FOLHA DE SP / EDITORIAL / Concessões petistas - 20/02/12
CONCESSÕES PETISTAS
Entrou para o folclore político mundial
a resposta de Bill Clinton às suspeitas de que teria fumado maconha em sua
época de estudante. "Fumei, mas não traguei", declarou o candidato
democrata à Casa Branca, em 1992.
Fórmula análoga tem sido utilizada por petistas na tentativa de conciliar a transferência da operação de aeroportos para a iniciativa privada, promovida pelo governo federal, com o discurso contrário às privatizações que a agremiação sustentou, de forma agressiva, nas últimas campanhas presidenciais.
Segundo essa versão, concessões nada teriam a ver com privatizações,
pois o Estado, no caso, não vende propriedades para consórcios privados, apenas
as arrenda. Mediante pagamento à União, grupos capitalistas podem explorar os
aeroportos e obter lucros, mas não se tornam proprietários.
O contorcionismo tem seu fundamento, pois concessões são uma modalidade
de desestatização pela qual o poder público outorga à iniciativa privada,
geralmente por décadas e de forma renovável, o direito de explorar um
serviço.
Para efeitos práticos, equivale a uma
privatização. Seria de perguntar-se, aliás, como a militância do PT reagiria a
essas operações caso tivessem sido obra de um eventual presidente tucano.
Estaria empenhada em demonstrar que não houve privatização ou, ao contrário, se
apressaria em denunciar mais uma "privataria"?
Basta observar como os petistas tratam as concessões de rodovias ou as organizações sociais que administram serviços como os de saúde em São Paulo para encontrar a resposta.
Na realidade, as concessões petistas -em todos os sentidos do termo-
datam do tempo em que a sigla começou a trocar a agitação oposicionista pela
sombra dos palácios governamentais. Não é demais lembrar que, ainda em meados
da década de 1990, Antonio Palocci, então prefeito de Ribeirão Preto, transferiu
a exploração de serviços de saneamento para a iniciativa privada.
O marco simbólico desse deslocamento do partido em direção a concepções
centristas -quando não ortodoxas- na área econômica veio em 2002, com a
"Carta ao Povo Brasileiro" lançada pelo então candidato Luiz Inácio
Lula da Silva para tranquilizar os mercados.
Desde então, o lulismo converteu-se ao pragmatismo social-democrata,
posição próxima à dos adversários tucanos, dos quais difere por questão de
graus.
A metamorfose, diga-se, não se verifica apenas no plano da economia. A conversão também tornou-se norma em outros temas polêmicos, como o aborto. Ela dá margem até para endurecer com grevistas, como se viu na Bahia.
A metamorfose, diga-se, não se verifica apenas no plano da economia. A conversão também tornou-se norma em outros temas polêmicos, como o aborto. Ela dá margem até para endurecer com grevistas, como se viu na Bahia.
É compreensível que essa evolução
consterne os redutos históricos do PT, onde ainda se acredita em duendes
socialistas. São esses que, convidados a fumar o cachimbo governista, preferem,
como Clinton, dizer que não tragam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário