Do Blog do Noblat
CPMF - O governo perdeu para ele mesmo ( 12/12/2007)
Houve um momento, ali pelo meio da tarde de ontem, que
apenas seis dos 13 senadores do PSDB permaneciam dispostos a votar contra a
prorrogação da cobrança da CPMF até 2011.
Não fosse pela teimosia do líder Arthur Virgílio (AM), o
PSDB teria votado em peso com o governo. E se votasse, parte do DEM também
votaria. E alguns dos dissidentes da base do governo abdicariam de sua condição
de dissidentes.
- Sabe o que é um castelo de cartas? - perguntou-me José
Agripino Maia (RN), líder do DEM no Senado, no início da manhã de ontem.
"Pois é: se você tirar uma carta, o castelo desaba. Estamos assim".
Valeu-se da mesma imagem o deputado Rodrigo Maia (RJ),
presidente do DEM, em conversa com um amigo na noite da última segunda-feira.
O fim da CPMF, marcado para o próximo dia 31, foi a mais
retumbante derrota colhida pelo governo desde que Lula subiu a rampa do Palácio
do Planalto pela primeira vez na manhã do dia primeiro de janeiro de 2003. Com
rigor, foi a única derrota expressiva.
Ao fim e ao cabo, o governo perdeu para si mesmo - para sua
arrogância, sua falta de articulação política e sua pretensão de ganhar sem
ceder nada ou muito pouco.
O governo conta com o apoio de 14 partidos. Que no Senado
dispõem de 53 votos. Precisava de 49 para vencer. Conseguiu 45, apesar do
empenho de todos, rigorosamente todos os governadores.
Seria o caso de se dizer que nunca antes neste país...
Quando anteviu o desastre, tentou fazer em poucas horas o
que deveria ter feito há muito tempo - acertar-se com os partidos de sua base e
com os da oposição. Não teria sido difícil.
Mas não: procedeu com a desenvoltura de uma tartaruga. E com
o excesso de boas maneiras de um macaco.
O que levou Lula a se oferecer para tomar café da manhã com
o governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal? E a atravessar
Brasília de uma ponta à outra para ir ao encontro dele?
Poderia ter chamado Arruda para tomar café no Palácio da
Alvorada. Assim pediria o ritual do cargo. Por meio de um interlocutor comum,
poderia ter avaliado antes se Arruda de fato teria como ajudá-lo. Não tinha.
Bateu na porta errada.
Quem convenceu Lula da vantagem de despachar uma carta ao
presidente do Senado quase no fim da sessão de ontem para avalizar outra,
assinada pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, onde eles
prometiam mais recursos para a Saúde?
Quem duvidaria da palavra dos dois ministros, sendo um deles
dono da senha do cofre?
Pois o Senado ignorou as duas cartas.
Presidente da República só deve entrar em campo para bater
pênalti. E de preferência contra uma meta sem goleiro. Lula entrou em campo e
chutou a bola nas mãos de Virgílio.
Apesar dos erros, é justo reconhecer que o governo só perdeu
porque teve pela frente um senador obstinado como o líder do PSDB.
Sozinho, ele valeu mais do que todos os governadores do PSDB
- afinal derrotados tanto quanto Lula.
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