RIO DE JANEIRO - O economista Persio Arida, um dos
pais do Real, e o cientista político americano Francis Fukuyama defendem o
liberalismo, que privilegia a liberdade à igualdade substantiva. Cabe ao Estado
zelar pelos direitos individuais, com intervenção limitada no mercado.
No entanto, em entrevistas à Folha nesta semana os dois divergiram no diagnóstico da crise provocada pelo estouro da bolha de crédito nos EUA. Com isso, prescreveram políticas diferentes.
À Folha, e em artigo na revista "Foreign
Affairs", Fukuyama disse que preceitos liberais viraram dogmas e devem ser
matizados. Em vez de gerar maior eficácia na alocação de recursos, a
desregulamentação financeira e a redução de impostos ajudaram a promover sua
concentração.
Para ele, a estagnação da renda média dos americanos e o aumento da desigualdade causaram a bolha. O subsídio às hipotecas para pobres "tornou-se uma forma perigosa de redistribuição" (nos EUA, o valor da casa, mesmo sem sua compra quitada, pode ser usado para obter crédito).
Já Arida disse a Eleonora de Lucena que a causa da bolha foi a oferta de dinheiro: "As pessoas sempre têm limitação de renda. O sistema hipotecário americano as induz a se endividarem". Afirmou que não eram as leis bancárias dos EUA que estavam erradas. "Houve desregulamentação sem consentimento do regulador."
Para Arida, o aumento do mínimo acima da inflação, como no Brasil, distorce o mercado e causa inflação. A melhor distribuição, disse, é pela ajuda direta aos mais pobres e a queda dos juros, só viável com redução dos gastos públicos. Ele sugeriu o desenvolvimento de um sistema de hipotecas aqui.
É possível que as diferenças sejam questão de
medida e contexto. Mas a crise embaralhou teorias e práticas e,
independentemente do ideal de sociedade, invalidou as cartilhas para alcançá-lo.
Cláudia Antunes, jornalista
carioca, formada em jornalismo pela UFRJ, está no jornal Folha de São Paulo
desde 2000. Foi coordenadora de redação da Sucursal deo Rio de Janeiro
(2000/2005), editora de “Mundo” (2006/2009) e atualmente é repórter especial do
jornal. Antes trabalhou por 13 anos no “Jornal do Brasil”, onde foi editora de “Internacional”.
Entre 2005 e 2006, foi bolsista da Fundação Nieman para o Jornalismo, na
Universidade Harvard.
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