. Não sou de apostar, mas, se fosse, teria jogado todas
as fichas no primeiro. E foi o que aconteceu, de fato, na hora da verdade.
Subiu
ao octógono um Lesnar visivelmente fora de forma e visivelmente estagnado em
sua forma de lutar. Achei-o, inclusive, menos musculoso do que sempre foi. Seu
oponente, três quilos mais leve, trazia consigo 117 quilos de pura musculatura.
Ambos "bombados", sem dúvida. Overeem, mais do que
"bombado", nem parecia o jovem esguio e até ingênuo, excelente apenas
no muai thai, que foi tratorizado por Maurício Shogun, nos tempos áureos do
Pride japonês.
Naquela
edição do Pride, Ricardo Arona derrotou Wanderlei Silva em três rounds
duríssimos e Shogum não encontrou a menor dificuldade para finalizar Overeem.
Na mesma noite, na final do meio pesado, um Arona bastante contundido e
cansado, perdeu para um Shogun zero quilômetro. Em condições iguais, o Arona
daqueles tempos era páreo para qualquer um. Basta dizer que enfrentou o, à
época, invencível Fedor Emilianenko, derrubou-o quando e como quis e perdeu
porque os juízes não analisaram a luta honestamente.
Voltando
a Brock e Overeem, temos que um foi campeão pesado do UFC e o segundo foi
campeão do Strikeforce, que hoje pertence aos donos do UFC: os irmãos Ferttita
e Dana White. O holandês simplesmente espancou o americano, que reage mal na
adversidade. Não consigo enxergar nele o espírito do lutador. Excelente
wrestler, faz algum boxe, conhece rudimentos de iu-jitsu e, sobretudo, é
extraordinariamente forte. Talvez viciado nas marmeladas do
"pro-wrestling", toda vez que é testado, corre da rinha, diferente de
um Minotauro, que encarna o espírito dos grandes samurais, diferente de um
Wanderlei, que não se amedronta diante de nada nem de ninguém.
Com
essa vitória, Alistair Overeem ganha o direito de disputar o título de Junior
"Cigano" dos Santos. Sou mais o brasileiro. Mais jovem, muito forte
também, detentor de preparo físico invejável, está muito bem em todos os
fundamentos: já é faixa preta de jiu-jitsu, conhece um certo wrestling e um
certo muai-thai, boxeia tão bem, a ponto de pensar em disputar lutas
profissionais nessa modalidade. Overeem é excelente no muai thai, tem
experiência de ringue e de octógono, brilhou no K-1 japonês (só trocação) e
melhorou no jogo de chão, sem ser nenhum especialista.
Claro
que em se tratando de dois pesos pesados, pode dar qualquer resultado. Um soco
bem encaixado nocauteia mesmo. É luta, aliás, para terminar antes dos cinco
rounds previstos. Mas a lógica prognostica a favor de Cigano, que deve manter
seu título, à espera de novo desafiante, quem sabe concedendo a revanche a Cain
Velásquez, quem sabe, se Dana White quiser promover um lutaço, enfrentando Jon
Jones que, normalmente, pesa 118 quilos, pesa 93 na véspera das lutas e sobe ao
octógono já comuns 106 ou 108.
Considero
um despropósito deixarem um homem com aquele tamanho e aquela força, com 2,14 m
de envergadura – um verdadeiro condor brasileiro que tem um metro de altura e
2,15 m de asas abertas – lutar contra meio pesados autênticos como Lyoto,
Shogun e outros tais. A praia de Jon Jones deveria ser a dos pesados,
competindo com Cigano, Overeem, Minotauro, Frank Mir, James Carwin e Brock
Lesnar. Nada de fazê-lo lutar com um Anderson Silva de 36 anos e bem mais leve.
Assim como é negativo fazer George Saint Pierre encarar Anderson. Anderson muito
dificilmente se criaria diante de Jones e GSP não teria grandes chances frente
a Anderson.
Pelo
que parece, Jones vai varrer a categoria dos meio pesados e o jeito vai ser
jogá-lo na de cima, onde ele poderá brilhar, porém onde não passeará. MMA,
afinal, não é Disneylândia.
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