JUSTIÇAMENTOS
DOS COMUNISTAS NO ESTADO NOVO
Contam-se
aos milhões os casos mundialmente conhecidos da violência comunista contra a
pessoa humana, escudada num estranho valor moral que privilegia a revolução
proletária em relação ao indivíduo, os fins justificando os meios.
No
Brasil, fanatizados pela mesma ideologia e animados pelos mesmos propósitos
indecifráveis que os conduziram à Intentona de 1935, os comunistas deram
seguidas demonstrações de inaudita violência, ao perpetrarem crimes, com
requintes de perversidade, para eliminar, não só seus "inimigos", as
forças policiais, mas seus próprios companheiros.
O
"Tribunal Vermelho", criado para julgar, sumariamente, todos aqueles
que lhes inspiravam suspeitas e receios, arvorava-se em juiz e executor,
fornecendo, ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), um espectro trágico e
patético.
Pelos
casos conhecidos, pode-se inferir, também, que dezenas de outros crimes foram
cometidos pelos comunistas, sem que houvessem vindo a público, escondidos pela
"eficiência do trabalho executado".
Os
casos a seguir relatados mostram, de um modo pálido, mas irretorquível, essa
violência levada aos limites do absurdo.
As
famílias das vítimas não tiveram, como ainda não os têm, o reconhecimento e o
amparo da sociedade.
Aos
assassinados, cabe a afirmação de Merleau-Ponty:
"Admitir-se-á
talvez que eles eram indivíduos e sabiam o que é a liberdade. Não espantará se,
tendo que falar do comunismo, nós tentamos vislumbrar, através nuvem e noite,
estes rostos que se apagaram da terra." (Idem, página 32).
-
BERNARDINO PINTO DE ALMEIDA
Em
1935, ainda antes da Intentona, Honório de Freitas Guimarães
("Milionário"), membro do CC/PCB, denunciou Bernardino Pinto de
Almeida, vulgo "Dino Padeiro", de traição.
O
"Tribunal Vermelho", cioso de suas atribuições, julgou-o culpado e
perigoso para a ação armada que se avizinhava.
O
próprio Secretário-Geral do Partido, Antonio Maciel Bonfim, o
"Miranda", decidiu executá-lo, com o auxílio de seu cunhado, Luiz
Cupelo Colônio.
"Dino
Padeiro", deslumbrado com a possibilidade de encontrar-se com o número um
do Partido, foi atraído para um local ermo, próximo à então estação de Triagem
da Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
Fora
das vistas, "Miranda" desfechou-lhe uma coronhada e, em seguida, dois
tiros de revólver. Tendo a arma enguiçado, tomou a de Cupelo e desfechou-lhe
mais dois tiros, para ter a certeza da morte.
Entretanto,
por incrível que pareça, "Dino" sobreviveu e, socorrido por
funcionários da ferrovia, pôde contar sobre a tentativa de crime.
Ironicamente,
o destino deu voltas.
Mais
tarde, Cupelo sentiria, em sua própria família, o peso da violência.
-
AFONSO JOSÉ DOS SANTOS
Em
2 de dezembro de 1935, com os militantes do PCB entrando na clandestinidade
pela derrota da Intentona, o "Tribunal Vermelho" julgou e condenou à
morte Afonso José dos Santos.
A
vítima foi delatada por José Emídio dos Santos, membro do Comitê Estadual do
PCB no Rio de Janeiro, que recebeu o encargo da execução.
Três
dias depois do "julgamento", José Emídio cometia o assassinato, na
garagem da Prefeitura de Niterói.
Impronunciado por falta de provas, só em 1941 o crime foi esclarecido.
-
MARIA SILVEIRA
Elisiário
Alves Barbosa, militante do PCB, quando estava na clandestinidade em São
Carlos, cidade do interior paulista, apaixonou-se pela também militante Maria
Silveira, conhecida como "Neli".
Indo
para o Rio de janeiro, o próprio Elisiário, após algum tempo de militância,
acusou "Neli" de não mais merecer a confiança do Partido.
