BRASILEIRO PREFERE IGUALDADE
SOCIAL A CRESCIMENTO VIGOROSO
Por Samuel Pessoa
A economia teve expansão de 7,5% em 2010, após
recuar 0,3% no ano anterior. Na média, cresceu por volta de 3,5% em dois anos.
No biênio 2011-2012, provavelmente também crescerá nessa faixa.
Assim, os fatos indicam que o potencial de
crescimento da economia hoje é 3,5%.
Os 4,5% do segundo mandato do governo Lula
corresponderam a uma janela de oportunidade, favorecida pelo cenário externo,
que não se repetirá se não pensarmos em medidas que aumentem esse potencial.
Questão: é bom ou ruim crescer 3,5%? Os economistas
não têm instrumentos para responder essa pergunta.
A elevação da taxa de crescimento requer cortar
alguns gastos (como, por exemplo rever a política de valorização do salário
mínimo que tem forte impacto sobre as despesas previdenciárias) de forma a
elevar a poupança e o investimento. Requer também melhorar a governança e a
eficiência dos serviços públicos.
Essas mudanças acarretam custos no presente para
grupos da sociedade. Os benefícios, em geral, são auferidos por todos na forma
de maiores taxas de crescimento da economia no futuro.
A sociedade nas últimas décadas tem se posicionado
a favor de políticas que visem a igualdade -o que explica o enorme crescimento
da carga tributária e das transferências públicas de renda. O crescimento,
portanto, tem sido variável residual.
PRÓ-TRANSFERÊNCIA
A sociedade não tem sido pró-crescimento, mas sim
pró-transferência. O Congresso Nacional assim tem decidido em função das
preferências médias da sociedade.
Portanto, dada a avaliação de que nossa democracia
funciona bem- isto é, os deputados e senadores decidem em função das
preferências de seus eleitores-, parece que o crescimento potencial de 3,5% é
bom.
É bom porque a sociedade assim deseja, e não há
nada na teoria econômica que possa julgar essa escolha como sendo ruim.
Será que este padrão de escolha de nossa sociedade
mudará? No futuro -mais para 2018 do que 2014-, a sociedade será mais
pró-crescimento.
Se essa avaliação estiver correta, neste momento,
aparecerão políticos defendendo plataforma que imponha maiores custos no
presente para auferirmos maiores taxas de crescimento no futuro e, portanto,
maiores níveis de renda para a população.
A classe C será o motor desta alteração na economia
política. Após melhorar de renda e conseguir equipar uma casa e adquirir o
carro, ela passará a cobrar melhora na infraestrutura urbana e nos serviços
públicos de educação e saúde.
Também pedirá, provavelmente, a redução da carga
tributária e a aceleração do crescimento para que o mercado de trabalho melhore
para seus filhos.
A partir deste momento os
políticos tomarão as medidas necessárias para que a taxa de crescimento se
acelere.
Folha de São Paulo, 01.01.2012 / Primeiro Caderno / Análise e Perspectivas / SAMUEL PESSOA
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