O
"Tribunal Vermelho" condenou-a à morte.
Planejado
o crime, os militantes Ricarte Sarrun, Antonio Vitor da Cruz e Antonio Azevedo
Costa levaram-na, em 6 de novembro de 1940, até à Ponte do Diabo, na Estrada do
Redentor, na Floresta da Tijuca.
No transporte, usaram o táxi dirigido por Domingos Antunes Azevedo, conhecido
por "Paulista".
Logo
ao chegar, "Neli" foi atirada da Ponte do Diabo por Diocesano
Martins, que esperava no local. Mas, havia a possibilidade de que ela não
morresse na queda. Para certificar-se da morte, Daniel da Silva Valença
aguardava no fundo do abismo.
"Neli",
entretanto, já chegou morta. Foi esquartejada por Valença, que procurou
torná-la irreconhecível a fim de dificultar a identificação e apagar possíveis
pistas.
-
DOMINGOS ANTUNES AZEVEDO
Dois
meses depois, os assassinos de "Neli" estavam preocupados com a
possível descoberta do crime.
Em
20 de janeiro de 1941, reunidos, verificaram que o ponto fraco era o motorista
do táxi, Domingos Antunes Azevedo.
Decidiram
eliminá-lo.
Antonio
Vitor da Cruz e Antonio Azevedo Costa, "amigos" do motorista,
atrairam-no para um passeio na Estrada da Tijuca. Foram também, Diocesano
Martins e Daniel da Silva Valença, este sentado ao lado do motorista.
Num local em que o táxi andava bem devagar, Diocesano desfechou três tiros na
vítima, que tombou de bruços sobre o volante.
Valença
freiou o carro e o cadáver foi atirado à margem da estrada.
Segundo
eles, os assassinatos de "Neli" e do "Paulista", em nome do
Partido Comunista, jamais seriam descobertos.
Esses foram alguns dos crimes cometidos pelo PCB, há mais de 60 anos. Mais
tarde, muito mais tarde, esse Partido de Prestes não iria juntar-se às dezenas
de organizações comunistas que defenderiam a sangrenta luta armada como o único
caminho para a tomada do poder.
- ELZA FERNANDES
Elza, que gostava dos serviços caseiros, foi fazer café. Ao retornar, Honório
pediu-lhe que sentasse ao seu lado. Era o sinal convencionado. Os outros quatro
comunistas adentraram à sala e Lira passou-lhe uma corda de 50 centímetros pelo
pescoço, iniciando o estrangulamento. Os demais seguravam a "garota",
que se debatia desesperadamente, tentando salvar-se. Poucos minutos depois, o
corpo de "Elza", com os pés juntos à cabeça, quebrado para que ele
pudesse ser enfiado num saco, foi enterrado nos fundos da casa. Eduardo Ribeiro
Xavier, enojado com o que acabara de presenciar, retorcia-se com crise de
vômitos.
Perpetrara-se o hediondo crime, em nome do Partido Comunista.
Poucos dias depois, em 5 de março, Prestes foi preso em seu esconderijo no
Méier. Ironicamente, iria passar por angústias semelhantes, quando sua mulher,
Olga Benário, foi deportada para a Alemanha nazista.
Alguns anos mais tarde, em 1940, o irmão de "Elza", Luiz Cupelo
Colônio, o mesmo que auxiliara "Miranda" na tentativa de assassinato
do "Dino Padeiro", participou da exumação do cadáver. O bilhete que
escreveu a "Miranda", o amante de sua irmã, retrata alguém que, na
própria dor, percebeu a virulência comunista:
"Rio, 17-4-40"
Meu caro Bonfim
Acabo de assistir à exumação do cadáver de minha irmã Elvira. Reconheci ainda a
sua dentadura e seus cabelos. Soube também da confissão que elementos de
responsabilidade do PCB fizeram na polícia de que haviam assassinado minha irmã
Elvira. Diante disso, renego meu passado revolucionário e encerro as minhas atividades
comunistas.
Do teu sempre amigo, Luiz Cupelo Colônio".